VELHICE E JUVENTUDE – POR MERALDO ZISMAN

Perde-se, na idade provecta, parte do vigor e a rigidez juvenil. A lucidez, não necessariamente e, se a perdermos, não sabemos, mas ganhamos outras sabedorias.

Vista da juventude, a vida é um longo futuro; a partir da velhice, parece um curto passado.

Com o aumento da longevidade, a velhice necessita ser encarada de uma maneira atualizada. Ainda não entendo como certas pessoas, gozando de relativa saúde e disposição, costumam se lamentar quando chegam a alcançar a idade avançada. Quando, na verdade, ganharam mais tempo para aprender, renovar-se e se aperfeiçoar mais na vida.

Perde-se, na idade provecta, parte do vigor e a rigidez juvenil. A lucidez, não necessariamente e, se a perdermos, não sabemos, mas ganhamos outras sabedorias. A idade aumenta a prudência e diminui a avidez pelas bebidas e comidas.

A velhice torna-se uma doença, quando o idoso esquece, em seu gênero, que é uma criatura tão perfeita como um moço. Uma das coisas que o idoso tem de aprender a cultivar é conservar o interesse para as novidades no mundo.

A pessoa, quando envelhece, não fica sozinho; não, porque o filho não presta ou os amigos morreram. Sem perceber, tornam-se chatos, ranzinzas, trombudos, e o pior, julgam-se donos da verdade. Devem lembrar que a gerontocracia é um dos maiores fardos sociais para as novas gerações.

Aprender a dialogar com os jovens é a melhor maneira de combater a solidão. Conheço muitos idosos que estão vivendo intensamente, procurando ser úteis e escutando os moços. Têm o dever de combater os efeitos da velhice praticando exercícios (físicos e mentais), apropriados à sua idade. Saber como dosá-los é o segredo de uma vida saudável. Procurar não levar uma vida embotada, indolente, preguiçosa.

O jovem não deve visitar o idoso para lhe fazer companhia e, muito menos por caridade. Os moços apreciam a companhia do mais experiente, necessitam dele para aprender a viver melhor. Ele, o velho, deve alimentá-los em seus interesses e tem o dever de passar sua sabedoria ao porvir. Se a inteligência é o maior dom que a natureza nos ofertou, a ganância natural do jovem deverá ser aplainada pela experiência dos mais velhos.

Para os jovens aconselho: “Os cuidados pelas pessoas idosas não devem ser uma opressão. Todo exagero é um abuso. A velhice só é honrada na medida em que resiste, afirma seus direitos, não permitindo ninguém lhe roubar o poder de conservar sua ascendência sobre os familiares. Quem disso souber e praticar, envelhecerá em seu corpo, jamais, em seu espírito”.

Há muitos filhos que servem faisão aos seus pais, mas fazem-no com olhar carrancudo e maneiras desagradáveis; esses não escaparão ao castigo. Outros filhos podem até deixar o pai girar a roda de uma moenda num trabalho penoso, mas tratam-no com respeito e consideração; esses decerto serão recompensados. (Talmude)


Uma velha estória que deve ser lembrada:

Certa feita, um jovem avistou um ancião de mais de oitenta anos plantando uma muda de fruteira de longa maturação:

— Hei, velho, plantando uma fruteira? Para quê?

Respondeu-me o velho:

— Eu, meu filho, vivo como se não fosse morrer nunca.

Verdade? Penso eu (agora) nos meus de 85 anos e afirmo: “Nem o jovem vive, nem o velho morre”.


DR. MERALDO ZISMAN – Médico, psicoterapeuta, é natural de Recife – Pernambuco. Saiba mais.

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