RECEBENDO O QUE É NOSSO – RAV EFRAIM BIRBOJM
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D’us controla, com Supervisão Particular, cada detalhe das nossas vidas. Nenhuma recompensa e nenhum castigo chega até nós sem motivo.
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“Dois comerciantes judeus bem-sucedidos viviam em Pressburg, no Império Austro-Húngaro. Eles tinham uma frota de navios que utilizavam para viajar pelo mundo afora em busca de negócios. Certa vez eles foram presos, com seus navios cheios de mercadoria, pelas autoridades espanholas na costa da Espanha, acusados de pirataria e contrabando, comuns no Mar Mediterrâneo. Como o governo espanhol tinha boas relações com o Império Austro-Húngaro, os dois comerciantes foram tratados com respeito enquanto estavam detidos. Dois funcionários aduaneiros cuidariam deles durante o processo de investigação. Cada um foi levado à casa de um dos funcionários aduaneiros para almoçar e descansar um pouco.
Como ainda havia resquícios da Inquisição na Espanha, qualquer pessoa que fosse suspeita de ser judia era obrigada a se converter ou era queimada em praça pública. Os comerciantes perceberam que se suas identidades judaicas fossem reveladas, eles teriam de enfrentar essa terrível escolha. Portanto, eles não revelaram sua religião e fizeram de tudo para escondê-la.
O primeiro funcionário serviu o almoço ao seu convidado, com frango e vinho, mas notou que ele ficou pálido. O funcionário pediu para que o comerciante o seguisse até o sótão e disse: “Há algo errado. Você ficou pálido quando viu a comida. Você é judeu?”. O comerciante começou a tremer, mas antes que pudesse responder, o homem completou: “Assim como eu”. O funcionário da alfândega era um descendente dos Marranos, que se converteram superficialmente para evitar a expulsão da Espanha, mas secretamente seguiam cumprindo as Mitzvót. Ele fechou a porta do sótão, puxou uma placa do piso e mostrou uma faca brilhante, que era utilizada na Shechitá (abate ritual), e disse ao convidado: “O frango é Kasher, eu pessoalmente o abati”. O comerciante ficou espantado com a Providência Divina, que o havia enviado justamente para a casa daquele judeu secreto.
Quando o inquérito concluiu que não havia nenhum problema com a mercadoria dos navios, os dois comerciantes foram liberados. Quando o primeiro judeu se reuniu com seu companheiro, perguntou sobre suas experiências. O segundo judeu estava perturbado, pois teve que comer carne Não-Kasher para esconder sua identidade judaica. Como era uma questão de vida ou morte, ele considerou que estava permitido comer algo Não-Kasher. O primeiro judeu disse ao amigo: “A mesma coisa aconteceu comigo, mas a Providência Divina fez com que eu fosse hospedado por um judeu secreto que era Shochet, e pude comer carne Kasher”.
O homem ficou fora de si quando ouviu aquela história. Ficou questionando qual havia sido seu pecado, que fez com que D’us encaminhasse seu amigo para a casa de um judeu, enquanto ele foi forçado a comer carne Não-Kasher! Quando voltou para Pressburg, foi imediatamente falar com o Rav Moshé Schreiber zt”l (Alemanha, 1762 – Eslováquia, 1839), o Chatam Sofer. O comerciante contou a história e perguntou: “Rabino, o que eu fiz de errado, já que fui colocado em uma situação na qual tive que comer Não-Kasher?”. O Chatam Sofer respondeu: “Eu tenho uma transmissão oral de que qualquer pessoa que nunca tenha colocado um alimento proibido na boca, D’us garante que essa pessoa nunca vai entrar em uma situação na qual será obrigada a comer algo proibido. Em algum momento no passado você deve ter comido algo proibido ou algo sobre o qual não tinha certeza se era permitido”. O comerciante disse que não era verdade, pois nunca havia comido nada Não-Kasher, mas o Chatam Sofer insistiu. Finalmente, o comerciante admitiu: “Houve um incidente quando eu era ainda recém-casado, e minha esposa preparou um frango. Após trazê-lo do abatedouro, surgiu uma dúvida e ela me fez uma pergunta sobre o frango. Eu era um jovem recém-casado e tive vergonha de dizer que eu não sabia a resposta e que ela deveria perguntar ao rabino. Olhei para o frango e simplesmente disse: “É Kasher”! O comerciante então confessou ao Chatam Sofer que havia comido aquele frango.
O Chatam Sofer exclamou: “É isso! Você colocou na boca algo que poderia ser proibido. Por isso você perdeu a garantia da proteção de D’us. O outro comerciante nunca deve ter colocado qualquer coisa com dúvida de proibição na boca. Ele teve a proteção de D’us para sempre comer somente alimentos Kasher”.”
D’us controla, com Supervisão Particular, cada detalhe das nossas vidas. Nenhuma recompensa e nenhum castigo chega até nós sem motivo.
RAV EFRAIM BIRBOJM – Mestre em Engenharia pela Escola Politécnica da USP, começou seu processo de Teshuvá (retorno ao judaísmo) aos 25 anos, através da Instituição “Binyan Olam”. Saiba mais.
Email: efraimbirbojm@gmail.com