O LIVRE ARBÍTRIO NA TORÁ – POR MENDY TAL
A Torá é construída sobre o fundamento da livre escolha para a humanidade. A história de Adão e Eva no Jardim do Éden é uma descrição da livre escolha. Daquele ponto em diante, toda história bíblica envolve livre escolha.
A questão essencial sobre a qual tudo é equilibrado para a criação ser a criação é a do livre arbítrio. Ao longo dos tempos, os teólogos debateram se os seres humanos têm ou não a capacidade de escolher livremente. Tem sido uma questão fundamental porque o livre-arbítrio imputa que Deus não controla o universo. Se Deus está no controle, então não somos realmente livres para escolher; Deus sempre “sabe” o que vamos fazer. Se realmente tivermos escolha e Deus não “conhecer”, então Deus está perdendo a informação essencial.
A Torá é construída sobre o fundamento da livre escolha para a humanidade. A história de Adão e Eva no Jardim do Éden é uma descrição da livre escolha. Daquele ponto em diante, toda história bíblica envolve livre escolha.
Nós temos consciência humana. Somos informados de que atos de bondade a longo prazo trarão um nível mais elevado de consciência para todos no mundo. Nós temos a escolha de fazê-las ou não. Somos informados de que uma palavra indelicada pode colocar as coisas em movimento, o que pode causar grande dano e dor no mundo. Nós temos a escolha de como vamos falar. Ainda mais, quando o místico sugere que nossas preces podem influenciar o resultado dos eventos, nosso comportamento pode influenciar o grau em que há paz no mundo, ou que nossa observância do ritual antigo pode trazer uma cura para almas em outros mundos. Imagine como isso pesa sobre nós como seres responsáveis e conscientes.
Nada é inconsequente. Cada grão de areia contém segredos surpreendentes. Cada evento contém mensagens misteriosas. Todo encontro com outro ser é um ponto de contato sobre o qual o universo gira. Quando entramos nesse estado de espírito, a realidade, como vemos, torna-se uma vasta oportunidade para experimentar a interconectividade de toda a criação. Desta perspectiva, chegamos à conclusão de que cada peça é parte integrante do desdobramento da criação, incluindo nós.
Livre arbítrio e processo andam de mãos dadas. Se somos pegos na ilusão da separação, presos no sentido de nossos “eus”, não experimentamos o processo interativo. Não podemos perceber isso porque “eu” e “outro” são distintamente diferentes. Se, no entanto, pudermos mediar essa “autoconsciência”, poderemos entrar no reino do Agora, no qual tudo está conectado e em processo com todo o resto.
Quando reunimos todas essas ideias, o paradigma da relação entre o criador e a criação muda radicalmente. Deus é Deus, criação é criação, todo aspecto da criação está em processo e continuamente se desdobrando como uma flor infinita abrindo suas pétalas. Nesta realidade, “conhecer” é um fenômeno de momento a momento, passado e futuro são apenas em nossas mentes, somos co-parceiros com Deus no processo cósmico e cada pessoa tem a liberdade total de escolha para mudar o universo. Nada que façamos, digamos ou pensemos é irrelevante; cada ação afeta não apenas essa realidade, mas outras realidades, e toda a criação está interconectada. Nunca devemos atribuir atributos ao nosso parceiro no processo (Deus-ing), mas podemos “conhecer” esse parceiro através da experiência direta de tudo o que encontramos e de todo pensamento que surge em nossas mentes.
Mendy Tal – Cientista político e ativista comunitário.
