ELEIÇÕES DE TERCEIRA ÉPOCA – POR DAVID S. MORAN, DIRETO DE ISRAEL

350_especial_4_1A atual campanha é das mais sujas que aconteceram em Israel. Há pouco mais de uma semana, nem parece que estamos na véspera de eleições (2 de março)


Israel está chegando a reta final desta campanha eleitoral – a terceira em um ano – e nada garante que é a última. A atual campanha é das mais sujas que aconteceram em Israel. Há pouco mais de uma semana, nem parece que estamos na véspera de eleições. A propaganda eleitoral gratuita passa na rádio e TV, mas parece que ninguém presta atenção. Quando começa já mudam o canal. O povo parece que está cansado dos políticos, de suas mentiras, manobras, acusações a outros e sem falar no essencial, nos programas para melhorar vida dos cidadãos. Infelizmente, pela primeira vez no país, concorre um Primeiro Ministro em exercício – o popular Benjamin Netanyahu – sob três acusações de corrupção, quebra de confiança, trapaça e de receber benefícios em troca de dar vantagens a certos homens de negócios.

Todos sabem que políticos são pouco confiáveis, mas desta vez passaram dos limites, inclusive os da segurança nacional. O populismo e o cinismo subiram a recordes inimagináveis.

Os dois principais partidos concorrentes são: Kachol Lavan (Azul e Branco) encabeçado pelo Benny Gantz, que em um ano tornou-se o maior partido de Israel, e o Likud, liderado pelo Primeiro Ministro em exercício, Benjamin Netanyahu.

350_especial_4_2Knesset

O Primeiro Ministro, Benjamin (Bibi) Netanyahu, nos últimos 11 anos consecutivos está sob três acusações e faz de tudo para não enfrentar a justiça. Na 2ª (17) foi anunciado que o início do seu julgamento será no dia 17 de março. Duas semanas depois das eleições para o Knesset, que ocorrerão no dia 2 de março. A luta do Bibi é apresentar o Gantz que só poderá formar um governo em coalizão com o partido da Lista Árabe Unida. (LAU). Tanto a LAU como o Gantz declaram que não formarão govêrno juntos, mas o Likud continua nesta tecla. A LAU eventualmente poderá apoiar governo do Gantz, se obtiver condições, na votação de confiança no Knesset. Eles não se identificam com o Estado Judeu e por isso não querem ministérios, mas querem tirar o Netanyahu da chefia do país. No passado, o próprio Netanyahu fez acordos com a LAU, inclusive na antecipação das eleições no primeiro turno. Agora os trata como se não fizessem parte do país.

Na terça-feira (18), depois que foi marcado o inicio do julgamento do Netanyahu, ele e o Likud começaram a vazar informações sôbre infrações cometidas pela companhia Quinta Dimensão, na época encabeçada pelo Gantz na sua ligação em contrato com a Polícia. Isto apesar das autoridades informarem que Gantz nada tem a ver. O propósito é desviar as atenções do processo Netanyahu. Outros ministros do Likud tentam desacreditar o Procurador Geral do Estado (que Netanyahu nomeou). Quando o cerco aperta, Netanyahu até insinua que “Israel estava envolvido no fracasso do lançamento do míssil iraniano, como aborta as tentativas de transferir armamento na Síria. Sabem por que – perguntaram os atendentes do comício? Porque nós agimos lá o tempo todo, quebrando sigilo”.

Declaração de lealdade. Toda vez que aparece um “spin” e informação de que alguém do bloco da direita passa ao bloco do Gantz, Netanyahu faz os partidos da coalizão assinar declaração de lealdade. O partido religioso Shas do Arie Deri até faz propaganda pró Netanyahu. Aliás, o falecido rabino Ovadia Yossef, patrono do Shas, declarou-se favorável à devolução dos Territórios Ocupados. Outro partido, o Yahadut Hatorá, hassídico, fala do bloco da direita, apesar de não saber o que é isto. Sua preocupação é de não permitir seus jovens ingressarem no exército.

O partido Yemina (a Direita), do Naftali Bennett, é outra anomalia. É de conhecimento público que Netanyahu não gosta do seu Ministro da Defesa, Bennett e da ex-Ministra da Justiça, Ayelet Shaked. Colocou o Bennett neste importante ministério para que fracasse na missão e trata de enfraquecer este partido. Esta semana foi publicada gravação do seu homem de confiança, Natan Eshel falando com o kahanista Itamar Ben Gvir, lhe dizendo que o Bibi tem certeza que o Bennett se juntará a Gantz e prefere que ele ingresse no Knesset (seu partido Otzma Yehudit – Potência Judaica, não passa o mínimo de 3.25% dos eleitores). Os truques de trazer 400 imigrantes etíopes antes das eleições parece não sair do papel, nem mesmo a anexação de territórios segundo o Plano do Século. Bibi até tentou evitar um possível golpe no seu próprio partido, apressou-se em nomear para “meu próximo governo” o Nir Barkat, eleito deputado pelo Likud há apenas 1 ano. Antes foi registrado no partido Kadima, que já não mais existe e foi prefeito de Jerusalém.

350_especial_4_3Netanyahu, Albright e Arafat

Para o Likud, quem não está com Netanyahu é da esquerda. Isto inclui o seu ex confidente Avigdor Lieberman, do Partido Israel Beiteinu, este declara que a era do Netanyahu já passou, tem que se aposentar. Ele até questionou: “porque o encontro do Netanyahu com Arafat e Tibi para assinar acordo em Wye Plantation (10/98) é legítimo e sentar numa coalizão com o Vice Comandante do Estado Maior, General (Res.) Yair Golan – que é do Avodá/Guesher e Meretz – não é.

350_especial_4_4Cédulas dos partidos numa urna

Kachol Lavan declara que quer um govêrno de união nacional com o Likud, “mas sem o Bibi, que vai enfrentar a justiça”. O General (da reserva) Gabi Eshkenazi, um dos líderes deste partido, declarou na TV (17): “Com o Likud, sem o Bibi, em minutos temos governo. O Netanyahu tomou o país como refém. Duas vezes perdeu as eleições e trata de fugir da justiça. Nós queremos formar um governo sionista e democrático”. O líder do partido, Benny Gantz reiterou:” O Likud com Netanyahu não formará governo, sem ele, haverá união nacional”.

O pior nesta guerra de difamações, desinformações e de sujar os adversários é que quase nada muda na preferência dos eleitores. As mudanças parecem ser mínimas e se esta situação persistir, Israel irá para um quarto pleito, perdendo tempo, dinheiro e possibilidade de paz e prosperidade.

Censos de opinião pública Canal 12 (19.2 Canal 13 Walla (17.2 103 FM(20) Maariv (21)

Kachol Lavan 35 36 34 36 36

Likud 33 33 33 32 33

Lista Árabe Unida 13 14 13 14 13

Avodá/Gusher/Meretz 9 8 10 8 8

Israel Beiteinu (*) 7 8 7 7 8

Shas 8 7 8 8 8

Yahadut Hatorá 8 7 8 7 7

Yeminá 7 7 7 8 7

BLOCO do Centro 57 58 57 58 58

BLOCO da Direita + ultraortodoxos 56 54 56 55 55

(*) O Lieberman do Israel Beiteinu pode coroar o próximo Primeiro Ministro.


DAVID S. MORAN – Mora em Israel, é formado em Relações Internacionais pela Universidade Hebraica de Jerusalém e Major da reserva do exército israelense.

vavamoran@hotmail.com

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