VOLTANDO DO FRIO – POR RABINO YOSEF Y. JACOBSON

Chanucá é uma época de dedicação e rededicação à luz e ao calor. Não importa quais sombras estão surgindo e quantos ventos frios estão soprando, temos o poder e a capacidade não apenas de suportar esses desafios, como também de transformá-los em conquistas.

Há mais dor ou alegria neste mundo? Nossas vidas são dominadas por sofrimento e solidão ou por prazer e felicidade?

Numa noite gelada em Nova York, um Presidente sussurrou no ouvido de um Rebe: “Está um frio terrível.” O Rebe respondeu: “Sim, de fato. Nossa obra é aquecê-lo…”

O Presidente era Zalman Shazar de Israel; o Rebe era Rabi Menachem Mendel Schneerson. O ano foi 1971.

Esse episódio me veio à mente quando eu estava acendendo velas de Chanucá hoje à noite, e pensando sobre uma conversa que tive hoje ao telefone. Um senhor que tinha comparecido à nossa experiência de Chanucá na noite passada me ligou com um agradecimento muito caloroso. “Você não pode imaginar o que seu evento fez por mim ontem. Eu mal tinha conseguido sair da cama nesses últimos dias. Sempre que chega a época das festas, o medo de me reconectar com minha família me leva a uma profunda depressão.”

“Veja,” continuou ele, “minha família não é muito regulada. Sei que você entende o que isso significa e prefiro não entrar em detalhes. Porém basta dizer que meu pai sempre foi abusivo com minha mãe, comigo e com a maioria dos meus irmãos. Ele é rico e sempre usou o dinheiro para nos controlar, e nos jogar uns contra os outros. A pior época do ano para mim eram as festas, quando nos víamos forçados a fazer os outros acreditarem que éramos uma família feliz e amorosa. Os anos de reuniões de falsa família e celebrações em Chanucá me desanimaram. E agora, sempre que chega esta época, eu me isolo o máximo possível – simplesmente para fugir da hipocrisia e do sofrimento.

“Um amigo sugeriu que eu fosse à sua festa de Chanucá, dizendo que isso iria me energizar e fortalecer. Com todo o devido respeito eu disse a ele que não tenho essa força e não acredito que haja nada que possa me ajudar, especialmente nessa época do ano. Mas ele insistiu – e de má vontade eu vim.

“A princípio teimosamente sentei-me num canto, simplesmente esperando pela hora de escapar e afirmar minha convicção na desesperança de minha situação. Mas então para minha total surpresa, a energia na sala – as faces das pessoas tão mesmerizadas pela óbvia eletricidade – despertou algo dentro de mim, lá no fundo. Não sei se foram as músicas, o calor, ou talvez algo intangível – mas aos poucos me senti como um morto retornando à vida. O que realmente me abalou foi quando você disse que Chanucá é a história da vida de cada um. Todos passamos por três estágios durante a vida, e às vezes em um dia, e até em uma hora. A sombra, o lampejo e a iluminação. Cada um passará por momentos de dúvida, incerteza e até desespero. Exatamente quando as coisas parecem sem esperança, Chanucá nos mostra que podemos encontrar um pequeno “pote de azeite”, uma centelha de esperança. Aprendemos então como dar vida a essa centelha e transformá-la numa chama permanente e iluminada.

“Eu me sentia como se você estivesse falando diretamente comigo. ‘Como você poderia saber da minha situação se nunca nos conhecemos?’ eu perguntava a mim mesmo. Mas então parei de pensar e me juntei ao grupo, com força total, na celebração.

“Tudo que posso lhe dizer é agradecer-lhe das profundezas do meu coração e alma. Obrigado por acender em mim uma esperança renovada – no período mais difícil do ano. Espero que eu possa manter essa energia revitalizada.”

Admito que fui profundamente tocado pelas palavras deste homem, enquanto reconhecia embaraçadamente que também estava orgulhoso. Sim, meus amigos, esta é a história de Chanucá. Uma pequena chama pode afastar a maior escuridão. Um pouco de calor pode derreter o coração mais frio. E além disso, uma sombria escuridão e o frio amargo podem ser muito reais; mas as sombras e ventos vêm até nós para iluminar a noite escura e aquecer o ar gelado.

Senti-me honrado e abençoado por ter a oportunidade – e trabalhar com uma maravilhosa equipe de almas dedicadas – para trazer um pouco de radiância e calor ao nosso mundo escuro e congelado.

Na última noite nossa experiência de Chanucá foi um exemplo de quanto bem as pessoas podem fazer quando se reúnem como uma, e deixam suas pequenas preocupações do lado de fora, em vez disso permitindo que suas almas aflorem. Com canções, acendimento de velas, música – e sim – um som primitivo – liberamos alguma luz e calor, com muita paixão. Foi quase eletrificante, devo reconhecer.

Sem dúvida milhares de celebrações como essa estão ocorrendo em todo o mundo neste Chanucá, como tem ocorrido durante dois milênios. “Essas chamas”, escreveu Nachmanides, “jamais serão extinguidas.”

Chanucá é uma época de dedicação e rededicação à luz e ao calor. Não importa quais sombras estão surgindo e quantos ventos frios estão soprando, temos o poder e a capacidade não apenas de suportar esses desafios, como também de transformá-los em conquistas.

Neste Chanucá, que cada um de nós decida construir uma pequena lareira em nosso ambiente. Dê boas vindas às pessoas que vêm do frio. Amigos, estranhos – todos podem usar um pouco de bondade extra. Há muitas pessoas lá fora. Algumas aprenderam a se acostumar com o frio, outras ficaram geladas, e outras ainda compraram casacos e abrigos, talvez até mais de uma e permanecem escondidas por baixo de camadas e camadas de proteção. Somos abençoados com o dom e a responsabilidade de criar um oásis caloroso, e receber as pessoas que estão nas ruas impiedosas e planícies sem nome – e trazer à vida o calor inato dentro da alma de cada um, que é essencialmente uma chama piloto Divina esperando ser acendida.

Rabino Yosef Y. Jacobson é editor de Algemeiner.com, um site de notícias e comentários judaicos em inglês e yidish. Rabino Jacobson também faz palestras sobre ensinamentos chassídicos, sendo muito popular e bastante procurado. É autor da série de fitas “Um Conto Sobre Duas Almas”.

Fonte: https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/3524916/jewish/Voltando-do-Frio.htm

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