IMPERFEIÇÃO – POR AKIM ROHULA NETO

315_saude_5_1O fato de sermos imperfeitos não nos coloca como “errados”, mas sim, como humanos. É exatamente esta imperfeição, ou seja, a possibilidade de mudança em nossa forma de agir, que nos caracteriza como seres humanos.


A imperfeição é uma das características mais difíceis de aceitar. O melhor que conseguimos dizer é: vou cuidar do meus defeitos para eles não aparecerem tanto. Ou então nos colocamos dispostos “a mudar”. Porém, independente de qualquer mudança, o fato continua: somos imperfeitos.

Não é algo que possamos “mudar” ou “melhorar”, a percepção da imperfeição não é um problema a ser solucionado, mas sim uma condição a ser percebida e aceita. A dificuldade maior reside em nosso desejo de sermos perfeitos. Queremos ser algo mais do que o restante da humanidade, por isso queremos ser perfeitos.

Nos colocar tal como os outros mortais é difícil porque tira de nós a possibilidade de um “foro privilegiado”. Porém isso apenas é difícil porque queremos ter um. A arrogância se torna, então nossa máscara diante da sociedade e de nós mesmos. Pretendemos algo que nos é impossível, porém a arrogância nos cega para esta realidade.

Queremos, então, pretender, realmente a “não errar” ao invés de aceitar que vamos errar e apenas nos preparar para o que fazer quando isso ocorrer. Queremos “ser melhores”, sem compreender que por melhor que se torne, a imperfeição ainda reside em nossa essência. Queremos mudar, porém a natureza de nossa condição não é mutável.

A difícil libertação reside, na verdade, em perceber a motivação que circunda o desejo da perfeição. O lugar privilegiado, longe da dor que o mundo nos oferece é uma ilusão. Este lugar paradisíaco no qual a dor não existe é apenas metafórico de um estado interno e não de uma realidade externa.

Observar qual o nosso lugar no mundo, diante da realidade que existe é mais importante do que pretender um lugar fora deste mundo. Aceitar a dor e a alegria que existem na terra, tal como ela é nos ajuda a ver que “o mundo” é o que sempre foi. Ele está aqui antes de nós e continuará depois. Não há nada de errado nele.

Nem em nós. O fato de sermos imperfeitos não nos coloca como “errados”, mas sim, como humanos. É exatamente esta imperfeição, ou seja, a possibilidade de mudança em nossa forma de agir, que nos caracteriza como seres humanos. A imperfeição não se trata, não se muda, não se redefine. Se aceita. Nada mais. Ela não é errada, ela é o que é. Assim como nós.

Perceber isso, é algo que pode nos ajudar a aceitar nossa condição de igualdade diante dos outros. Perceber que nosso medo e tristeza são exatamente como os dos outros e que, portanto, não nos tornamos melhores ou piores à medida em que alcançamos conquistas ou sofremos derrotas. Apenas nosso julgamento é que nos coloca acima ou abaixo dos outros. Perceber a esfera na qual todos somos iguais é a libertação da necessidade de ser perfeito para poder, então, ser.


AKIM ROHULA NETO – Graduado em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná, em Psicologia Corporal pelo Instituto Reichiano Psicologia Clínica e Centro de Estudos e em Programação Neurolingüística. Saiba mais.

akimrohula@gmail.com

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