ENSAIOS SOBRE O “NOVO NORMAL” – POR CLARA NIGRI
Acredito que não perdemos nossa essência. A nossa espinha dorsal foi abalada, desestruturada, mas permanece a capacidade de sustentação da vida que vivemos e da vida que ainda há de se viver. Seremos a mescla daquilo que perdemos e do que estamos construindo em nós mesmos com o “novo normal”.
Muito se fala sobre o “novo normal” relacionando o antes e depois da pandemia, um divisor de águas em nossas vidas. Certamente, 2020 é e será marcado por um evento mundial com impactos em todas as esferas da vida; causando sofrimento, angústia, dor, indignação e consternação.
Embora muito impactante, também de aprendizados na área da saúde e na vida.
Por definição, de acordo com os dicionários Michaelis e Aulete, “normal” é tudo aquilo que é o regular, habitual, a norma, o que é permitido e aceito socialmente, ou aquele indivíduo que não é portador de nenhuma “deficiência” física ou mental.
Do ponto de vista da Psicologia, abordamos a “normalidade”, como terminologia e dilema de muitos profissionais, de ampla discussão sobre a fronteira entre o normal e o patológico, ou seja, aonde termina um e começa o outro. O que é o normal? Qual a referência que temos nesta classificação?
Trazendo essa reflexão para a situação da pandemia, aonde de forma repentina e abrupta rompemos o nosso normal, habitual de vida-diária, perdemos nosso chão, nossas referências. Obrigatoriamente, abrimos mão do nosso conhecido, do apego àquele que nos é familiar.
O “novo normal” deve se constituir a partir do antigo normal, já que hábitos de vida estão internalizados e enraizados em nossa memória comportamental a título de sobrevivência, proteção e continuidade. Estamos em constante processo na aquisição e reconstrução de uma nova forma de vida.
Viver o que é o normal é o padrão construído para nossa segurança e bem-estar. E assim, com o passar do tempo entraremos num novo padrão de normalidade e que nomearemos como vida normal.
Passamos e ainda vivenciamos a dor do luto. Luto por aquilo que chamamos de normal, por aquela forma de vida vivida e conhecida; a realidade de outrora.
E como todo luto, requer o seu tempo de elaboração atravessando todas as fases que a ele pertence. É como repintar um quadro que admiramos e que retrata nossas experiências só que com outras matizes, porém, mantendo a sua essência.
Refazer os caminhos planejados através de trilhas, atalhos um pouco mais um pouco menos espinhosos.
Redesenhar num papel em branco as novas conquistas juntamente com as angústias e sofrimentos os quais fomos marcados pela experiência de uma pandemia.
Acredito que não perdemos nossa essência. A nossa espinha dorsal foi abalada, desestruturada, mas permanece a capacidade de sustentação da vida que vivemos e da vida que ainda há de se viver. Seremos a mescla daquilo que perdemos e do que estamos construindo em nós mesmos com o “novo normal”. E cada um de nós encontrará dentro si o lugar de seu Novo Normal.
Clara Nigri
Psicóloga e Psicoterapeuta em consultório particular
Psicóloga na CM.2 Clínica Multidisciplinar
Voluntária no Hospital Israelita Albert Einstein
Psicóloga no Programa Einstein na Paraisópolis
Diretora da Associação Brasileira de Medicina Psicossomática Nacional
Cel.: 11 – 991127418 – WhatsApp