REJUVENESCIMENTO FACIAL – ENTREVISTA COM A DRA. ISA DIETRICH, CIRURGIÃ PLÁSTICA – POR GLORINHA COHEN

Envelhecer é um processo natural do ser humano e ninguém consegue escapar das marcas que o passar do tempo inexoravelmente deixa no rosto, abalando, quase sempre, a autoestima e bem-estar das pessoas.

Uma das maneiras para se reverter essa situação é, inegavelmente, o rejuvenescimento facial através da cirurgia plástica, sonho que domina o universo feminino e que é cada vez mais também procurado pelos homens. E com a evolução que a medicina estética tem conseguido nos últimos tempos, os procedimentos se tornaram cada vez mais seguros e com resultados cada vez mais satisfatórios.

Mas, ninguém melhor para destrinchar este assunto do que a cirurgiã plástica Isa Dietrich, Doutora em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Membro Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Membro Fundadora da Sociedade Européia de Engenharia de Tecidos e voluntária no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo como Pesquisadora do Laboratório de Investigação Medica LIM 37 da Faculdade de Medicina. Ela, que acaba de concluir um pós- doutorado na área de engenharia de tecidos e células tronco do tecido adiposo na Universidade de Oxford, na Inglaterra, especialmente nos concedeu esta entrevista.

Tire aqui suas dúvidas e para saber mais acesse: www.isa.med.br .


Cada rosto é único. Às vezes, uma paciente entre os 30 e 40 anos pode ter uma flacidez localizada no terço inferior ou no terço médio da face. Neste caso, você não precisa fazer um lifting completo; o indicado é reposicionar a musculatura daquela região específica com ou sem a cirurgia das pálpebras.

GC – Por que escolheu a medicina?

ID – No ensino médio, quando as ciências biológicas nos foram apresentadas fiquei maravilhada com a perfeição e engenhosidade do funcionamento dos sistemas cardio-respiratórios, digestivo e músculo-esquelético, só para citar alguns. A partir daí tive certeza que era nessa ciência que eu queria me aprofundar.

GC – O que a atraiu na área da cirurgia plástica?

ID – Desde que entrei na faculdade, sabia que queria a carreira cirúrgica. O exercício do ato cirúrgico em si é para mim muito gratificante. Estou feliz quando estou operando. Após os 6 anos de Medicina fazemos 2 anos de Residência em Cirurgia Geral e passamos por todas as especialidades da cirurgia. Quando estagiei na cirurgia plástica e vi a enormidade de possibilidades da cirurgia reparadora e da cirurgia estética tive certeza que esta era a minha área. A cirurgia plástica estética, na minha opinião, requer uma visão artística que enxergue a harmonia única de cada rosto, de cada corpo para evitar resultados exagerados e que chamam a atenção por terem uma aparência estranha. Na cirurgia reparadora, o conhecimento profundo da anatomia, aliado à criatividade, refinamento da microcirurgia e técnicas de transplantes, engenharia de tecidos e próteses inteligentes tem avançado muito na capacidade de recuperação de membros, órgãos e tecidos danificados.

GC – Qual sua especialidade dentro dessa área?

ID – Na clínica privada eu me dedico à cirurgia estética englobando todos os procedimentos da área. E na área acadêmica estudo engenharia de tecidos e células tronco do tecido adiposo. Acabo de concluir um pós-doutorado na área na Universidade de Oxford na Inglaterra. O mais interessante é que meus estudos nessa área, que começaram com um doutorado na França, trouxeram muitos conhecimentos que hoje aplico nas minhas cirurgias estéticas . A mínima manipulação da gordura dos próprios pacientes permite fazer preenchimentos duradouros e naturais na face, no entorno das próteses mamárias para dar um aspecto mais natural, para aumentar o volume da região glútea ou para corrigir depressões.

GC – Se tivesse que escolher outra profissão, qual seria?

ID – Pergunta difícil, porque nunca me imaginei fazendo outra coisa. Mas acho que eu seria artista plástica ou designer de jóias. Algo que aliasse visão estética, artística e habilidade manual.

GC – Existe uma idade ideal para se fazer a primeira plástica no rosto?

ID – Não. Cada rosto é único. Às vezes, uma paciente entre os 30 e 40 anos pode ter uma flacidez localizada no terço inferior ou no terço médio da face. Neste caso, você não precisa fazer um lifting completo; o indicado é reposicionar a musculatura daquela região específica com ou sem a cirurgia das pálpebras. Na maioria das vezes o resultado é muito gratificante justamente porque tratou apenas o problema localizado, sem exageros.

Todos os procedimentos cirúrgicos e também os não cirúrgicos como preenchimentos e aplicação de toxina botulínica têm risco. Não existe procedimento sem risco. A nossa obrigação é diminuir o risco ao mínimo possível.

GC – Algumas pessoas têm medo da anestesia geral. Teria alguma outra forma de anestesia que se possa usar numa plástica facial?

ID – Sim, dependendo do procedimento é possível fazer a cirurgia com anestesia local e sedação. Mas recomendo sempre a presença de um anestesista para trazer segurança e conforto ao paciente.

GC – Quanto tempo, em média, demora o ato cirúrgico?

ID – Um lifting de face completo com tratamento das pálpebras , face e pescoço e injeção de gordura nos sulcos demora em torno de 4 horas.

GC – Qual o tempo de internação?

ID – Quando faço um lifting completo prefiro que meus pacientes pernoitem no hospital no dia da cirurgia. No final do dia passamos visita e na manhã seguinte damos alta . Quando opero apenas as pálpebras, por exemplo, o paciente pode dormir em casa. Sai de alta no mesmo dia.

GC – Quais os riscos de uma cirurgia de rejuvenescimento facial?

ID – Todos os procedimentos cirúrgicos e também os não cirúrgicos como preenchimentos e aplicação de toxina botulínica têm risco. Não existe procedimento sem risco. A nossa obrigação é diminuir o risco ao mínimo possível. Como fazemos isso?

1- Avaliação clínica pré-operatória cuidadosa

2- Operar num bom hospital com condições de atender qualquer intercorrência

3- Escolher um cirurgião plástico com formação sólida e residência médica reconhecida na especialidade

4- Discutir cuidadosamente os benefícios e os limites do procedimento

5- Acompanhar de perto o pós-operatório.

GC – Quais os procedimentos que podem ser feitos em consultório para rejuvenescer a face e quais os mais procurados?

ID – No consultório podemos fazer os peelings (um agente mecânico, ou químico, ou uma fonte de luz como laser) que removem a camada superficial e renovam a pele, podemos fazer os preenchimentos com ácido hialurônico e há ainda a aplicação de toxina botulínica.

GC – Em quanto tempo a pessoa pode voltar às atividades profissionais depois de fazer um lifting de face e pescoço?

ID – Para aquelas pessoas que lidam com o público, em geral, entre 10 e 15 dias.

GC – Por quanto tempo persiste o resultado?

ID – O resultado do lifting 6 a 10 anos, em média. Dos preenchimentos com ácido hialurônico, 3 a 6 meses. Da toxina botulínica, 4 a 6 meses, em média.

GC – Além da plástica facial tradicional existem outras técnicas para rejuvenescer o rosto?

ID – Quando o envelhecimento da face é devido à flacidez, à queda da musculatura, da camada gordurosa e da pele, os preenchimentos não ajudam. Pelo contrário. Na minha opinião, preenchimentos numa face flácida dão um aspecto artificial e estranho e não resolvem o problema. Os preenchimentos e a toxina botulínica são um complemento da cirurgia ou são úteis para tratar pequenos sulcos ou rugas em quem ainda não tem flacidez.

… o uso de células tronco será o grande diferencial. Hoje sabemos que junto com a gordura que injetamos na face, injetamos também uma pequena porção de células tronco. Já conhecemos os métodos para extrair e multiplicar apenas essas células tronco da gordura e este foi o assunto da minha tese de doutorado.

GC – Qual sua opinião sobre a bioplastia, tão utilizada atualmente?

ID – Eu particularmente não faço. A bioplastia utiliza o PMMA, um gel composto de microesferras de acrílico comercializado como metacril para fazer preenchimentos. O PMMA é barato, mas é definitivo e pode causar inflamações e deformações. Embora a ANVISA tenha aprovado o uso em pequenas quantidades para tratar depressões, as Sociedades Brasileiras de Cirurgia Plástica e de Dermatologia não recomendam seu uso para fins estéticos. Eu partilho desta opinião; existem produtos biocompatíveis como ácido hialurôncio que não trazem esses incovenientes.

GC – Quais as cirurgias mais procuradas hoje?

ID – Mamoplastias, lipoaspiração e no meu caso, lifting da face, pescoço e rinoplastia.

GC – Em que patamar está o Brasil quanto ao número e qualidade de cirurgias plásticas?

ID – O Brasil e os EUA ocupam os primeiros lugares em números de cirurgia plástica e a qualidade da cirurgia plástica brasileira é reconhecida mundialmente. Recebemos muitos pacientes de todas as partes do mundo.

GC – Quais as últimas evoluções na medicina estética?

ID – Eu diria que é a terapia celular; o uso de células tronco será o grande diferencial. Hoje sabemos que junto com a gordura que injetamos na face, injetamos também uma pequena porção de células tronco. Já conhecemos os métodos para extrair e multiplicar apenas essas células tronco da gordura e este foi o assunto da minha tese de doutorado. Mas, estes métodos ainda estão em fase de aprovação para aplicação clínica. Quando for aprovada acho que teremos na terapia celular uma grande aliada no rejuvenescimento, por isso fui aprimorar os conhecimentos e me atualizar em Oxford.

GC – Quem procura mais procura a cirurgia plástica, homem ou mulher?

ID – As mulheres ainda são maioria, mas os homens já são 30% dos pacientes porque para eles também é importante manter a aparência adequada ao espírito jovem.

GC – O que recomenda para quem quer fazer uma plástica facial?

ID – Tenha certeza que seu cirurgião possui uma sólida formação. Discuta com ele todas as dúvidas. Escolha junto com seu cirurgião um bom hospital. Tenha expectativas realistas. Siga as orientações pré e pós-operatórias.

GC – Como escolher o profissional?

ID – Peça indicação para seus médicos de confiança sugerirem 2 ou 3 nomes. Também é válido pedir indicação para os conhecidos cujos resultados foram bons. Lembre-se que o que valida um bom médico não é o marketing.

GC – Mensagem para quem quer fazer medicina estética?

ID – Sugestão: trocar Medicina Estética (não é reconhecida) por Cirurgia Plástica. Estude muito, esteja disposto a se atualizar constantemente e saiba que cada paciente é único e uma cirurgia jamais será igual à outra. Dedique-se ao paciente.

Finalizo agradecendo a oportunidade e prestando homenagem à Jaques Joseph, o grande cirurgião da comunidade judaica nascido em Konigsberg, na Prússia, e reconhecido como o Pai da Cirurgia Estética Moderna 1. Ele estudou Medicina e depois Ortopedia em Berlim. Foi durante seu treinamento como ortopedista que ele notou um menino de 10 anos com orelhas em abano. Após estudar cuidadosamente a anatomia das orelhas ele operou o menino. Embora o menino tenha ficado extremamente satisfeito com o resultado, o supervisor do Dr Joseph, Professor Julius Wolff, não compartilhou deste entusiasmo e o dispensou.

O Dr. Joseph retornou então à prática na clínica privada e foi procurado por um homem com um grande nariz que tinha ouvido falar sobre o menino das orelhas em abano. Novamente o Dr. Joseph se dedicou com afinco ao estudo da anatomia e praticou em cadáveres até realizar em 1898 sua primeira rinoplastia. Este feito solidificou sua reputação como cirurgião estético da face.

Embora Tagliacozzi já tivesse enaltecido os benefícios psicológicos das cirurgias estéticas, foi Joseph o líder que retirou a alcunha de banalidade da cirurgia estética. Durante a Primeira Guerra ele esteve no front trabalhando incansavelmente na cirurgia plástica reparadora e foi condecorado pelo próprio Kaiser Wilheim II. Em 1916 ele começou a trabalhar no Charité Hospital em Berlim e e 1919 tornou-se Professor de Cirurgia.

As publicações do Dr. Joseph continuam relevantes e foram fundamentais para meus estudos de rinoplastia.


1-Thomas, R., Fries, A., & Hodgkinson, D. (2019). Plastic Surgery Pioneers of the Central Powers in the Great War. Craniomaxillofacial Trauma & Reconstruction, 12(1), 1–7. https://doi.org/10.1055/s-0038-1660443

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