SINAGOGA DA HEBRAICA E SUA TRADIÇÃO ON-LINE – POR JOSÉ LUIZ GOLDFARB
Esperamos também que o Corona Vírus nos ensine que toda a potência do ser humano, especialmente sua tecnologia sofisticada, não dispensa que humildemente nos voltemos para o Eterno e nos serviços presenciais das Sinagogas encontremos paz, luz e energias para nossas vidas individuais e coletivas.
Nossa Sinagoga iniciou seus serviços em espaço pequeno onde funciona hoje o pequeno Auditório próximo à Sala Plenária, no começo dos anos 90, com menos de 100 lugares. Aos poucos, fomos crescendo e, já em 2002, mudamos para o espaço atual mais amplo e com arquitetura diferenciada. O interessante é que desde seu início, nos anos 90, já estávamos on-line. Na primeira versão do site do Clube, introduzimos o Rabino On-line, um canal para perguntas e respostas sobre o judaísmo, especialmente sobre questões religiosas. Ganhamos uma entrevista no Fantástico com o Mauricio Kubrusly, que, já nos anos 90, colocava a questão dos serviços religiosos on-line. O Rabino On-line nos indicou que a religião seria extremamente presente no mundo virtual.
Depois, veio o Facebook, o Twitter, o Instagram e mantivemos a presença da Sinagoga da Hebraica nas redes digitais. Como uma Sinagoga liberal, onde utilizamos microfones e teclado, permitimos a transmissão dos serviços on-line desde o princípio. Em alguns anos, fizemos transmissões completas das grandes festas no Teatro Arthur Rubinstein com o famoso Chazan Moshe Stern. Tivemos sempre excelente feedback, principalmente por parte de associados que, por motivos profissionais, encontravam-se em áreas remotas do país, sem acesso a Sinagogas. Também podemos afirmar que o trabalho didático em expor e explicar nosso culto nas redes sociais representa uma forma educativa de tornar o judaísmo acessível, desmitificando preconceitos, atraindo novos amigos para a comunidade. Em certa ocasião, o presidente do Clube indagou sobre a validade das transmissões dos serviços, pois recebera reclamações; ao ser confrontado com o print dos comentários – elogios, inclusive, de internautas que se declaravam até então bastante preconceituosos –, o presidente afirmou: façam mais transmissões!
Assim, quando em tempos de Corona Vírus vemos muitas Sinagogas liberais no Brasil e no exterior realizando serviços on-line, só podemos receber positivamente. Afinal, é um hábito já estabelecido na Sinagoga da Hebraica. Por outro lado, há obviamente uma questão fundamental: podemos substituir nossa experiência presencial nas Sinagogas pelas ações virtuais? Inicialmente, é importante esclarecer que como Físico de formação não fico muito confortável com a distinção presença física versus virtual ou digital. Pois que o virtual também é físico, depende de hardware e transmissão de ondas eletromagnéticas (internet), tudo igualmente físico. Não somos telepatas ao utilizar os meios virtuais. Usamos uma tecnologia sofisticada, mas igualmente física. A questão, para mim, coloca-se entre experiência presencial ou virtual.Entre estarmos de corpo presente ou apenas conectados no virtual ainda que conectados fisicamente pela tecnologia.
Aqui sim há uma questão profunda, filosófica, metafísica. Provavelmente, podemos afirmar que, se por um lado o boom do digital ocorre pelas maravilhas e facilidades de acesso a um universo incrível de informações, conteúdos e mesmo pessoas, não devemos nos furtar em analisar se este boom também não ocorre pelas deficiências em nossas experiências presenciais. Precisamos ter a coragem de enfrentar criticamente a necessidade de reavaliar as limitações de nossas experiências presenciais. Lembro quando sugiram os PC’s (computadores pessoais) na América do Norte – eu fazia minha pós-graduação em Montreal – e os pais reclamaram: nossos filhos chegam em casa e vão direto para o computador. Mas seria importante indagar a estes pais se antes dos computadores eles tinham realmente contato e diálogo com seus filhos!
Como tenho convicção de que nada substitui a experiência presencial, pois é no face a face que somos realmente completos, precisamos sim melhorar esta experiência para que ela seja mais convidativa que a virtual. Para que as pessoas redescubram a riqueza da vida presencial. Para voltemos a acordar e diariamente agradecer por retornar aos nossos corpos. Sim, precisamos reinventar nossos canais de contato ao vivo para perceber que o virtual é riquíssimo, mas que nada supera o olho no olho. Talvez o isolamento forçado pelo Corona Vírus auxilie nessa reflexão e, ao acabar a tempestade, voltemos fortificados para nossa vida cotidiana e presencial.
Finalmente, esperamos também que o Corona Vírus nos ensine que toda a potência do ser humano, especialmente sua tecnologia sofisticada, não dispensa que humildemente nos voltemos para o Eterno e nos serviços presenciais das Sinagogas encontremos paz, luz e energias para nossas vidas individuais e coletivas.
Orando pela saúde de todos nossos frequentadores da Sinagoga e do Clube.
José Luiz Goldfarb é Diretor de Cultura Judaica da Hebraica de São Paulo.
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Nota: matéria publicada na Revista da Hebraica de SP