QUE PRETENDE A ECONOMIA POSITIVA, SEGUNDO JACQUES ATTALI E SEUS AMIGOS – POR JAYME VITA ROSO

285_especial_4_1A razão de ser da Economia Positiva é sobrepujar a miséria transcendente e amarga, sobretudo porque ela cresce em espiral com as migrações maciças para a Europa.


285_especial_4_2Jacques Attali

É um privilégio, para quem esteja fora do circuito do mercado, mas dele não se distancia, por probidade intelectual, acompanhar o trajeto que Jacques Attali está percorrendo, em favor de uma “economia positiva”. Ele é um incansável batalhador, para que a economia saia de configurações algorítmicas e passe a ser arauto de uma era, que mostra a urgência de mensurar outra coisa que não seja somente a riqueza ou nível de produção, “para se dar uma oportunidade de responder aos desafios que assaltam o mundo.

285_especial_4_3Theatre de L´Hotel de Ville, local onde foi realizado o Fórum da Economia Positiva

Pausar a longo termo, passar todas as decisões dos grandes atos públicos ou privados no prisma das gerações futuras, trabalhar para a melhoria de qualidade de vida, do trabalho ou à felicidade coletiva, tanto as preocupações que não nos deixam mais sorrir. É o correto, não fossemos ainda dos trabalhos práticos, mas a dinâmica começa a tomar corpo na economia real” (J-P. GO, Le Monde, 14/09/16, sobre o Fórum da Economia Positiva, p. 8).

Bom, não é mais o sonho daquele estudante, recém-formado, em 1973, (Jacques Attali) que então escreveu “L’anti-écononomique”. Mas, após uma carreira brilhantíssima e ter ocupado postos relevantes na administração da França, o judeu reconhecido por sua atuação em prol da comunidade, além de poliédrico autor de mais distintos títulos, ele não se esgota em ver um mundo melhor, sem desigualdades sociais violentas, que se reproduzem com uma velocidade vertiginosa.

Fixemos: a razão de ser da Economia Positiva é sobrepujar a miséria transcendente e amarga, sobretudo porque ela cresce em espiral com as migrações maciças para a Europa. Em particular, mostraram a debilidade dos países da OCDE, enquanto a Europa do Norte segue avançando, apesar dos percalços.

285_especial_4_4Salman Rushdie

No Fórum da Economia Positiva, fundado por Attali, que teve a presença de personagens míticas do mundo contemporâneo e que ocorreu entre 13 e 17 de setembro de 2016, na cidade portuária de Havre (França), compareceu Julian Olsm (defensora de jovens americanos de 8 a 19 anos que processam o governo americano e a diversas agencias, em razão de que eles, em complô, sem distinção, sem máscara, aprovam o desregramento climático, violando seus direitos de viver); enquanto o polêmico Salman Rushdie abordou o verdadeiro obscurantismo que assola o mundo.

285_especial_4_5Christian Lacroix

Teve até o figurinista Christian Lacroix , que depois de 10 anos, voltou às passarelas, com uma coleção realizada com tecidos criados por uma empresa de inserção social e desenhadas por alunos de uma escola primária do mesmo local do Fórum e, ainda, dois Prêmios Nobel de Economia: Joseph Stiglitz e Angus Deanton.

Bem, a que serviu tratar o Fórum, que teve inclusive momento de pausa para meditar, com Coco Brac, em plena consciência?

O eclético encontro aprofundou o tema “crise contemporânea”, mas atomizou-se no ponto nodal: o bem-estar das gerações futuras (tema favorito de Stiglitz).

Parece ridículo, mas a temática que misturou dados estatísticos com opiniões cientificas, mas sempre subjetivas, mostrou-se decepcionante com a falta de transparência generalizada na França, desde as empresas governamentais, passando e repousando nas privadas (subjugadas pelo mercado financeiro) e, mesmo surpreendendo, a população em geral. A meu ver, – isso não foi abordado -, o encantamento mórbido, que se entende como ficta transparência, advém do uso maléfico da média, em “gossips”, em que a dignidade humana é vilipendiada, é ignorada.

Os debates continuarão com a lealdade que Attali propõe, mas tudo está definido numa proposição que me parece axiomática: sem investimento público maciço as gerações futuras estarão fadadas à miserabilidade total.

Com a mesma franqueza que o dignifica, Attali sintetizou, no Fórum, que, não havendo diálogo social, encontraremos duas realidades para mudanças essenciais e ideológicas, no bom sentido do termo, sobretudo a exigência de os comportamentos coletivos alterarem, tendo em conta que o bem deve ser o motor; que deve haver mudanças culturais e sociais em companhia de mudanças comportamentais.

Ainda Attali propôs o que, aos tupiniquins, mostra-se óbvio, mas não é, sem investimentos públicos, colocados em sérias, autênticas, verdadeiras e honestas reformas institucionais, será impossível, para que elas conduzam aos investimentos necessários (a construção de Brasília em contraste com estádio, no meio do nada) e isso só será conseguido, se houver decisões mais racionais, resultantes de novas estruturas decisionais.

Por fim, uma utopia nacional: todos deverão estar engajados no bem comum, com o mesmo espírito que fazem no carnaval burlesco, mas, na vida, mesmo no futuro, nunca, para a ascensão social, como o bem-estar dos mais carentes.[i]


[1] Sobre Jacques Attali: ROSO, Jayme Vita. Carrefour para Intelectuais Franceses Contemporâneos: Antologia. Recife: Edições Bagaço, 2011. p. 185 – 223.


JAYME VITA ROSO – Graduado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, é Membro prestigiado da Fundação Interamericana de Advogados, especialista em leis antitruste e consultor jurídico de fama internacional, ecologista reconhecido e premiado, “Professor Honorário” da Universidade Inca Garcilaso de La Vega de Lima, Peru e autor de vários livros jurídicos. Saiba mais.
vitaroso@vitaroso.com.br

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