ANTISSIONISMO É ANTISSEMITISMO? – POR PAULO ROSENBAUM

346_especial_4_1Em palestra recentemente realizada no Centro Judaico Bait o poeta, ensaista e escritor Nelson Ascher enfocou um tema frequentemente interditado ou superficialmente abordado: antissionismo é antissemitismo? O blog Conto de Notícia fez uma síntese de suas considerações e acrescentou reflexões que envolveram também o problema da confiabilidade das notícias e as fake news, a conturbação política na Europa, o papel da imigração maciça e o islamo-fascismo, quem não é esquerda é direita ou quem sabe apenas “não-esquerda”?

Ascher iniciou fazendo uso de uma afirmação absolutamente sintética para responder sua própria pergunta:

“Por que o antissemitismo existe e perdura?”

“Porque sempre funcionou”

Funciona de que modo e qual é o significado pregresso e contemporâneo de sua eficácia?

Ao afirmar que o sionismo foi uma espécie de “nacionalismo de segundo grau” e que existem outros “sionismos” sendo gestados na Europa em função de uma falta de identificação entre a democracia social praticada pelo parlamento Europeu e os países por ele governado. Deduz-se que o “nacionalismo de segundo grau” pode ser compreendido como uma reatividade dos povos às tentativas de interferências em seus costumes para além da unidade territorial e financeira. Neste sentido, estará a Europa ameaçada logo adiante por vários movimentos similares ao Brexit?

Em 2018 tivemos um perturbador recorde de número de ataques antissemitas na Alemanha, França e mais recentemente nos Estados Unidos. No caso europeu não há como desvincular o atual status quo da crise dos refugiados que permitiu o ingresso de quase 2 milhões de pessoas (imigrantes de Países do norte da África – em sua imensa maioria, frise-se não refugiados) que vem de culturas intolerantes violentamente antissemitas. O problema portanto está mais na política imigratória que parece não ter critérios claros do os imigrantes propriamente ditos.

O debate tem sido interditado pela sistemática evocação de termos proibidos por um eufemismo censor mais conhecido como “politicamente correto”. Qualquer menção ao fluxo imigratório selvagem tem sido rotulado como “islamofóbico”. Também é auto evidente porque não se dá o mesmo tratamento para a expressão “judeofobia”. A insistência de boa parte da mídia em condenar aprioristicamente Israel, nas manchetes e nas declarações, atesta isto. Nas recentes crises com a Faixa de Gaza governada pela organização terrorista Hamas — e seus proxys iranianos — as testeiras mostram o disparate e o viés preconceituoso de parte significativo das mídias jornalísticas. “Israel ataca Gaza” é a chamada mais comum, isso depois de Israel ter recebido quase 500 foguetes contra populações civis em menos de 48 horas. Importante salientar, como já se enfatizou mais de uma vez, que tais organizações terroristas não tem nada a ver com o o governo oficial dos palestinos e seu presidente. São frentes ilegais, as quais, na verdade, oprimem e mantém como reféns a população de Gaza.

Segundo Ascher há uma particularidade no caso do antissemitismo europeu que frequentemente utiliza o justificacionismo do álibi antissionista. É essencial analisar o papel — direto ou indireto — desempenhado por Angela Merkel e outros dirigentes daquele continente.

Ainda segundo sua análise alguns destes governos autointitulados de democracias sociais, prestam regularmente tributos ao judeus mortos na Shoah (Holocausto) e de fato condenam publicamente o antissemitismo, pregresso. Entretanto, enquanto proferem discursos fúnebres sob auto chibatadas negligenciam o dramático e explícito clima agressivo contra as comunidades judaicas. Enquanto outros Países parecem fazer o movimento inverso. No caso da Hungria — país que você acompanha a política com particular atenção — temos exemplo deste aparente paradoxo: ali temos um governo classificado como de extrema direita (sic), mas é, ao mesmo tempo, um dos lugares onde os judeus contemporâneos parecem estar mais seguros quando se compara com a situação em outros Países europeus. O paradoxo é apenas aparente: enquanto parte significativa dos partidos de esquerda escolhe aglutinar-se em torno de velhas teorias conspiratórias antijudaicas — antes argumento monopólio da extrema direita — há hoje um novo e incendiário componente para ser contabilizado : como definido por Umberto Eco, trata-se do islamo-fascismo.

Como se explica então que nações que inclusive fazem o mea culpa frequentes pela suas responsabilidades no genocídio praticado pelos nazistas com co-participação de vários outros países, mas permanecem inertes diante da epidemia de intolerância antijudaica que hoje varre a Europa, se não impunemente, contando com a omissa displicência dos governos.

Ascher recomenda então a seguinte inflexão: o que é o “Estado Democrático de Direito”. O ex presidente Mubarak por exemplo foi diretamente desestabilizado pela política externa de Obama e na sequencia a Irmandade Muçulmana venceu as eleições no Egito. Como se sabe a “Irmandade” é uma das mais antigas agremiações islâmicas radicais. Aliada estratégica do partido nazista é hoje uma entidade assumidamente jihadista. Venceu por larga margem derrotando todos os partidos moderados naquela que seria uma das primeiras eleições no País árabe em décadas. Pouco tempo depois a própria população entendeu o erro e saiu às ruas — num evento que foi erroneamente classificado como “primavera árabes”– pedindo a deposição dos recém eleitos, o que efetivamente acabou acontecendo através de um golpe militar liderado pelo general Sissi.

Na época, vários analistas atribuíram o fenômeno da eleição de Morsi — morto recentemente de um ataque cardíaco — a um erro do timing do processo democrático: a IM fora a única organização a manter sua estrutura intacta durante as ditaduras subsequentes que perduraram e, portanto, a única apta a concorrer no pleito como uma opção quase exclusiva naquele sufrágio de caráter plebiscitário. Considerando o episódio o que é afinal o Estado Democrático de Direito?

Se só a compreensão do contexto histórico-político pode defini-lo, qual é a sua consistência?

Direita e esquerda tem seus vícios e classificações selvagens. Por sua vez quem não se encaixa nos postulados da esquerda está sujeito a ser tachado de direita ou de extrema direita. Não se admite apenas “não esquerda” ou “não direita”. Muitos membros do partido democrata norte americano e do partido trabalhista inglês — centralizados na figura de Corbyn — tem instrumentado o discurso da luta pelo direito dos palestinos sacrificando princípios históricos ao defender abertamente posturas antissionistas e antissemitas. Isto inclui perfilar-se na defesa do regime teocrático dos aitolás e sair em defesa de organizações jihadistas — oficialmente reconhecidos pelo Parlamento Europeu como entidades terroristas — como Hamas e Hezbollah. São denúncias que vem de dentro do próprio partido trabalhista inglês.

Qual seria o significado ideológico e tático deste giro político?

Continue lendo: https://brasil.estadao.com.br/blogs/conto-de-noticia/antissionismo-e-antissemitismo-1/


Paulo Rosenbaum – Médico e escritor, assina a coluna semanal “Coisas da Política”, no JB – Jornal do Brasil e no Estadão.

paulorosenbaum@hotmail.com

20
20