KOLEL RIO – PARA NOSSO ENGRANDECIMENTO ESPIRITUAL

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VÉSPERA DE ROSH HASHANÁ

É um costume difundido entre as diversas comunidades de Israel tocar o shofar durante todo o mês de Elul, com variações de quando tocá-lo, durante a Tefilat Shacharit (Oração Matutina). Para fazer uma diferenciação entre esses toques – que são Tekiot Reshut (“toques permitidos”) – e os toques obrigatórios, ordenados pela Torá, do dia de Rosh Hashaná, a Halachá exige que não se toque o shofar na manhã da véspera de Rosh Hashaná, separando-os assim por um dia.

É mitzvá fazer uma preparação especial para Rosh Hashaná, limpando de forma caprichada a casa, cortando o cabelo e a barba; além, obviamente, da higiene pessoal e da vestimenta de roupas limpas. A princípio, é mitzvá que todos os homens imirjam em uma mikve de purificação na véspera de Rosh Hashaná, uma preparação especial também em termos deste aspecto de purificação espiritual para esse dia tão sagrado.


SHOFAR

É uma mitzvá da Torá ouvir o toque do shofar em Rosh Hashaná. E há vários tipos de toque. O primeiro deles é a Tequiá – um toque simples e contínuo, que representa alegria e conexão. Por isso, quando se queria reunir o povo de Israel no êxodo pelo deserto, na saída do Egito, faziam as trombetas tocarem uma Tequiá simples. A Teruá – um toque fragmentado –, por sua vez, alude ao sofrimento, ao choro, à desagregação e ao receio. De fato, ao sair para as guerras, sem saber como seria o desfecho da batalha, as trombetas ressoavam a Teruá.

Esta dualidade contida na Teruá permeia Rosh Hashaná. Por um lado, há um grande sofrimento pelo ano que se foi e a constatação de que este tempo não se pode recuperar jamais. Daí a enorme importância de não desperdiçar este bem precioso e curto com tolices sem valor significativo – games ou aplicativos variados, por exemplo, com os quais se pode “queimar” um tempo que se acumula em meses, com benefícios mínimos ou nulos. Tempo valioso que não voltará e que poderia ter sido usado para incontáveis objetivos mais produtivos: educação dos filhos, com demonstrações concretas de amor e afeto; orações pelo sustento e o sucesso de si e de sua família; recitação de Salmos para cura, saúde e disposição; estudo de Torá, que proporciona uma recompensa espiritual incalculável para cada instante dedicado ao mesmo. Por outro lado, há o receio e um grande medo do veredito celestial próximo. Por esse motivo, o Todo-Poderoso ordenou que se tocasse a Teruá com o shofar e, ao recebermos sobre nós o jugo do reinado divino universal, adocemos esse veredito e sejamos carimbados para uma vida maravilhosa.


ROSH HASHANÁ – DIA DA LEMBRANÇA

Tanto na Tefilá quanto no kidush de Rosh Hashaná, este dia sagrado é chamado de “Yom Hazikaron” (dia da lembrança), pelo fato do Todo-Poderoso lembrar de todas as criaturas que vêm ao mundo, julgando-as e decretando-lhes vida nova e as circunstâncias da mesma no ano novo que virá. Em todos as passagens da Torá em que encontramos a expressão “lembrança” em relação a D’us, ela se refere ao fato do Criador dar vida ao ser lembrado por Ele.

O Todo-Poderoso determinou que a quantidade de bênçãos que uma pessoa recebe dos Céus dependa de forma direta de como essa pessoa se comporta, ou seja, escolhendo o bem, será decretado sobre ela benção em abundância e se optar pelo mal, D’us nos livre, ela receberá uma bênção menor – o que ocasionará sofrimento e dor. Assim, em Rosh Hashaná, dia que é chamado de dia da lembrança e do juízo, D’us senta-se em sua cadeira de Juiz Supremo e julga todas as nações do mundo e, ao mesmo tempo, todo indivíduo de forma específica. Da mesma forma que neste dia o Todo-Poderoso lembra de todas as criaturas que vêm ao mundo, temos a obrigação de lembrarmos Dele, louvado seja, recebendo sobre nós o jugo de Seu reinado – esta é a postura mais correta e importante na celebração de Rosh Hashaná.


DIA DE TERUÁ E CHORO EM ROSH HASHANÁ

Outro nome pelo qual Rosh Hashaná é conhecido é Yom Teruá (“Dia do ‘Toque Fragmentado’”). Diferentemente da Tequiá (toque de shofar contínuo), que representa a alegria, a Teruá alude ao medo e ao receio. Medo pelo passado e receio pelo futuro. Esse é o maior receio que deve preencher os corações de cada judeu em Rosh Hashaná: “será que consegui atingir minhas metas como judeu, isto é, ser exemplo e luz para as nações do mundo? Será que, de fato, serei merecedor de que D’us decrete sobre mim, no ano que se aproxima, uma vida boa e agradável? Justamente deste receio que aumenta com o toque da Teruá no shofar, aumenta também a misericórdia divina sobre Israel, e eles saem assim absolvidos do julgamento.

Como Rosh Hashaná é um data de muita alegria, pelo fato de ser o dia da renovação da coroação e do reinado divino, escreveu o Gaon de Vilna que é proibido chorar neste dia, devendo-se manter nele a alegria, do começo ao fim do mesmo. O Arizal, por outro lado, escreveu que é plenamente apropriado e natural chorar em Rosh Hashaná, sendo o choro neste dia um sinal de elevação espiritual – uma demonstração de que se possui uma alma correta e aperfeiçoada. O próprio Arizal costumava chorar muito em suas orações de Rosh Hashaná. Na prática, deve-se rezar em Rosh Hashaná com alegria, no entanto, quem de repente irrompe em choro não deve considerar isto um problema. Muito ao contrário, pois, como dissemos, é uma demonstração de que se possui uma alma reta e aprimorada.


ALEGRIA EM ROSH HASHANÁ

Embora Rosh Hashaná seja “Yom Hadin” – o Dia do Juízo Celestial –, é também chamado de “Mikrá Kodesh” (“Convocação Sagrada”), sendo mitzvá se alegrar por meio de refeições especiais com carne e vinho, bem como por meio de vestimentas especiais de festa. No entanto, deve-se tomar o cuidado de não se exceder com a comida e o vinho para que não se venha a ter qualquer tipo de pensamento ou atuação impróprios.

A Halachá determina que se vista roupas especiais em honra a Rosh Hashaná, porém estas não devem ser (tanto para o homem quanto para a mulher) as roupas mais lindas e suntuosas que a pessoa possui, pois isto pode demonstrar certa altivez e causar uma alegria demasiada, que, por sua vez, podem desviar a atenção circunspecta da pessoa à essência do dia, isto é, o grande julgamento do mundo e de todas as criaturas pelo Todo-Poderoso neste dia.


BENÇÃO DE SHEECHEIANU EM ROSH HASHANÁ

Os dias de Rosh Hashaná são chamados de “Yom Arichta” (dia estendido), ou seja, um dia comprido com 48 horas de duração, cuja santidade se estende de forma ininterrupta. Por isso, surge a questão: deve-se fazer a berachá (bênção) “Sheecheinau” no segundo dia de Rosh Hashaná ou não? Se a santidade é uma só, longa, e já se recita Sheecheianu na primeira noite, tal recitação valeria para todo o “dia estendido”, não havendo necessidade de repeti-la na segunda noite.

A opinião da maioria dos Poskim (rabinos legisladores) é que se deve recitar a berachá Sheecheianu também no kidush da segunda noite de Rosh Hashaná. Para evitar que a berachá tenha sido dita em vão, costuma-se colocar na mesa do jantar da segunda noite uma fruta nova ou vestir uma roupa nova, para que a berachá possa ser sobre um desses dois elementos novos, saindo assim da dúvida quanto à sua validade. No caso da fruta, deve-se prestar atenção para não repetir a berachá Sheecheianu na hora de comê-la, já que ela foi recitada no kidush. Com relação ao toque do shofar, os sefaradim costumam não repetir a berachá Sheecheianu no segundo dia de Rosh Hashaná. Já os ashkenazim recitam a berachá também no segundo dia, considerando ideal que o Baal Tokêa (o tocador do shofar) esteja usando uma roupa nova – pensando nesta ao recitar a berachá – pelos motivos explicados acima.


ESSÊNCIA DO DIA DE ROSH HASHANÁ

É obrigação de todos lembrar que a essência do dia de Rosh Hashaná é o reinado do Todo-Poderoso sobre nós e sobre o mundo todo. Esse é o motivo da modificação do fechamento da terceira berachá (bênção) da Amidá de “haEl Hakadosh” (o D’us Santo) para “haMelech Hakadosh” (o Rei Santo) – sendo essa a essência do serviço religioso dos Yamim Noraim (“dias Temíveis”) – entre Rosh hashaná e Yom kipur.

Por esse motivo deve-se evitar fazer pedidos particulares e pessoais nas Tefilot de Rosh Hashaná, relacionadas às necessidades específicas da pessoa e de sua família, como sustento, saúde e demais preocupações do dia a dia. Esta é justamente a elevação espiritual do povo de Israel durante todas as gerações – que todo o desejo de Israel é que seja revelado o reinado divino no mundo, propiciando desta forma o conserto de toda a existência. O fato de cada judeu esquecer-se momentaneamente de suas necessidades particulares para pedir pela revelação do reinado divino sobre todo o universo é o que lhes dá o mérito de lograr mais um ano bom, no qual continuarão trabalhando pela evolução do mundo em direção à sua meta e ao seu conserto pleno. Na mesma proporção que o indivíduo consegue fazer o Todo-Poderoso reinar sobre si e sobre o mundo inteiro em Rosh Hashaná, haverá a garantia de que ele será agraciado com um ano bom e doce.


COMIDA DOCE EM ROSH HASHANÁ

Há grande importância nos “Simanim” (símbolos) que fazemos em Rosh Hashaná. Por isso, na hora de comê-los, costuma-se acrescentar uma oração curta de pedido, por meio da qual devemos despertar para uma Teshuvá (arrependimento e conserto) plena e aumentar as bênçãos de abundância para o ano todo. Há diferentes costumes quanto a mergulhar a chalá (pão) no mel, em Rosh Hashaná. Há quem mergulhe apenas no mel até Simchat Torá e há quem mergulhe no mel e também no sal, como se costuma no restante do ano. E cada um deve seguir o seu costume ou de sua família.

Para se aludir somente a “bons sinais” (siman tov) para o ano todo, costuma-se evitar o consumo de alimentos azedos, amargos ou salgados em Rosh Hashaná, para que prevaleçam símbolos de doçura para o ano que se inicia. Quanto a alimentos picantes, há muitos que costumam comê-los, embora haja, entre os ashkenazim aqueles que evitam também os tais condimentados. Os ashkenazim também evitam comer nozes (egozim) em Rosh Hashaná, pois a guemátria (somatória do valor numérico das letras em hebraico) de “egoz” (noz) é a mesma da palavra “chêt” (pecado) e, como se costuma tomar cuidado neste dia com o assunto dos símbolos, a ideia é evitar qualquer relação com o pecado.


QUANDO COMEMOS OS SÍMBOLOS DE ROSH HASHANÁ

Para sair de qualquer dúvida haláchica, costuma-se comer os Simanim (símbolos) de Rosh Hashaná logo depois de abençoar sobre a chalá (pão), mergulhá-la no mel e comê-la. Inicia-se pela berachá “Borê peri haêtz” (bênção dos frutos das árvores) para a ingestão da tâmara – e não pela maçã com mel – porque a tâmara faz parte das Shivat Haminim (“sete espécies” da terra de Israel). A ordem correta é a seguinte: se recita a berachá, come-se um pouco da tâmara e recita-se em seguida o “Yehi Ratzon” que consta nos Sidurim e brochuras tradicionais. Não é correto dizer o “Yehi Ratzon” entre a berachá e a ingestão, pois jamais deve haver interrupção entre estas duas ações – abençoar e comer.

Os Simanim, cuja berachá é “Borê peri haadamá” (bênção pelos frutos da terra), não devem ser abençoados com a mesma, pois já se cumpriu esta obrigação por meio da berachá “Hamotzi” sobre a chalá. Assim, ao contrário do que se faz com a tâmara, com os demais Simanim se recita o “Yehi Ratzon” antes da ingestão. Mesmo que haja outro Siman, cuja berachá é “Borê peri haêtz”, procede-se da maneira citada, pois a berachá sobre a tâmara já os isenta. Há os que costumam comer os Simanim na primeira noite de Rosh Hashaná e há os que o fazem nas duas noites.


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Fonte: Kolel Rio [kolelrio@kolelrio.com.br]