ENCONTRANDO D’US DURANTE TEMPOS DIFÍCEIS – POR CHANA WEISBERG

Você já acordou pela manhã sentindo-se espiritualmente esgotado? Às vezes as dificuldades da vida o atingem, tirando sua serenidade, fazendo-o se sentir desconectado de qualquer coisa mais elevada que a máquina do dia a dia?

Isso acontece a todos nós, e superar essas sensações, reconectando nosso lado espiritual, pode ser um verdadeiro desafio. Como sempre, podemos procurar ajuda na Torá. A vida de nossa matriarca Sarah apresenta uma poderosa lição que nos ensina como lidar com esses tempos difíceis.

A primeira vez que somos apresentados a Sarah, ela e seu marido Avraham, já em idade avançada, são instruídos a deixar sua casa e local de nascimento e viajar para uma terra desconhecida.

Vamos olhar para as fontes. D’us apareceu a Avraham (então chamado Abram) e disse a ele: “Sai de teu país, da tua família, e da casa de teu pai. para uma terra que Eu te mostrarei. Farei de ti uma grande nação, ter abençoarei e teu nome será grande, e serás uma bênção.”

Caracteristicamente, Avraham não hesita um momento antes de obedecer à ordem de D’us.

Portanto Avraham partiu, como D’us tinha dito a ele, e Lot foi junto: Avraham tinha setenta e cinco anos quando partir de Haran. Avraham levou sua esposa Sarai, e Lot o filho de seu irmão, e todas as posses que tinham juntado e as almas que tinham conseguido em Haran, e foram para a terra de Canaã, e à terra de Canaã eles chegaram.

Foi ali, na terra sagrada de Canaã, que Avraham teve uma visão e D’us Se comunica com ele, prometendo que ele herdará essa terra abençoada. A palavra hebraica Canaã, o antigo nome para a terra de Israel, também significa “mercador”. Um mercador simboliza riqueza, fartura, oportunidade. Espiritualmente, também, o nome significa fartura, uma profunda proximidade com D’us.

Na verdade, para Avraham a terra possuía grande riqueza espiritual: D’us apareceu a Avraham e disse: “Para tua semente Eu darei essa terra,” e ali ele construiu um altar a D’us que apareceu para ele… Avraham se comunica com D’us, experimentando um relacionamento muito mais próximo que nunca, como continua o texto: “Ali ele construiu um altar para D’us e chamou o nome de D’us.”

Mas, como acontece frequentemente em nossa vida, um desafio surge no horizonte. Avraham confronta um teste para sua fé. Houve uma escassez na terra, e Avraham foi para o Egito passar um tempo ali, pois a fome estava severa na terra.E ocorreu que quando ele estava para entrar no Egito, disse a Sarai, sua mulher: “Veja, sei que você é uma mulher bonita. Quando os egípcios a virem, dirão: ‘Esta é a esposa dele,’ e me matarão, mas deixarão você viva. Portanto, por favor, diga que é minha irmã, para que eles me beneficiem por sua causa, e minha vida será poupada por causa de você.” Em ensaios futuros estudaremos isso com maior profundidade, e o que Avraham estava realmente pedindo a Sarah. Mas por enquanto vamos nos concentrar na lição metafórica, espiritual, nessas palavras.

Em Canaã, uma terra de fartura espiritual, Avraham e Sarah vivem abertamente como marido e mulher. Eles cuidam um do outro e se veem como somente marido e mulher podem fazer.

Mas então… há uma fome. Espiritualmente, uma fome é um tempo no qual nossa sensibilidade à Divindade se torna mais apagada.

Sarah e Avraham chegam ao Egito – Mitzrayim, em hebraico – um nome que denota restrições e limitação. A fome é um tempo no qual nossa sensibilidade à Divindade se torna apagada. Aqui Avraham instrui Sarah a ocultar seu verdadeiro relacionamento: dizer que ela é irmã dele.

Qual a diferença entre uma esposa e uma irmã num plano espiritual? E o que isso significa para nós em nossa jornada espiritual? Pense em seus irmãos. Como você se relaciona com eles? Às vezes discutem, e às vezes ficam mais próximos. Mas você não escolhe seu irmão ou irmã. Não importa se você o ama ou não, se a ama ou não, irmão é irmão para a vida toda. Há uma conexão subjacente que é constante e inquebrável.

O vínculo com um cônjuge é diferente. É um relacionamento que foi escolhido; está sujeito à mudança. Infelizmente, como vemos cada vez mais – hoje eles estão casados, amanhã ou um ano depois podem estar divorciados.

O relacionamento de irmãos é inato, entranhado, constante. Amor por um cônjuge, por outro lado, é criado. Dois indivíduos separados de famílias separadas se juntam como dois seres distintos e unidos. É isso que dá ao casamento sua intensidade, sua paixão, uma proximidade que não pode ser igualada nem mesmo pelos irmãos mais chegados. Voltemos à lição que a jornada de Avraham e Sarah traz para nossos tempos de desafio espiritual e psicológico.

O Rei Shelomô, no Cântico dos Cânticos (5:2), fala sobre o relacionamento do povo judeu cm D’us como sendo tanto uma irmã como uma esposa. A jornada de Avraham e Sarah nos mostra como nosso relacionamento com D’us pode ter ambos os elementos. A jornada deles também nos ensina como passar por tempos de desafio espiritual e psicológico. AO viver na Terra Santa, em Canaã, um local onde sentimos a presença de D’us em nossas vidas, podemos sentir que D’us é nosso amado, D’us é nosso cônjuge. Da mesma forma, em Canaã, Avraham e Sarah obviamente são marido e mulher. Mas então chega a fome. Um período de mudança. Um período de desafio. Uma situação que nos testa. O reacionamento se torna tenso. E de repente parece que você não está mais tão conectado. Você não sente a riqueza, o “mercador” de Canaã. Em vez disso você sente que está no Egito, um local de meitzarim, limitações. Sozinho. Agora vem a grande lição de Avraham e Sarah – “diga que você é minha irmã.” Note que até em momentos nos quais se sente desconectado de seu D’us, de sua nação, de sua alma, D’us não é apenas um cônjuge, mas também um irmão.

Somos o povo de D’us não apenas porque sentimos isso, mas porque D’us é inato em nosso ser. Como o vínculo entre irmãos, não pode ser ostensivo ou apaixonado. Na verdade, há tempos em que pode parecer completamente adormecido, mas está sempre ali, é uma constante.

Podemos – e deveríamos – ansiar por ter a Divindade dentro de nosso ser, um relacionamento com D’us que seja vivo, vibrante, apaixonado e repleto de amor, como o relacionamento de um cônjuge amoroso. Naqueles tempos, sentíamos como se estivéssemos vivendo na Terra Santa, cercados por bênçãos espirituais. A vida é ótima. Sentimos a conexão. Profundamente. Mas mesmo quando estamos passando por nossas fomes espirituais, nossos tempos de meitzarim, restrições e dificuldades, este episódio com Avraham e Sarah nos ensina que nosso relacionamento com D’us ainda existe. Pode não ser tão apaixonado, mas temos de entender que ainda está presente, e que podemos entrar nele e revivê-lo, agora e para sempre.

Vamos revisar: Canaã adquiriu o significado de “mercador” e “riqueza” (veja Ezekiel 16:29), e representa um nível de fartura espiritual e proximidade com D’us.

Mitzrayim significa “restrições” e “limitações”, e representa um nível de espiritualidade limitada com graves limites nos segurando de volta em Canaã. Avraham e Sarah eram abertamente marido e mulher. Canaã representa aqueles tempos em que nosso relacionamento espiritual com D’us está ao nível de “cônjuge”, um relacionamento desenvolvido no qual nos sentimos apaixonados por D’us.

Em Mitzrayim, Avraham diz a Sarah para falar que é irmã dele. Isso nos ensina que até em tempos difíceis ainda temos um relacionamento inato com D’us, ao nível de “irmã”, onde o amor inato, embora não tão apaixonado, ainda está presente e acessível. (Veja Ohr Hatorah, Vayikra 2:578-581, onde muitas ideias expressas neste artigo podem ser encontradas.)

Chana Weisberg

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Chana Weisberg é a Diretora de Gerenciamento Editorial de Chabad,org. Escreveu vários livros, incluindo o mais recente, Cuidando do Jardim: Os Dons Únicos da Mulher Judia. Ela atuou como reitora de diversos institutos educacionais para mulheres, e faz palestras internacionais sobre temas relacionados a mulheres, fé, relacionamentos e a alma judaica.


Fonte: https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/2975105/jewish/Encontrando-Dus-Durante-Tempos-Difceis.htm

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