AS RESPOSTAS ÀS TRÊS PERGUNTAS QUE MAIS FAZEM AOS JUDEUS – POR ELIAS SILVA

É sabido que nós, os judeus, temos o hábito de responder com perguntas. Assim, não fugirei à regra.

Se você indagar de um judeu qual é a pergunta que mais os goyim (gentios, não judeus) lhe fazem, tenha certeza que te dirá o seguinte: Por que vocês não acreditam que Jesus Cristo (JC) é o Messias (Mashiach)? Também têm outras duas bem recorrentes, quais sejam: Por que vocês se julgam o povo escolhido? e Todos os judeus são ricos?

No papel de um desses judeus, darei a resposta cabível a cada uma delas nos parágrafos seguintes. Afinal, já me fizeram tantas vezes estas perguntas!

Quanto à primeira, é preciso antes fazer alguns comentários. É sabido que nós, os judeus, temos o hábito de responder com perguntas. Assim, não fugirei à regra. Seria a seguinte: Por que deveríamos acreditar, se somos judeus e não cristãos?

Daqui fica claro que a pergunta do goy é motivada por duas desgraças humanas: a ignorância e o proselitismo. Pela ignorância, dado o total desconhecimento do que vem a ser o Judaísmo, que se trata de outra religião, aliás muito mais antiga que o Cristianismo. Soa como se fizesse a mesma pergunta a um budista. Lembremos que ignorar é desconhecer, não se tratando de nível intelectual. Deveriam saber que o Novo Testamento, onde JC é a figura central, não se constitui em referencial judaico. Os dois referenciais da fé judaica são: a Torah Escrita (As Leis de Moisés, O Pentateuco) e a Torah Oral (Talmud). Ao se considerar mais 19 livros sagrados ao Pentateuco, têm o que se denomina de Tanach, a que os cristãos dão o nome de Velho Testamento. Enfim, como dizem os matutos: “uma coisa é uma coisa e a outra coisa é outra coisa”. Já o proselitismo é o mais perigoso, pois vem impregnado pela volúpia de aculturar e assimilar, já que implicitamente assume que a sua “verdade” é a única. São os impositores de fé, ou seja, os novos catequizadores, porquanto agem como torcedores (hinchas) de sua religião, como se isto fosse cabível moral e eticamente. Imagem se recebessem a mesma pergunta, mas ao contrário. Por exemplo, se um judeu perguntasse a um cristão o seguinte: Por que vocês acreditam que JC é o Messias? Ficariam indignados, imagino. Mas fiquem tranquilos, nenhum judeu lhe fará esta pergunta por dois motivos. O primeiro, pelo fato da nossa religião não ser proselitista, tanto que impõe muitas condições para a verdadeira conversão, ao mesmo tempo em que respeita o credo alheio. O outro motivo é porque a pergunta não tem sentido. Ao fazê-la, a pessoa passaria um atestado de ignorância, tal como evidenciei acima, pois, se o sujeito é cristão, então tem que se partir do princípio de que ele entende (assume) que JC é o Messias. É a verdade dele. Respeita-se e pronto.

Bem, feitas estas considerações, fica fácil ter a resposta à primeira pergunta. É simples: Porque não somos cristãos. Somos judeus! Somos de outro credo! Em um dos nossos referenciais, mais precisamente no Livro do Profeta Yesha’yáhu (Isaías), que faz parte do Tanach, relata-se uma série de qualidades (características) do Mashiach, que definitivamente JC não preenche. Mostrarei apenas duas, que imagino bastará para a compreensão: será um ser humano normal (de pai e mãe, originário da Tribo de Judá, e mais precisamente um descendente do Rei Davi) e não filho de D´us (JC não tem pai humano, pelo motivo da mãe ser virgem); e haverá paz na Era Messiânica (ainda vivenciamos todo tipo de mazelas humanas, ou não?)

A segunda pergunta é bem fácil de responder. Entendemos que fomos escolhidos por D´us para uma determinada função, não para todas. Enfim, fomos escolhidos para revelar a Torah para a humanidade, por conta de ela ser – em essência – um código de moral e de ética. Os outros povos (etnias) certamente foram escolhidos por D´us para outras funções, cabendo a eles perceberem isto. Afinal, todos nós somos filhos de D´us.

Já para a terceira, me permitirei fazer algumas considerações, a fim de induzir melhor entendimento. Em termos mundiais, os judeus perfazem algo em torno de 16 milhões, sendo a metade residente em Israel, enquanto a outra encontra-se dispersa pelo mundo, isto é, segue na Diáspora. Assim, soaria insano alguém imaginar que todas estas pessoas possuam a mesma situação financeira. Afinal, vivem em países diferentes, ocupam posições distintas no mercado laboral, entre tantas variáveis. Na verdade, de forma geral, pode-se assumir que não existem judeus carentes. Isto decorre da atuação de várias organizações judaicas, as quais agem no sentido de acolherem e fornecerem toda a assistência necessária para aquelas pessoas que poderiam entrar em situação de vulnerabilidade, notadamente idosos e imigrantes. Agora, a questão é saber o que é ser rico. Nesse sentido, é importante entender que o Judaísmo não demoniza o dinheiro, até pelo fato de que ele não deve se constituir em objetivo da pessoa. É entendido como consequência do esforço e da competência da pessoa, as quais D´us reconhece e abençoa com o necessário para viver dignamente e ajudar ao próximo. Para arrematar o assunto, gostaria de explicitar uma definição do que é ser rico, a qual ouvi muitas vezes junto à comunidade: “rico é aquele que sabe que tem o necessário (o suficiente)”.Também há outra, com conotação cômica, exatamente por derivar do senso de humor judaico: “rico é aquele que tem um banheiro perto quando necessita usá-lo”.


ELIAS SILVA – Professor Titular

Departamento de Engenharia Florestal

Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Minas Gerais

20
20