SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE LITERATURA JUDAICA BRASILEIRA

Tem por objetivo principal a divulgação de escritores judeus brasileiros e de suas obras em Israel e os links estarão disponíveis a partir do dia 27 de agosto

Realização: Centro Cultural Brasileiro-Tel Aviv (Israel) e Núcleo de Estudos Judaicos da UFMG (Brasil)

Organização: Profa. Lyslei Nascimento (Pós-Lit/UFMG) & Raquel Yehezkel (CCB-Tel Aviv)

Objetivos: O Seminário Internacional de Literatura Judaica Brasileira, promovido pelo Núcleo de Estudos Judaicos da Universidade Federal de Minas Gerais (Brasil) e pelo Centro Cultural Brasileiro CCB-Tel Aviv (Israel) tem por objetivo principal a divulgação de escritores judeus brasileiros e de suas obras em Israel.

Tanto o NEJ/UFMG (http://www.letras.ufmg.br/nucleos/nej/) quanto o CCB-Tel Aviv (https://centro-cultural-brasileiro-brazilian-cultural.business.site/) possuem programações e projetos voltados ao levantamento, ao estudo e à divulgação da excepcional produção dos escritores judeus. Para isso, no NEJ, além de seminários, palestras e cursos locais, criou-se um banco de dados disponível em seu site para consulta. No CCB-Tel Aviv, a série de eventos põe em relevo o variado e rico painel da cena cultural e artística brasileira para o público israelense.

Este seminário, composto por uma conferência de abertura, vídeos com escritores lendo trechos de suas obras, pesquisadores analisando temas e obras, bem como uma oportunidade de interação com os participantes respondendo, a posteriori, a perguntas ou a comentários do público, pretende consolidar o esforço das duas entidades na promoção cultural a que se destinam.

Modalidade: programação on-line (com links para os vídeos a partir de 27/08/2020) e exibição presencial para convidados no CCB-Tel Aviv, observando-se as normas da quarentena.

Programação: os links estarão disponíveis a partir do dia 27/08/2020.

Abertura: Raquel Yehezkel (CCB-Tel Aviv) e Lyslei Nascimento (NEJ/UFMG)

Conferência de abertura: “Leila Danziger ou a tarefa de ‘anarquivar’ os escombros da judeidade na diáspora”, com o Prof. Dr. Márcio Seligmann-Silva (UNICAMP)

Escritores convidados:

1) Ana Cecília Carvalho

2) Cíntia Moscovich

3) Leila Danziger

4) Halina Grynberg

5) Leonor Scliar-Cabral

6) Luana Chnaiderman

7) Noemi Jaffe

8) Paulo Rosenbaum

9) Ronaldo Wrobel

10) Juliano Klevanskis

11) Luís Sérgio Krausz

Comunicações:

1. Vidas e memórias entrelaçadas em As águas do mesmo rio, Giselda Leirner – Ana Cláudia Rufino: (Graduada em Letras da FALE/UFMG) – Resumo: A Shoah marca de forma permanente os judeus e seus descendentes. Suas histórias que atravessaram rios e oceanos, também estão presentes na literatura brasileira. Giselda Leirner cria em Nas águas do mesmo rio, publicado em 2005, um relato em vários níveis, com as histórias impactantes de três mulheres marcadas pela catástrofe. Imagens de um passado traumático são, assim, revisitadas em um presente conturbado, e o destino dessas personagens convida o leitor a refletir sobre transformações, desejadas e possíveis.

1. Memórias indecifráveis em Írizs: as Orquídeas, de Noemi Jaffe – André de Souza Pinto (Doutorando em Letras do Pós-Lit/UFMG) – Resumo: No romance Írisz: as orquídeas, de Noemi Jaffe, publicado em 2015, uma imigrante húngara que se muda para o Brasil, abandonando, nesse movimento, sua terra natal, sua mãe e um companheiro. Em São Paulo, no Jardim Botânico, a narradora dedica-se ao estudo das orquídeas, flores que serão metáfora dessa personagem flutuante e exilada, cujas raízes aéreas e parasitárias caracterizam o seu caráter errático. Além disso, aliado à mutabilidade da protagonista, que evita enraizar-se nos lugares, o seu estudo sobre as orquídeas traduz uma análise da língua, um traço que parece marcar a narrativa de Írisz. Desse modo, esta comunicação analisará, a partir das orquídeas, a ficcionalização de uma história familiar e a elaboração de memórias fragmentadas, dispersas e indecifráveis.

2. Ser judeu e estar no Brasil no século 20 em Moacyr Scliar e Clarice Lispector – Debi Chaimovitch-Yehoshafat (Mestre em Letras pela Universidade Ben Gurión) – Resumo: Na primeira metade do século 20, o Brasil recebeu imigrantes, oriundos dos mais variados países, o que, sem dúvida, marcou o desenvolvimento de sua sociedade e de sua cultura. No primeiro momento, o imigrante, e sua bagagem cultural, ainda conservou seus costumes tentando, ao mesmo tempo, adaptar-se à nova sociedade. Entre os imigrantes que chegaram ao Brasil, encontram- se os judeus provindos da Europa e Oriente Médio. Muitas vezes, a imigração é sinônimo de deslocamento, deixar um lugar e não pertencer a lugar nenhum. Esse sentimento está expresso em A guerra do Bom Fim, de 1972, de Moacyr Scliar, e em A hora da estrela, publicado em 1977, por Clarice Lispector. Esta comunicação estudará essa condição imigratório nos dois romances, considerando que o processo de imigração inclui etapas de adaptação, integração e assimilação.

3. O cotidiano, o corriqueiro e o efêmero nos contos de Cíntia Moscovich em Essa coisa brilhante que é a chuva – Filipe Menezes (Doutorando em Letras do Pós-Lit/UFMG) – Resumo: Sempre renovada e brilhante, a obra de Cíntia Moscovich apresenta o cotidiano, o corriqueiro e o efêmero em suas, aparentemente, simples narrativas. Na coletânea de contos Essa coisa brilhante que é a chuva, 2012, a escritora compila pequenas histórias, reúne narrativas que se entrelaçam e colocam o leitor diante de um mundo, às vezes, curioso ou cruelmente descrito em sua singeleza.

4. O alfabeto poético de Leonor Scliar-Cabral e Noemi Jaffe – Késia Oliveira (Doutoranda em Letras do Pós-Lit/UFMG) – Resumo: De Sagração do alfabeto, 2009, de Leonor Scliar-Cabral, a A verdadeira história do alfabeto e alguns verbetes de um dicionário, 2012, de Noemi Jaffe, a letra constitui um acervo de possibilidades poéticas e narrativas. Ao conceberem a letra como uma unidade mínima de sentido, as escritoras se inscrevem numa tradição de autores que veem no micro, as grandezas do múltiplo. Scliar-Cabral extrai do alfabeto hebraico inúmeras reverberações líricas, transformando letra em poesia, escandindo o sentido do único ao ampliar as conotações das letras. Jaffe, por sua vez, em prosa, redefine o significado da noção de história ao propor para cada letra do alfabeto latino uma inusitada linearidade. no contexto das textualidades judaicas contemporâneas.

5. A guerra em surdina de Boris Schnaiderman: entre memória e ficção – Katryn de Souza (Graduanda da FALE/UFMG) – Resumo: Em Guerra em surdina: histórias do Brasil na Segunda Guerra Mundial, publicado em 1964, Boris Schnaiderman é, o que poderíamos chamar de um intérprete de si e de mais de 20 mil homens da Força Expedicionária Brasileira (FEB) que, assim como ele, foram convocados em 1944 para lutar, no conflito, ao lado dos aliados. A partir do que vivenciou como pracinha numa Itália destruída, o escritor constrói uma narrativa entre o relato factual e a ficção.

6. A presença de midrashim em crônicas de Natal de Clarice Lispector – Laís Maria Rosal Botler (Doutoranda em Estudos Latino-Americanos na Universidade Hebraica de Jerusalém e Rodrigo Baumworcel (Mestrando em Educação Judaica na Universidade Hebraica de Jerusalém) – Resumo: O judaísmo nunca aparece de maneira explícita na literatura de Clarice Lispector. No entanto, como demonstram Gilda Szklo (1989), Nelson Vieira (1989) e Berta Waldman (2011; 2014), a influência judaica pode ser percebida de diferentes formas na escrita de Clarice. Neste trabalho, analisaremos a presença de midrashim na representação do Natal nas crônicas “Anunciação”, “A virgem em todas as mulheres”, “Ele seria alegre” e “A humildade de São José”.

7. Moacyr Scliar: Fazedor de Golems – Márcio Pereira (Mestre em Letras pelo Pós-Lit/UFMG) – Resumo: O judaísmo e a tradição judaica, a revisão histórica, o discurso da ciência, as Escrituras, a memória e a identidade latino-americana, são algumas das linhas temáticas que conformam trama e novelo da obra multifacetada de Moacyr Scliar. A integração de todos esses discursos no jogo infinito da ficção revela a sofisticada teia literária tecida pelo escritor. Não seria diferente quando o autor lida com um mito tão cheio de nuances, como o Golem. Esta comunicação analisará a retomada desse mito, explicitamente, em dois livros de Scliar. De forma literal no romance Cenas da vida minúscula, publicado em 2003, e, obliquamente, em Manual da paixão solitária, de 2008.

Palestras:

1. Escritores sefarditas na Amazônia – Profa. Dra. Alessandra Conde da Silva (UFPA) – Resumo: Os escritores Sultana Levy Rosenblatt, Marcos Serruya, Leão Pacífico Esaguy e Paulo Jacob nasceram na Amazônia e, em suas obras, entretecem a tradição judaica com a rica cultura amazônica. Busco, nesta palestra, analisar em que consiste a inscrição judaica, tomando como análise: Uma grande mancha de sol, 1951, e Barracão, 1963, de Rosenblatt; Chuva branca, 1967, e Um pedaço de lua caía na mata, 1990, de Jacob; Contos amazonenses, 1981, e Enxuga as lágrimas e segue caminho que te determinaste, 1999, de Esaguy; e O cabalista, 2010, e Cabelos de fogo, 2010, de Serruya.

2. O Tribunal do Santo Ofício nas óperas de Antônio José da Silva, O Judeu – Kenia Maria de Almeida Pereira (UFU) – Resumo: O dramaturgo luso-brasileiro Antônio José da Silva, mais conhecido pelo apelido, o Judeu, levou aos palcos de Lisboa oito peças cômicas, classificadas como óperas joco-sérias. Nelas, ele dialoga de forma paródica, ora com a mitologia grega, como, por exemplo, em Anfitrião ou Júpiter e Alcmena, Os Encantos de Medeia e Labirinto de Creta; ora com narrativas canônicas da Literatura Ocidental, como se lê em A vida do Grande Dom Quixote de La Mancha e do Gordo Sancho Pança. Vítima da Inquisição portuguesa do século 18, o Judeu, por meio de simbologias e metáforas, registrou em seus textos, os excessos do poder monárquico e eclesiástico, durante o reinado do Tribunal do Santo Ofício.

3. Lições práticas do Manual de Judaísmo Carioca segundo Paulo Blank – Profa. Dra. Nancy Rozenchan (USP) – Resumo: O romance Mentch, a arte de criar um homem, 2016, de Paulo Blank, propõe-se a dar conta da formação do pequeno carioca Paulo em todas as virtudes e vicissitudes de ser judeu no Rio de Janeiro nos anos 1950, assim como as vivências típicas da cidade de então. Passível de ser abordado sob outras categorias, como romance da maturidade travestido de roupagem de Bildungroman ou como obra típica da cultura judaica, a apreciação do romance se presta a desentranhar aspectos do instigante universo judaico do Rio de Janeiro daquela época.

4. Identidade e testemunho em K. – Relato de uma busca, de Bernardo Kucinski – Ricardo Augusto Garro (UFMG) – Resumo: O romance K. – Relato de uma busca, de Bernardo Kucinski, publicado em 2014, inicia-se com cartas recebidas pelo narrador direcionadas à sua irmã desaparecida durante a ditadura que governou o Brasil entre 1964 e 1985. Esse episódio resgata e põe em relevo uma memória dolorosa de perdas e irreparáveis danos. O desaparecimento, debitado pelo narrador à ação de agentes policiais ligados ao Estado, assume, desde o início, o tom trágico de um crime não redimido pela ação da Justiça, ao mesmo tempo em que articula o presente da narrativa à história recente do Brasil. Esta comunicação analisa a capacidade da ficção de reescrever, em alguma medida, a história, além disso, espero avaliar a conexão da biografia do escritor com narrador do romance.

5. A comida e as dores da memória na obra de Halina Grynberg – Profa. Dra. Sandra Almada (UNIFOR/MG) – Resumo: Halina Grynberg, no romance Mameloshn: memória em carne viva, 2004, trata da dor imposta por lembranças e dos traumas que atravessam gerações passando, certamente, pela alimentação. Nesse relato, a narrativa transporta o leitor para memórias afetivas que antes inquietam que confortam. De forma semelhante, em O padeiro polonês, 2005, a escritora articula a memória sofrida à preparação da chalá o pão trançado, feito pelo pai da narradora. Percebe-se que a comida, nesses dois romances autobiográficos, possui uma linguagem temperada com lágrimas e múltiplas significações.

6. O “estranho” na obra de Samuel Rawet – Prof. Dr. Saul Kirschbaum (USP) – Resumo: A partir da análise da novela Viagens de Ahasverus à terra alheia em busca de um passado que não existe porque é futuro e de um futuro que já passou porque sonhado, de Samuel Rawet, publicada em 1970, esta comunicação abordará a forma com que o escritor – nas palavras de Gilles Deleuze e Felix Guattari, que cunharam a expressão “literatura menor” – representa, em seus escritos, a população hegemônica. Noutras palavras, como a minoria é representada na obra de Rawet. Dessa forma, procuro entender a radicalidade do próprio estranhamento vivenciado por grupos minoritários, em sua manifestação literária.

Conferência de encerramento: “O direito ao corpo nos romances de Bernardo Kucinski e Julián Fuks”, com a Profa. Dra. Maria Zilda Ferreira Cury (Pós-Lit/UFMG)

Encerramento: Lyslei Nascimento & Raquel Yehezkel

Links e mais informações no site do Núcleo de Estudos Judaicos da UFMG: http://www.letras.ufmg.br/nucleos/nej/

Ou pelo email nej.fale.ufmg@gmail.com .

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