PARA QUE FALAR MAL DOS OUTROS? – RABINO KALMAN PACKOUZ

305_história_2_1Palavras podem devastar: podem destruir a reputação de alguém, podem destruir amizades, podem destruir negócios lucrativos e podem destruir casamentos. Portanto, precisamos ser cautelosos com elas como o seríamos com qualquer outro material explosivo!


Que ocorrência comum do dia a dia mata três pessoas numa única ação?

O Talmud (Arahin 15b) nos conta que o Lashón Hará (literalmente: ‘má língua’) mata três pessoas: aquela que fala, aquela que ouve e a pessoa sobre quem se está falando. Naturalmente o Talmud não quer dizer matá-las literalmente, mas refere-se a um grande dano às suas almas.

Falar mal sobre os outros é tão pernicioso que os nossos Sábios nos ensinam que se alguém fala mal sobre outra pessoa (sem nenhum propósito positivo e imperativo), aquele que está falando adquire as transgressões da vítima – e a vítima recebe os méritos dos bons atos do falador. Qualquer um que já esteve do lado ‘receptor’ desta indústria de rumores sabe como palavras dolorosas e prejudiciais podem afetar sua vida, trabalho, casamento.

O que constitui uma fala difamatória? Há três categorias básicas: (1) Lashón Hará – Os fatos são verdadeiros, porém são relatados sem nenhum propósito positivo. Eis um exemplo de propósito positivo: “Tome cuidado quando pensar em fazer negócios com o George. Ele já foi preso três vezes por fraude e desfalque”. (2) Motsi Shem Rá – Os fatos são falsos e a história é contada com o intuito de manchar a reputação de alguém. (3) Rehilut – Fofocas e calúnias: “Você ouviu o que a Marta disse sobre você?”

O que fazer se alguém começa a falar Lashón Hará perto de nós? Como pará-lo(a) sem arrumar uma briga ou ofendê-lo(a)?

Sempre guardo comigo uma pergunta ‘coringa’ para fazer quando alguém começa a fofocar, difamar ou dizer palavras de calúnia. Simplesmente pergunto: “Quem você acha que vai ganhar o campeonato estadual este ano?”

Funciona com perfeição. As pessoas me olham horrorizadas e dizem: “Do que você está falando? Agora é época do campeonato brasileiro!” Ou: “Que me importa? Detesto futebol”. E então a conversa continua numa direção completamente diferente.

Ultimamente acrescentei mais uma ótima pergunta. “Que atacante bateu duas faltas consecutivas?” A razão de ser uma grande pergunta é que absolutamente não faz diferença. É um fato secundário que talvez interesse a alguém que goste de curiosidades, mas também um feito prodigioso para qualquer um que saiba algo sobre futebol – e seguramente leva a conversa para outra direção.

Aquilo sobre o que a pessoa fala se inicia com os seus pensamentos e perspectivas. O seguinte trecho foi extraído do livro “Por Que Não Tirar Uma Boa Conclusão?”, publicado pela Chofetz Chaim Heritage Foundation (https://powerofspeech.org/), que efetivamente educa as pessoas sobre as Leis da Fala:

As Seis Questões: Um Guia Para Julgarmos Favoravelmente

A Torá ensina que, toda vez que ouvirmos ou vivenciarmos o comportamento negativo de outra pessoa, precisamos julgá-la favoravelmente. Em termos simples, isto significa dar-lhe o benefício da dúvida. Mas como é possível seguir este conselho quando os fatos claramente apontam para a sua culpa?

Às vezes ‘pulamos’ para a conclusão errada porque os fatos são diferentes de como os interpretamos. E mesmo que os fatos sejam precisos, frequentemente interpretamos mal a intenção por detrás deles. Quando abandonamos a suposição de que havia uma intenção negativa por trás das atitudes desta pessoa contra nós, automaticamente reduzimos bastante a raiva e a mágoa que sentimos.

Eis aqui seis possíveis modos de analisar uma situação e se chegar a uma boa conclusão:

1. Você tem certeza que o fato ocorreu? Algumas vezes a nossa percepção do que vemos e ouvimos está equivocada.

2. Você tem certeza que os detalhes estão corretos? Um pequeno detalhe pode alterar todo o cenário. Algo pode ter sido exagerado ou omitido, o que faria uma grande diferença.

3. Você sabe se a outra pessoa queria causar danos? Muitas vezes as consequências são imprevistas.

4. Você sabe sob que condições a pessoa estava agindo? Talvez estivesse agindo sob uma base equivocada, o que explicaria o seu comportamento.

5. Será que a atitude desta pessoa poderia ser o resultado de um inocente erro humano? Todos têm limitações. Talvez lhe faltasse experiência, esqueceu-se de alguma coisa, distraiu-se ou simplesmente não pensou com cuidado suficiente antes de agir.

6. Você sabe que eventos precederam a atitude negativa? Esta pessoa pode estar lidando com uma carga muito pesada de dor, frustração ou tensão. Seu comportamento pode ser uma resposta a uma situação específica, como uma doença ou perda financeira, ou pode ser um problema mais profundo e complexo, que está afetando toda a vida desta pessoa.

Embora a Torá peça para nós julgarmos os outros com generosidade e compaixão, não nos é solicitado aceitar comportamentos abusivos. Abusos físicos, verbais ou emocionais devem ser tratados e corrigidos.

Há um livro fabuloso, Guard Your Tongue, escrito pelo Rabino Zelig Pliskin, que é muito agradável de ler, fácil de entender e com muitas histórias ilustrando as leis sobre uma fala apropriada. Recomendo-lhes muito adquirir um exemplar. Muitas pessoas leem um parágrafo com suas famílias na hora da refeição. Se desejamos espiritualidade, um dos melhores caminhos é cuidarmos de nossas palavras. O livro está disponível em http://www.eichlers.com/name-sku-122.html (há também uma versão em espanhol).

Porção da Torá: Tazría – Metsorá [Vaikrá (Levíticus) 12:1 – 15:33]

A Torá continua a relatar as leis de pureza física e espiritual. Como explicado acima, há três categorias de transgressões possíveis ao se falar: (1) Lashón Hará, (2) Motsi Shem Rá e (3) Rehilút. Esta Porção Semanal focaliza a tzaraat, um tipo de sofrimento físico causado por transgredir as leis referentes à fala (não caluniar, não mentir, não falar palavrões, não fofocar, etc.) e seu processo de purificação. A tzaraat aflige, progressivamente, a casa, as roupas e a pele da pessoa, a menos que purifique sua forma de falar.

Muitas pessoas falam Lashón Hará porque simplesmente desconhecem as suas leis. A única cura para isto é estudar. Existe, em português, um excelente livro chamado ‘Chafets Chaim – Uma Lição a Cada Dia’ (http://www.sefer.com.br/uma-licao-a-cada-dia/1/). Também é possível obter mais informações (em inglês) em nosso site (www.aish.com/tp/i/oai/48954341.html). Desfazer o mal causado pela fala é comparado a tentar recolher todas as penas de um travesseiro – depois que foram soltas durante uma tempestade de vento.

A segunda Porção Semanal, Metsorá, relata o processo de purificação para o metsorá, a pessoa que foi atingida pela tzaraat.

Dvar Torá: baseado no livro Love Your Neighbor, do Rabino Zelig Pliskin

A Torá declara: “Ele (a pessoa afligida com tzraat) deve ser trazida a Aharon, o sumo-sacerdote, ou a um de seus filhos, os sacerdotes” (Vaikrá 13:2).
O Maguid de Dubno, Rabino Yaacov Kranz (Lituânia, 1741-1804), explicou que muitas pessoas falam lashon hará porque não estão cientes do poder das palavras. Quão frequentemente as pessoas racionalizam: “Eu não fiz nada contra ele, apenas disse algumas palavras”. O metsorá, a pessoa que foi afligida com tzaraat por ter falado lashon hará, recebe uma lição sobre o poder de até mesmo uma única palavra. Ele precisa dirigir-se agora ao sacerdote que irá decidir se ele ficou metsorá ou não. Uma única palavra do sacerdote (Impuro!) irá isolá-lo completamente da sociedade. Depois disto, seguramente o metsorá não irá mais minimizar a capacidade destrutiva de suas palavras.

Palavras podem devastar: podem destruir a reputação de alguém, podem destruir amizades, podem destruir negócios lucrativos e podem destruir casamentos. Portanto, precisamos ser cautelosos com elas como o seríamos com qualquer outro material explosivo!

Pensamento: “O que você não viu com seus olhos, não invente com a boca!”- (Provérbio Ydish)


RABINO KALMAN PACKOUZ – Do Aish Hatorá, é o criador do Meór Hashabat, boletim semanal com prédicas. Saiba mais.

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