O MUNDO LAMENTA A MORTE DE SHIMON PERES

“Shimon dedicou sua vida para o renascimento do nosso povo. Foi um visionário que olhou para o futuro. E também um gigante da defesa de Israel, cujas capacidades reforçou em muitos aspectos”, disse o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.


O SENTIMENTO DE ISRAEL APÓS O FALECIMENTO DE PERES – POR HENRIQUE CYMERMAN*
FOTOS E FATOS QUE FALAM POR SI SÓ
LÍDERES MUNDIAIS ESTIVERAM PRESENTES
AS CONDOLÊNCIAS
VIDA QUE NÃO CABE EM UMA BIOGRAFIA


O SENTIMENTO DE ISRAEL APÓS O FALECIMENTO DE PERES – POR HENRIQUE CYMERMAN*

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As primeiras horas do Estado de Israel sem Shimon Peres estão provocando, em todo o país, um sentimento de profunda tristeza e orfandade. Peres é o último grande líder que participou de uma das principais revoluções da Humanidade: fazer com que um povo que estava por três milênios disperso pela face da terra se reunisse em seu antigo territorio e criasse uma nação soberana.

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Shimon Peres, que chegou ao futuro Estado de Israel com apenas 12 anos, nunca deixou de ser um jovem incansável que lutava com um braço para reforçar o Estado judeu e assegurar sua sobrevivencia; e com o outro para conseguir, ainda em nossa geração, o sonho milenário da paz.

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O jornalista Henrique Cymerman e Shimon Peres (Arquivo pessoal)

Tive o privilégio de acompanhá-lo durante longas viagens a Brasil, Argentina e Espanha, além de organizar com ele, cara a cara, eventos históricos como a visita do Papa Francisco a Israel e a posterior “Oração pela Paz” (junho de 2014); um feito sem precedentes que teve lugar no Vaticano, duas semanas depois.

Nos momentos mais difíceis, quando tudo parecia perdido, Shimon nunca desistiu. Ele me chamava pessoalmente, pelo telefone, para organizar cada pequeno detalhe, para tentar resolver cada problema e superar qualquer armadilha.

Recordo momentos de paixão pela vida, de senso de humor, de profunda tristeza, mas nunca de desespero.

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“A insatisfação do povo judeu, nossa inquietação permanente, é o segredo de nosso êxito. Nós somos um povo que, desde a época dos profetas, nunca aceitou a autoridade sem discutir. Até Deus discutia com o povo”, chegou a afirmar o estadista.

No mesmo 13 de setembro em que Shimon sofreu o derrame cerebral que terminaria com a sua vida, falei com ele por telefone – nove horas antes – para comentar que havia estado com o Papa Francisco dias antes e que havia vários projetos educativos em favor da paz.

Sua santidade afirmou que contava conosco para levar esses projetos adiante. Peres se alegrou e me me chamou, no dia seguinte de manhã, para comentar os detalhes. Essa foi a primeira reunião à qual Shimon faltou.

Eu me comprometo a tentar cumprir sua missão e seguir adiante na execução de seus projetos.

Às vezes, eu perguntava a ele: “Shimon, pode ser que vejas a realidade mais rosa do que realmente é?”

E ele respondia: “Tanto otimistas quanto pessimistas, no final das contas, morrem. Mas os otimistas vivem muito melhor. E agora, vamos ao trabalho, não há tempo a perder”.

* Henrique Cymerman é um jornalista, repórter e escritor português que trabalha como correspondente do Médio Oriente para La Vanguardia , Antena 3, SIC e Globo News. Além disso também escreveu o livro “Vozes no Centro do Mundo”.


FOTOS E FATOS QUE FALAM POR SI SÓ

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LÍDERES MUNDIAIS ESTIVERAM PRESENTES

275_fique_-4_17Sandra Rejwan, brasileira residente em Jerusalém, acompanhou o Chanceler
José Serra em sua viagem a Israel.

Chefes de Estado e dignitários de todo o mundo estiveram presentes ao funeral do nono presidente de Israel Shimon Peres, nesta sexta-feira (30). Eles vieram de lugares tão diversos como Togo e México, Áustria e China.

Liderando a delegação dos EUA veio o presidente dos EUA, Barack Obama, o Secretário de Estado John Kerry e o vice-presidente Joe Biden, entre outros. O ex-presidente Bill Clinton chegou mais cedo, na quinta de manhã, e homenageou Peres enquanto seu caixão estava no Knesset. Cerca de 19 senadores e membros da Câmara dos Representantes dos EUA estiveram presentes no funeral.

O Reino Unido enviou uma grande delegação ao funeral, que incluiu: o príncipe de Gales, Secretário de Relações Exteriores Boris Johnson, Presidente do Conselho de Deputados Judeus Efraim Arkush e ex-primeiros-ministros Tony Blair, David Cameron e Gordon Brown.

Os egípcios enviaram o ministro do Exterior Sameh Shoukry, os jordanianos enviaram o Vice-Primeiro-Ministro da Economia Jawad Al-Anani. Os palestinos enviaram uma delegação de quatro membros, incluindo o presidente palestino, Mahmoud Abbas, o principal negociador palestino, Saeb Erekat, o chefe da Inteligência Geral Maj. Gen. Majid Faraj e o ministro de Assuntos Civis Hussein al-Sheikh.

Os antigos e atuais chefes de Estado e de Governo que participaram do funeral de Peres:
Governador-Geral da Austrália Peter Cosgrove
Presidente da Áustria Doris Doris Bures e ex-Presidente Heinz Fischer
Presidente da Bulgária Rosen Plevneliev
Primeiro-ministro canadense Justin Trudeau
Presidente croata Kolinda Grabar-Kitarovi?
Presidente cipriota Nikos Anastasiadis
Primeiro-ministro holandês Mark Rutte
Primeiro-ministro estoniano Taavi Roivas
Primeiro-ministro finlandês Juha Sipilä
O presidente francês, François Hollande e o ex-presidente Nicolas Sarkozy
O presidente alemão Joachim Gauck
Ex-primeiro-ministro grego George Papandreou
Primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán
Primeiro-ministro italiano Matteo Renzi
Presidente ivoiriense Alassane Ouattara Dramanne
Presidente da Letônia Raimonds V?jonis
Presidente da Lituânia Dalia Grybauskaite
Grão-Duque de Luxemburgo Henri
Primeiro-ministro da Macedônia Emil Dimtriev
O presidente mexicano, Enrique Peña Nieto
Primeiro-ministro de Mônaco Serge Telle
O presidente polonês Andrzej Duda
Presidente romeno Klaus Iohannis
Presidente sérvio Tomislav Nikoli?
Primeiro-ministro eslovaco Robert Fico
Presidente esloveno Borut Pahor
Rei espanhol Felipe VI
Primeiro-ministro sueco Stefan Löfven
Presidente da Suíça Johann Schneider-Ammann
Presidente togolês Faure Essozimna Gnassingbe
Presidente ucraniano, Petro Poroshenko

Países como Brasil (Chanceler José Serra), Portugal, Turquia, China, Cingapura, Índia, Austrália e Papua Nova Guiné enviaram altos dignitários para representar os seus líderes no funeral de Shimon Peres.

Também o secretário-geral da OTAN Jens Stolenberg e o Presidente do Conselho Europeu Donald Tusk participaram da cerimônia.


AS CONDOLÊNCIAS

EMBAIXADA DE ISRAEL – FALECE SHIMON PERES, UM DOS FUNDADORES DO ESTADO DE ISRAEL.

275_fique_-4_18Falece Shimon Peres, um dos fundadores do Estado de Israel

Brasília, 28 de Setembro de 2016 – Israel inclina a cabeça e lamenta o falecimento de seu 9º presidente, Shimon Peres, um dos fundadores do Estado de Israel. Com sua sabedoria e visão, o estadista deu uma contribuição incalculável para a formação do país ao longo de sua vida. A história de Shimon Peres representa a história do povo de Israel e a própria história do Estado de Israel, seja como imigrante, seja como alguém que se esforça continuamente pelo progresso.

O ex-presidente foi um grande líder, seu esforço em alcançar a paz e criar uma cooperação regional reflete o espírito de um verdadeiro soldado da paz. Sua vida foi dedicada a ampliar a convergência entre nações. Shimon Peres foi, acima de tudo, um visionário.

Com sua morte, o Estado de Israel lamenta.

Que sua memória seja uma bênção.


PERES FOI O GUERREIRO DA PAZ – POR OSIAS WURMAN

275_fique_-4_19Osias e Suzana Wurman ladeiam Shimon Peres

A vida comunitária me trouxe várias alegrias e uma das maiores foi estar com Shimon Peres, por diversas vezes, em Jerusalém e aqui no Rio de Janeiro. Conheci Peres nas diversas visitas que fez a Adolpho Bloch, com quem trabalhei por 14 anos como diretor e ativista.

Peres amava o Brasil e os brasileiros. Foi grande amigo do governador Leonel Brizola, a quem conheceu nos encontros da Internacional Socialista. Certa vez, Peres visitou o prédio sede da Manchete na Praia do Russel e Adolpho Bloch o recepcionou num almoço em que Brizola compareceu. O primeiro a discursar no evento foi Brizola, chamando a atenção do convidado para os novos integrantes de seu partido, o PDT. “Peres, veja quantos jovens, mulheres e negros temos agora em nosso partido”, disse Brizola em seu discurso.

Após agradecer ao anfitrião pelo belo evento promovido em sua homenagem, Peres dirigiu-se a Brizola e comentou: “Governador e amigo Leonel Brizola. Realmente, vejo nos quadros de seu partido um grande número de jovens, também a grande quantidade de mulheres aqui presentes, mas não consigo distinguir a diferença entre brancos e negros de seu partido”.

O pronunciamento de Peres foi interrompido por uma estridente salva de palmas dos presentes que lotavam o restaurante panorâmico da Bloch Editores, a maioria de jornalistas e funcionários da TV Manchete.

Assim era Peres, sabia como pregar a igualdade das minorias com um senso inigualável de delicadeza e justiça.

Em 2002, um mês antes de minha eleição para presidente da FIERJ, ocasião em que vieram votar 4.200 judeus fluminenses em pleito de chapa única, fui com minha esposa Suzana a Israel para uma audiencia privada com o então Chanceler de Israel Shimon Peres. Nesta época, o Estado de Israel estava numa séria crise financeira provocada pela Intifada e suas corruptelas.

Peres nos ouviu atentamente, quando pleiteamos a cessão em comodato do imóvel em Copacabana, doado pela comunidade para o então Consulado Geral de Israel no RJ, para que fosse usado pela FIERJ como sede.

Peres ouviu meus argumentos para que não fechasse o imóvel e dirigiu-se ao diretor-geral do ministério, embaixador Pinchas Aviv, dizendo: “Pinchas, eu concordo com o Wurman. Mande fazer o comodato.”

Até hoje, temos a sede da entidade maior da comunidade instalada em espaço nobre e seguro de Copacabana, graças a Shimon Peres.

Após terminar meus dois mandatos (4 anos) como presidente da FIERJ, seis anos como vice-presidente da CONIB e muitas décadas de dedicação ao judaísmo e sionismo, fui honrado pela escolha de uma junta de embaixadores em Jerusalém para ser o primeiro cônsul honorário de Israel no Estado do Rio de Janeiro, em mais de 60 anos da criação do Estado Judeu.

Minha nomeação é o documento que guardo com o maior carinho em minha coleção de honrarias que recebi por meu trabalho comunitário. O motivo é que o decreto de nomeação veio assinado por Shimon Peres.

Em novembro de 2009, ano em que iniciei meus trabalhos no consulado honorário do Rio, tive a grande honra de recepcioná-lo em visita ao nosso Estado.


VOZ DE MODERAÇÃO DE PERES FARÁ FALTA EM UM MUNDO CADA VEZ MAIS INTOLERANTE, DIZ PRESIDENTE DA CONIB

275_fique_-4_20Embaixadora Maria Luisa Berenguer, pastor Everaldo Pereira; Salim Schahin, ex-presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira; Michel Temer, Shimon Peres, Claudio Lottenberg e Fernando Lottenberg, nas comemorações dos 90 anos de Peres, em 2013. Foto: Noam Sharon.

O eterno presidente de Israel, Shimon Peres, faleceu na madrugada da quarta-feira, 28 (hora local) aos 93 anos.

“Foi-se o último dos pais fundadores de Israel. Um gigante. Sua voz de moderação fará falta em um mundo cada vez mais radicalizado e intolerante”, declarou o presidente da Conib, Fernando Lottenberg. Ele e o então vice-presidente Michel Temer estiveram em Israel para as comemorações do 90º aniversário de Peres, em 2013.


O ITAMARATY PUBLICOU A SEGUINTE NOTA, ASSINADA PELO CHANCELER JOSÉ SERRA:

“Foi com imenso pesar que recebi na noite de ontem a notícia da morte de Shimon Peres. Ministro, primeiro-ministro e presidente de Israel, Peres foi um estadista que, como disse quando o recebi em São Paulo, em 2009, personificou a história de seu país. Atuante na política desde antes da fundação do Estado de Israel, sempre acreditou na democracia e no diálogo como o caminho para a solução dos problemas nacionais e internacionais. Foi a personificação da busca pela paz, em Israel e no mundo.

Defensor incansável do Estado de Israel, o presidente Peres nunca desistiu de procurar a paz entre seu país e os vizinhos árabes. Ao lado de Yitzhak Rabin, negociou com Yasser Arafat os Acordos de Oslo, que deram aos três o Prêmio Nobel da Paz de 1994. Como primeiro-ministro e presidente, sempre procurou uma solução para o conflito entre israelenses e palestinos que assegurasse a existência de dois Estados, vivendo lado-a-lado em paz e segurança.

Neste momento de tristeza, transmito a todos os israelenses meus sentimentos pela morte deste que foi um dos grandes estadistas das últimas décadas”.

NO MUNDO

“Shimon dedicou sua vida para o renascimento do nosso povo. Foi um visionário que olhou para o futuro. E também um gigante da defesa de Israel, cujas capacidades reforçou em muitos aspectos”, disse o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

O presidente do Congresso Judaico Mundial, Ronald Lauder, falou sobre o legado do grande líder:

“Peres sintetizou as muitas realizações de Israel ao longo das últimos sete décadas. Encarnou o sonho sionista, ajudou a construir um estado livre, seguro e próspero na antiga terra do povo judeu.

Sua vida foi dedicada a tornar o projeto sionista um sucesso. Ele não apenas falou de paz, como trabalhou para que ela se tornasse uma realidade, ainda durante sua vida. Sabia que era possível.

Também sabia que Israel não seria salvo pela força militar ou pela diplomacia ou pela força econômica, mas apenas pela combinação de todas as três. Buscou armas para defender o Estado incipiente, na década de 1950, criou alianças diplomáticas que foram cruciais para a posição de Israel no mundo, e ajudou a trazer ao país algumas das tecnologias mais inovadoras.

Aos 90 anos, mantinha enorme curiosidade pelos temas de ciência, pesquisa e desenvolvimento humano. Estava sempre muito bem-informado e tinha uma visão ampla das coisas”.

VIDA QUE NÃO CABE EM UMA BIOGRAFIA

Shimon Peres, 93 anos de idade; Israel, 68. Peres não apenas viu o Estado de Israel nascer, como foi um de seus parteiros. O eterno presidente de Israel nasceu em 1923 na cidade de Wieniawa, na Polônia (atual Vishniev, Bielorrússia).

Seus pais, Yitzhak, um rico comerciante de madeira, e Sarah, bibliotecária, apoiavam o Movimento Sionista e, em 1934, emigraram para a região da Palestina, fugindo do forte antissemitismo na Europa Central. Os avós e um tio de Shimon ficaram na Polônia e acabaram sendo mortos no Holocausto.

Shimon estudou em um colégio agrícola. Lá se uniu, aos 15 anos de idade, à organização militar Haganá, para defender as comunidades judaicas recém-criadas de ataques árabes. Fundada em 1920, a organização foi responsável pela defesa dos judeus na Palestina até a fundação do Estado do Israel e representou o embrião de seu futuro exército. Haganá, em hebraico, significa defesa.

Aos 20 anos, Peres foi eleito secretário-geral do Movimento Juvenil Socialista Sionista, e se aproximou de David Ben-Gurion, político mais influente do país e líder que conduziu o processo de criação do Estado de Israel. Peres se tornou um dos seus mais aplicados discípulos.

Nessa época, durante a Segunda Guerra Mundial, o pai de Shimon se voluntariou para lutar ao lado dos ingleses. Foi capturado pelos alemães, mas conseguiu escapar. Recapturado, foi sentenciado à morte, mas salvo de última hora por um padre australiano. Recebeu uma medalha de Sua Majestade por sua coragem.

Em 1945, Shimon casou com Sonya Gelman, com quem viveu até 2011, quando ela faleceu. Juntos tiveram três filhos.

Em 1947, ele organizou, dentro da Haganá, a divisão de armas e de pessoal. Em 1953, foi nomeado por Ben-Gurion diretor-geral do Ministério da Defesa, a pessoa mais jovem a assumir o cargo, que manteve até 1959. Nesse período, foi fundamental na aproximação entre Israel e França, para absorção da tecnologia nuclear, e ajudou a criar a indústria aeronáutica do país. Fortaleceu laços com França, Alemanha e Reino Unido, contribuindo para a segurança de Israel.

A partir de 1959, começou uma carreira em que acumulou cinco décadas de serviço como membro do Parlamento Israelense – o Knesset, um recorde.

Em 1968, foi fundamental na reaproximação de correntes políticas de centro-esquerda, que fundaram o Partido Trabalhista. De 1969 a 1977, ocupou diversos cargos ministeriais.

Foi o responsável pela recuperação da Força de Defesa israelense após a Guerra de Iom Kipur, em 1973, e supervisionou a retirada das forças israelenses na frente egípcia, visando a um acordo de paz entre Egito e Israel.

Em 1976, como ministro da Defesa do governo Rabin, foi diretamente responsável pela ação de resgate de passageiros de um voo da Air France sequestrado por terroristas palestinos e levado ao aeroporto de Entebbe, em Uganda. Peres foi um dos poucos no gabinete que acreditou desde o princípio na ação. Além do incentivo, ajudou na organização do voo para o resgate e resistiu até o último minuto às demandas dos terroristas, alegando que deveria haver outra forma de salvar os reféns.

Com a vitória do Likud nas eleições gerais de 1977, Peres assumiu o comando do Partido Trabalhista, cargo em que ficou até 1992. Nesse período, também foi eleito vice-presidente da Internacional Socialista.

Nas eleições de 1984, após a renúncia de Begin, foi formado o governo de União Nacional, quando Likud e trabalhistas fecharam acordo para um rodízio nos cargos-chave do governo. Peres foi premiê de 1984 a 1986.

Nesse período, promoveu a retirada parcial do Exército israelense para uma estreita faixa territorial no sul do Líbano, que ficou conhecida como “zona de segurança”. Também foi responsável por um importante plano econômico, que reduziu a inflação israelense.

Em 1992, perdeu a liderança do trabalhismo para seu principal rival dentro do partido, Yitzhak Rabin. Os trabalhistas venceram as eleições gerais, e Peres ficou com o cargo de ministro das Relações Exteriores. Foi o arquiteto dos acordos de Oslo, que resultaram no início do processo de paz com os palestinos, assinado em 1993, em Washington. Um ano depois, ao lado de Rabin e Yasser Arafat, recebeu o prêmio Nobel da Paz, por seu “esforço para criar a paz no Oriente Médio”.

Ao longo de 40 anos, Shimon Peres e Yitzhak Rabin tiveram uma relação conturbada. Apesar da grande rivalidade entre ambos, participaram juntos de grandes conquistas para Israel.

Peres desenvolveu uma relação secreta com o rei Hussein da Jordânia, o que levou ao Tratado de Paz entre os dois países, em 1994. Posteriormente, se esforçou para promover as relações com países árabes no Norte da África e no Golfo Pérsico.

Em novembro de 1995, com o assassinato de Rabin, assumiu o cargo de primeiro-ministro e ministro da Defesa. Nas eleições do ano seguinte, foi derrotado por Binyamin Netanyahu e deixou o comando do partido.

Em 1996, criou o Centro Peres pela Paz, uma organização não partidária, não governamental, cuja missão é ajudar a construir uma infraestrutura para a paz no Oriente Médio, promovendo o desenvolvimento socioeconômico, a cooperação e a compreensão mútua, em cooperação com parceiros árabes e israelenses no âmbito da economia, cultura, educação, saúde, agricultura e mídia.

Após a morte de Rabin, Bill Clinton, presidente dos Estados Unidos, foi taxativo: “Peres precisa ser eleito [em 1996] para o processo de paz sobreviver”. Os dois firmaram uma forte parceria momentos antes das eleições, discutindo questões como economia, segurança e paz no Oriente Médio.

A partir de seus encontros, acordos como o “US-Israel Counter-Terrorism Cooperation Accord”, que estabelecia medidas práticas para que ambos os países fizessem o melhor uso possível de seus recursos, capacidades e habilidades na guerra contra o terror, foram assinados. Além disso, fortaleceu-se também o apoio norte-americano ao Estado Judeu, como forma de garantir que Israel conseguisse se defender contra qualquer adversário. Entretanto, Peres foi derrotado por Netanyahu.

No ano 2000, o governo trabalhista de Barak propôs um acordo de paz em Camp David, que foi recusado por Yasser Arafat, líder palestino. Peres era Ministro da Cooperação Regional do governo Barak.

Em 2001, um ano após o início da Segunda Intifada, Peres, já ministro das Relações Exteriores do governo Sharon, tentou em vão encontrar-se com Arafat, para acabar com os ataques terroristas.

Em 2005, anunciou sua saída do trabalhismo e, ao lado de Ariel Sharon, fundou o partido Kadima (“Adiante”, em hebraico). Neste ano, Israel se retirou unilateralmente da Faixa de Gaza. Em junho de 2007, foi eleito pelo Knesset o nono presidente da história de Israel.

Neste cargo, Peres visitou o Brasil em 2009. E ficou incomodado com a tendência pró-palestina do governo brasileiro. Mostrou-se irritado pelo que chamou de “falta de seriedade” do então presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, quando questionado sobre as votações do Brasil na ONU em relação a Israel. Em 2010, Lula tornou-se o primeiro presidente do Brasil a visitar oficialmente Israel.

Em 2014, Peres recebeu Fernando Henrique Cardoso em Jerusalém. Conversaram sobre a situação socioeconômica brasileira, além de discutirem a paz no Oriente Médio, questão em que ambos partilhavam a mesma opinião: o melhor meio de se alcançar a paz é sem o uso da violência.

Seu Centro Peres para a Paz virou parada obrigatória políticos, artistas, atletas, celebridades. “Todos passaram por lá para beijar a mão de Peres. Sem isso, a visita a Israel não estaria completa”, como escreveu na Rua Judaica a jornalista Daniela Kresch, brasileira radicada em Israel. Ela completou: “Ele é um ícone dentro e fora de Israel, alguém que aprendeu a falar a língua da paz e a pregá-la numa região que quase nunca segue este ensinamento. Sempre acreditou num novo Oriente Médio, de cooperação e de amizade entre os povos. Se realmente se for, irá antes de presenciar sua visão. Se realmente se for, nunca realmente irá. Peres é imortal”.

275_fique_-4_21Com o papa Francisco. Foto: Miriam Alster/Flash90.

275_fique_-4_22Com Barack Obama. Foto: MFA/Israel.

275_fique_-4_23Com Angela Merkel. Foto: MFA/Israel.

275_fique_-4_24Com François Hollande. Foto: MFA/Israel.

275_fique_-4_25Com Bill Clinton. Foto: MFA/Israel.