TRÊS ETAPAS PARA DESARMAR UMA PESSOA FURIOSA – RABINO TZVI FREEMAN
Aceite os socos. Engula seu orgulho e devolva balas com flores. Abaixe-se e seja humilde. Pense naquilo que você gosta nessa pessoa. E então desarme a situação inteira com um sorriso. Pratique isso algumas vezes em sua mente.
Você acaba de se sentar para tomar uma xícara de café e de repente uma torrente de ódio surge na sua cabeça. Você deveria mandar alguém embora, porque aquele alguém está vermelho de raiva, ofendendo você, ameaçando-o com consequências, e realmente acabando com seu sossego. Você gostaria de ignorar tudo isso, mas aquela pessoa é o seu chefe.
Ou talvez seja seu cônjuge lembrando algo muito errado que você fez desde o dia em que você nasceu. Ou seu pai acusando você de envergonhá-lo com suas falhas. Ou seu treinador culpando você por estragar o grande jogo. Quem quer que seja, qual é a sua estratégia?
Então aqui vai um conselho de alguém que sabia do que estava falando.
Rabi Shneur Zalman de Liadi teve muitas pessoas gritando contra ele durante a maior parte da vida – seus parentes, seus oponentes que se sentiram desafiados, até seus próprios colegas. Ele era o tipo de pessoa que simplesmente fazia o que sabia que tinha de ser feito – um hábito que muitas pessoas acham bastante ameaçador. Chegou ao ponto em que ele foi acusado e preso sob acusações de traição.
Quando foi declarado inocente e libertado, muitos de seus seguidores se reuniram para atacar aqueles maldosos acusadores. Ele então lhes escreveu uma carta, um verdadeiro clássico, admoestando-os a se manterem calmos e humildes e longe de qualquer briga.
Ao final daquela carta, ele criticamente colocou três versículos de Mishlê – o Livro dos Provérbios. O Rebe, Rabi Menachem M. Schneerson, decifrou aqueles versículos como uma fórmula simples para despachar até seu antagonista mais difícil, maldoso e enlouquecido.1
E tudo em apena três etapas simples:
Primeiro Passo:
“Uma resposta gentil manda a raiva embora.” (Mishlê 15:1)
A neurociência chama isso de “sequestro da amídala”. Um pequeno pedaço de carne do cérebro chamado amídala assumiu a cabina dispersando legiões de hormônios para atacar toda glândula, órgão e músculo do corpo num golpe massivo antes que as funções do cérebro superior tenham uma chance de se livrar.
O neocórtex está preso e o raciocínio racional está suspenso indefinidamente.
Na linguagem comum, ele perdeu. E você é o dano colateral. Sim, seu sangue está correndo numa defesa instintiva. Seu coração está batendo e pronto para a luta. Sua mente está enviando uma longa lista de todos os problemas que vão surgir onde ela dói.
E esta é uma reação muito natural, instintiva. Quando um urso está sob um ataque, ele fica de pé sobre as pernas e se faz parecer como grande e assustador. Bem, há um urso dentro de cada um de nós e quando ele se sente ameaçado quer ficar alto e parecendo importante e grita: “Você sabe quem eu sou? Como ousa me atacar! Espere até ouvir os insultos que posso lançar de volta para você! Vou destruir você!”
Mas essa é a última coisa que você quer fazer. Porque então todos perderão.
Em vez disso, você se refreia, espera por uma pausa (que vai terminar chegando, e você realmente não quer abrir a boca antes então) e escolhe algumas palavras gentis para amenizar o golpe.
Algo que reconheça as emoções do outro. Algo para deixar claro que você não quer entrar em luta. Algo totalmente inesperado.
Devolva o fogo de artilharia com flores. Como um desses – suavemente e sinceramente:
“Estou realmente contente que você está me dizendo tudo isso.”
“Uau, eu não tinha ideia de que tamanha confusão viria disso.”
“Bem, é bom que estamos discutindo isso agora.”
“Sabe, você disse algo certo ali!”
“Não precisamos realmente lutar sobre isso, Ambos na verdade queremos a mesma coisa. Vamos conversar.”
Realmente, é mais aquilo que você não diz do que aquilo que você diz. Seu interlocutor estava esperando um confronto frente a frente, mas você terrminou a batalha antes que ela começasse. Isso torna você um herói. Como diz a Mishná: “Quem é poderoso? Aquele que domina seu próprio impulso.”
E você fez isso como um verdadeiro herói, sem nada falso e sem se fazer de sabichão. Você realmente queria dizer aquilo que disse.
Sim, às vezes é difícil demais. Então há uma dica: Saia da realidade por um minuto. Em vez disso, finja que está tendo uma conversa agradável com uma pessoa perfeitamente calma que está dizendo coisas muito sensíveis. Agora responda da mesma forma.
Obviamente, você vai precisar de algumas dessas respostas sinceras para seu ataque, mas por fim o monstro vai cair ao chão. Porque não há diversão em lutar com alguém que não revida. Gratificação zero, reforço zero, e portanto raiva zero.
Você se livrou do fogo. Mas ainda existe fumaça. A próxima etapa é:
Etapa Dois:
“Um espírito quebrado seca os ossos.” (Mishlê 17:22)
Os gritos diminuíram, mas aquela face fria, dura, pedregosa, pode muito bem ser um esqueleto olhando para você. Não pode aplacar um esqueleto.
Como você estanca os remanescentes daquela raiva e recupera a pessoa viva?
A resposta é se tornar muito pequeno. Sim, isso é contra intuitivo e contra instintivo. Você está sob ataque – como pode se parecer fraco e vulnerável?
Mas isso funciona. Torne-se um ninguém. Não é divertido ficar furioso com ninguém. Até o coração mais duro derrete perante um espírito suave e humilde. Portanto torne-se realmente pequeno dizendo algo que faça sentido real. Algo que reconheça o direito desse sujeito de ficar furioso sem se tornar um idiota total ou dizer que você está errado quando não está. Em outras palavras, admita que você é humano: “Olhe, todos cometemos erros. Tenho feito muitos erros na vida. É por isso que temos de conversar um com o outro.”
“A última coisa que quero fazer é atrapalhar. Sei que não sou o melhor o tempo todo, mas realmente não quero estragar as coisas.”
“Eu realmente não sabia que isso o aborreceu tanto. Por que as coisas feitas por outra pessoa, como eu, significam alguma coisa para você?”
Ele está derretendo. Mas você ainda não está pronta para conversar sobre isto. Pois o que você mais precisa é de uma ausência de raiva. Para isso você precisa de algum tipo de afinidade um com o outro. Para isso você precisa…
Etapa Três
“Como a água reflete um rosto, assim o coração de uma pessoa reflete o de outra.” (Mishlê 27:19)
É tanto um dos nossos pontos mais fracos como uma das qualidades mais redentoras: a reação da imitação. Desde os primeiros dias de vida, aprendemos a atirar aos outros aquilo que eles atiram em nós. Dê um empurrão em alguém e se prepare para o empurrão voltando para você. Sorria e é como se você estivesse quase forçando o outro a sorrir de volta.
Sim, pode ser difícil dar aquele sorriso inicial. Ajuda realmente a gostar do outro sujeito. E deve haver algo que você realmente gosta nele. Mesmo pessoas desagradáveis têm algumas qualidades positivas – e talvez esse sujeito não seja o pior de todos. Sim, talvez seja seu cônjuge, e há uma razão pela qual você se casou em primeiro lugar.
Então descubra aquilo. Concentre-se nisso, concentre-se bem, e esqueça todo o resto. Assim que você puder trazer alguns bons pensamentos sobre essa pessoa em seu coração, o coração dela vai começar a refletir isso. Especialmente se você puder mostrar aqueles bons sentimentos em suas palavras e em sua expressão, tudo vai ser espelhado “como a água reflete uma face.” É garantido pelo Rei Shlomo e pela Torá.
Agora você pode fingir que está tendo apenas uma conversa agradável com essa pessoa de quem você realmente gosta. Imagine que alguém acabou de contar uma piada, e foi realmente engraçada. E você riu. Agora sorria. Há um sorriso retornando para você.
A Prática Leva à Perfeição
Aceite os socos. Engula seu orgulho e devolva balas com flores. Abaixe-se e seja humilde. Pense naquilo que você gosta nessa pessoa. E então desarme a situação inteira com um sorriso. Pratique isso algumas vezes em sua mente. Faça uma tentativa (as oportunidades são muitas). Pratique!
NOTA: A nota do Rebe está incluída em Lições no Tanya, Kehot Publications, em Igueret Hakodesh, Epístola 2.
Rabino Tzvi Freeman, editor sênior de Chabad.org, também lidera nossa equipe Pergunte ao Rabino. É autor de Trazendo o Céu para a Terra. Para inscrever-se e receber atualizações regulares sobre os artigos de Rabino Freeman, visite os Freeman Files.
Rivka usa sua criatividade e conhecimento para criar composições e ilustrações magistrais. Ela compartilha seu amor pela arte e design com seus filhos.