EIS OS SONS DOS OMISSOS – POR PAULO ROSENBAUM

Por que não se expressam?

O que está ocorrendo no interior das cortes?

Que tipo de reino nos preparam?

Quem desfila nas passarelas da casa dos representantes?

Que leis formulam? Quais legislações perduram?

Por que a cidade foi escondida?

Por que não se expressam?

Porque sabem o valor do medo

E conhecem o silencio que assusta.

Por que não se expressam?

O que há de tão especial ai, no planalto distante?

Manter a opinião pública calada,

A sociedade aviltada?

Planejaram quadras desertas e estradas estreitas

Constranger a circulação? Caminhadas rarefeitas?

Por que não se expressam?

Porque usam aqueles que vociferam te esperando na entrada

Há boatos que virão e devastarão a terra devastada

A ameaça veiculada por palavras de desordem

E narrativas viciadas no conflito

Vez por outra, invasão, veneno, vírus, espoliação, arbítrio

Do front, um porta-voz grita,

Enxergam-se flamulas, um exército de anarquias

A fumaça subindo dos acampamentos

Por que não se expressam?

Os bacharéis não se abalam com o alvoroço

Cultivam feras criadas, guardadas à espreita

Por que não se expressam?

E o que dissimulam nas leis que reformulam?

Por que não se expressam?

Porque eles podem vir hoje, ou nunca

A audácia é oportuna

Por que não se expressam?

Porque precisam do movimento desordenado

Preferem as massas, repudiam sujeitos

Intuíram, que singularidade e emancipação

São problemas avessos à solução

Por que não se expressam?

Porque querem justificar vitórias antecipadas

Notaram que há quem subscreva a liberdade

Por que não se expressam?

Detectaram, eles e seus sequitos, devotos

que crescem os ruídos contra seus votos

Leis? Não formulam, qual atenção emulam?

Por que não se expressam?

Porque a inércia é exata, calculada

Desorientação pautada na bússola, viciada

Por que não se expressam?

Porque a casa de representantes opera na surdina

E a noite é o manto para reuniões nas madrugadas

Estais programando a neutralidade?

Por que não se expressam?

No luxo do parlamento, um magneto sem norte

As comendas e auto congratulações não param

Enquanto o povo vive à própria sorte

Por que não se expressam?

Para aumentar o volume das ameaças selvagens

E encobrir o rumor das urbes abandonadas

Porque enfim redigiram a lei sumária

Eis o som dos omissos

Por que não se expressam?

Porque calaram todos,

e a expressão,

já não é mais necessária.


PAULO ROSENBAUM – Médico e escritor, mestre em medicina preventiva, doutor em ciências (USP) e pós doutor em Medicina Preventiva (FMUSP) , autor de Outro Código da Medicina, Medicina do Sujeito, Novíssima Medicina, Entre Arte e Ciência, as bases hermenêuticas da homeopatia. Na literatura publicou os romances “A Verdade Lançada ao Solo” (Ed. Record, 2010), “Céu Subterrâneo” (Perspectiva, 2016), “A Pele que nos Divide” (Poesia – Quixote-Do, 2018). Desde 2013 edita e publica o Blog “Conto de Notícia” no Jornal O Estado de São Paulo.

Fonte: https://brasil.estadao.com.br/blogs/conto-de-noticia/eis-o-som-dos-omissos/

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