FAMÍLIA JAFET MANTÉM TRADIÇÃO E COMEMORA 130 ANOS DE IMIGRAÇÃO NO BRASIL
Na festa, Sra. Alice Assad, 96 anos, e Marilyn Jafet (de preto), ambas netas de Nami Jafet, juntas com as demais bisnetas desse importante Jafet no Brasil (Foto: Renato Saraiva)
Para celebrar os 130 anos de imigração no Brasil, a família Jafet promoveu uma festa no Clube Atlético Monte Líbano, em São Paulo, com a presença de mais de 400 de seus descendentes, mostrando que as sementes plantadas pelos primeiros patriarcas que aqui chegaram não só renderam bons frutos como deixaram um belo legado para as gerações seguintes.
Os primos Basilio Jafet, Flavio Jafet, Raul Jafet, Arthur Jafet, Oscar Moherdaui, Marilyn Jafet e Silvio Bussab, no evento dos 130 anos de imigração da família. (Foto: Renato Saraiva)
Integrada por primos que descendem dos seis irmãos que chegaram a terras brasileiras a partir de 1887 – Benjamin, Basilio, Nami, João, Miguel e Hala, a comissão de organização do evento esteve envolvida há meses no planejamento do evento, que durante o coquetel de boas-vindas exibiu a árvore genealógica atualizada – com 1.265 descendentes, sendo que 873 estão vivos -, permitindo que os presentes marcassem todos os familiares do mesmo ramo genealógico. Além de uma série de atividades voltadas às crianças, o evento teve pocket show apresentado por cinco descendentes cantores e uma singela homenagem aos nove descendentes vivos, com idades acima de 90 anos.
Parte da comissão de organização da festa, os primos Carolina Fontes Jafet, Vera Jafet Kehdi, Rita de Cássia Yazbek e Marcos Jafet Daud. (Foto: Renato Saraiva)
Em tempos em que se discutem valores familiares e o acolhimento de imigrantes em várias nações, a família Jafet dá um exemplo de união, que atravessa gerações, e do quanto povos provenientes de outros países podem contribuir com a terra que os acolhe.
Família Jafet, importância histórica e social – Nestas 13 décadas de Brasil, a história da família Jafet é marcada pelo empreendedorismo, vanguardismo, solidariedade e espírito de colaboração, a começar pela primeira loja da colônia libanesa, na Rua 25 de Março, em São Paulo, fundada por Benjamin Jafet, três anos após ter chegado a terras brasileiras, em 1887.
Benjamin logo recebeu a companhia de seu irmão Basilio, com o qual expandiu suas atividades comerciais e aumentou o capital da família. Os dois chamaram Nami, o mais velho dos seis irmãos. Abriram, então, uma loja maior na mesma rua e, sob o comando de Nami, fundaram a Nami Jafet & Irmãos, que envolveu na sociedade mais um irmão, João, também imigrante. Miguel, outro irmão dos Jafet, chegou a vir para o Brasil, porém, não se adaptou ao clima tropical e retornou à pátria natal, onde foi secretário do Consulado da Rússia em Beirute. Seus descendentes, no entanto, mais tarde vieram para o Brasil e abriram negócios no interior de São Paulo.
Anúncio da Fiação Tecelagem e Estamparia Ypiranga Jafet publicado na revista da Associação Comercial de São Paulo, em 1923.
Os irmãos Jafet também fundaram a fábrica de tecidos Fiação, Tecelagem e Estamparia Ypiranga Jafet, em 1907, uma das precursoras da indústria têxtil nacional. A fábrica foi a responsável pela pujança e o desenvolvimento do bairro do Ipiranga e de seu entorno.
Foi nesse bairro paulistano que construíram 320 residências para as famílias dos operários, além de mais de 22 casarões e palacetes que abrigaram a família e seus descendentes, destacando-se os de Basílio Jafet, ainda hoje inseridos na paisagem da Rua Bom Pastor. Os seis palacetes remanescentes, tombados pelo Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental de São Paulo, traduzem parte da história do progresso da cidade, muito mais que somente comprovar o sucesso comercial e industrial dos Jafet. No início do século XX, ao contrário de outros bem-sucedidos imigrantes árabes e italianos que fincaram suas mansões na Avenida Paulista, escolheram residir próximo de suas propriedades industriais, no bairro do Ipiranga.
Mineração Geral do Brasil, que funcionou em Mogi das Cruzes de 1938 a 1965. (acervo da família)
Família Jafet, transformando outras cidades e regiões – A família Jafet também transformou outras cidades e regiões, dando importante contribuição para muitas outras construções e obras sociais da colônia libanesa por todo o Brasil. A Mineração Geral do Brasil, por exemplo, transformou o município de Mogi das Cruzes, situado na região leste da Grande São Paulo, no Alto Tietê.
Fruto de um arrojado projeto da família Jafet, a indústria de mineração e siderurgia marcou o progresso da cidade, com influências nos campos social, cultural, econômico e político. A construção de casas destinadas aos funcionários, ao lado da Mineração Geral do Brasil, acabou dando origem a um dos bairros da cidade, inicialmente chamada de Vila Jafet, depois de bairro da Mineração, e posteriormente chamada de Vila Industrial. As casas, que mantinham o mesmo padrão, com suas fachadas e arquiteturas iguais, ainda podem ser percebidas nos dias atuais. Em tempos mais recentes, a família mais uma vez se fez presente na história de desenvolvimento de Mogi das Cruzes, quando, em 1991, Carlos Jafet Júnior levou para a cidade o Mogi Shopping Center.
Voluntariado e filantropia, marcas da família Jafet – Não se pode falar em filantropia e voluntariado em São Paulo, sem falar da família Jafet. Adma Jafet, esposa de Basilio, fundou, em 1921, com outras senhoras da comunidade árabe, a Sociedade Beneficente de Senhoras do Hospital Sírio-Libanês, que deu origem e até hoje é a mantenedora do Hospital Sírio-Libanês, um dos mais conceituados da América Latina, e cujos princípios ainda determinam sua razão de ser, na medida em que desenvolve ações integradas de assistência social, de saúde, de ensino e de pesquisa.
Adma não conseguiu ver a instituição pronta. Violeta Jafet, sua filha, que até o fim do ano passado foi a grande matriarca da família (faleceu em dezembro de 2016, aos 108 anos), herdou o legado de sua mãe e presidiu a Sociedade Beneficente de Senhoras do Hospital Sírio-Libanês durante 50 anos, a partir da inauguração do hospital, em 1961.
A família Jafet foi fundamental para a fundação da Liga das Senhoras Ortodoxas, da Igreja Ortodoxa Antioquina do Brasil e da Catedral Metropolitana Ortodoxa, além de ter presidido, por dois mandatos, a Associação Cedro do Líbano de Proteção à Infância, ter fundado a Câmara de Comércio Sírio-Libanesa, hoje, Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, e contribuído na construção de quatro pavilhões do Hospital Leão XIII, hoje, Hospital São Camilo, e na construção do Colégio Cardeal Motta, ambos no bairro do Ipiranga.
O incentivo ao esporte é outro legado que os pioneiros irmãos Jafet deixaram para seus descendentes, pois foram de grande importância na constituição de três tradicionais clubes da capital paulista: o Esporte Clube Sírio, o Clube Atlético Monte Líbano e o Clube Atlético Ypiranga.
Contribuição às artes e às pesquisas – Dedicada ativamente à filantropia, a família é também conhecida por sua contribuição às artes e às pesquisas, com uma multiplicidade de doações públicas, entre elas o Pavilhão de Física Experimental da Universidade de São Paulo, em memória de Basílio Jafet, e o Monumento Amizade Sírio-Libanesa, obra do escultor Ettore Ximenez, inaugurado em 1922, por ocasião das celebrações do primeiro Centenário da Independência do Brasil, e realizado – em parte -graças às doações feitas pelos irmãos Jafet, que encabeçaram, à época, a comunidade árabe, especialmente de sírios e libaneses radicados no país. O monumento hoje está localizado na Praça Ragueb Chohfi, bem no começo da Rua 25 de Março, mas, inicialmente, ficava diante do Palácio das Indústrias, na mesma região central de São Paulo.
Assis Chateaubriand em evento da família Jafet nos anos 1950, em São Paulo. (acervo da família)
Apreciadora das artes, a família Jafet foi proprietária de grandes obras que foram doadas a museus da cidade. Nos anos 1950, em uma reunião da família Jafet, Assis Chateaubriand e os Jafet acordaram a doação de algumas obras que hoje fazem parte do acervo permanente do MASP (Museu de Artes de São Paulo).
Esses são apenas alguns dos feitos desta família que tanto contribuiu com o Brasil desde que se radicou na cidade de São Paulo, no fim do século XIX, criando um dos maiores grupos empresariais familiares do país, com empreendimentos no ramo têxtil, mineração, metalurgia, siderurgia, serviços financeiros e navegação.