PAÍS EM PEDAÇOS – POR MIRIAM HALFIM

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Não somos um país sério. Decretar calamidade pública às vésperas das Olimpíadas? Estamos em calamidade há tanto tempo.


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Há muitos e muitos anos, li que Maria Betânia não lia jornais. Há algum tempo, li que Lya Luft os lia apenas pela manhã, do contrário passava mal e se deprimia. Teimo em lê-los, ainda. Mas como não reagir diante de tanta loucura política, tanta descoberta diária de um novo malfeito?

Chega a ser cômico – se não fosse trágico e ela mesma afastada (caída) pelo desastre econômico ímpar que produziu no país – ler que Dilma a cada dia se prepara para ver qual ministro interino caiu.

Não somos um país sério. Decretar calamidade pública às vésperas das Olimpíadas? Estamos em calamidade há tanto tempo. Enquanto países de Primeiro Mundo agradecem e rejeitam sediar certames de igual tamanho, o Brasil trouxe para nós – a que preço e sob que promessas ainda não se sabe – Olimpíadas que não temos condições de organizar, seja pela falta de condições para cuidar de nosso povo, que dizer de turistas.

Estamos vivendo tempos estranhos, tempos de crise grave como há muito não se via e, nessas horas, os judeus põem as barbas de molho. Pois não é que lemos no Ancelmo Gois que alegaram terem sido judeus os responsáveis pelo ‘golpe’ em Brasília, a fim de inserir nomes judeus no novo governo? A nota cita três nomes, dos quais apenas um, Ilan Goldfajn é judeu. Um cidadão brilhante, vale dizer.

Os outros dois apenas têm Y e K no sobrenome, o que, para ignorantes, os tornam suspeitos. Lemos, também, que o ISIS, quem diria, é criação de judeus, com a finalidade de terem um ‘ inimigo’ de quem se queixar diante do mundo. E que são os judeus que têm a responsabilidade pelos milhões de refugiados que o terror islâmico enxotou para a Europa, arrancando-os de seus lares; os judeus, dizem os que semeiam ódio, planejam, através dos infelizes refugiados, destruir a Europa.

É de estarrecer como há pessoas que acordam todos os dias para planejar o mal, em vez de pensar em construir e florescer. Praticam a ultrapassada e terrível estratégia de Göebbles: repetir mentiras até transformá-las em verdades.

Não conseguirão, não passarão.

O país em pedaços, arrasado com roubalheira como nunca antes na sua história se viu, o cinema apresenta um filme que vale por uma aula de história ainda pouco estudada – ao menos por aqui.

Para relaxar diante de tanta baixaria, havia um filme imperdível.

‘Na Ventania’ compete com ‘Memórias Secretas’ em termos de beleza de filmagem. ’Na Ventania’ fala da limpeza étnica que Stalin promoveu na Estônia, escravizando e separando famílias, humilhando-as sem limites, desde 1941 até a morte do ditador russo, em 1953. O cinema tem magia técnica ilimitadas, e no caso, o cineasta esloveno escolheu, desde o momento em que as prisões e escravidão começam, manter a câmera em movimento e as personagens estáticas, como num quadro. O resultado é impactante, sobretudo na morte da criança inocente – as crianças não trabalhavam e, logo, não recebiam comida.

A Humanidade faliu.

Monstros como Stalin ainda precisam ter suas maldades contadas com mais clareza. E mesmo Hitler ainda esconde muitos crimes, que emergem quanto mais se cava a História do Holocausto judaico.

A História da Humanidade é, infelizmente, uma longa História de Sangue e Brutalidade, alternada por pequenos pedaços de paz. Que de nosso triste mundo atual, de nosso corrupto país em pedaços, possa emergir um novo tempo, um novo pedaço de paz.

Shalom.

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Miriam Halfim – Dramaturga, escritora, professora e advogada. Membro Titular da Academia Carioca de Letras.

Fonte: Nosso Jornal Rio

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