QUANDO SE FICA RICO? – RABINO YTSCHAK ZWEIG
Aquele que sabe quando ‘suficiente’ é suficiente, sempre terá o suficiente!
Algumas semanas atrás, um amigo me contou a seguinte história: seu filho estava jogando basquete com alguns amigos. A certa altura, levou uma bolada na boca e uma coroa do dente saltou. Depois de uma busca infrutífera, ele voltou para casa e contou à mãe.
A esposa do meu amigo encontrou a coroa em pouco tempo. O filho disse com espanto: “Mãe, procurei por 15 minutos e não consegui encontrá-la – como você a encontrou tão rapidamente?” Ela explicou: “Você estava procurando por um pedacinho de plástico e eu estava procurando por R$ 1.000!”
Compreender o verdadeiro valor das coisas e sentir gratidão pelo que se tem é uma das chaves para a felicidade ao longo da vida. Infelizmente, a natureza humana não tende por esse caminho. Nossos Sábios ensinam: “A pessoa que tem 100 quer 200 e a pessoa que tem 200 quer 400” (Kohelet Raba 1:13).
Empiricamente, não faz diferença sobre quais somas estamos discutindo. Ou seja: mesmo que uma pessoa tenha 100 milhões de dólares, ela vai querer chegar a 200 milhões; se tem 200 milhões, vai querer 400 milhões.
Honestamente, existe alguma diferença significativa na qualidade de vida de alguém entre ter 100 milhões de dólares e ter 200 milhões?
No entanto, há claramente um desejo insaciável de acumular cada vez mais. Isso provavelmente explicaria por que o mundo tem cerca de 2.500 bilionários. A menos que tenha adquirido riqueza à moda antiga – herdando-a – parece haver uma força poderosa que impulsiona a pessoa a continuar pondo energia, esforços e tempo trabalhando para ganhar cada vez mais.
A leitura da Torá desta semana nos ensina uma interessante lição sobre riqueza e também sobre como a pessoa pode saber quando está satisfeita com o que tem. Aparentemente, o objetivo é saber quando temos o suficiente, mas isso é obviamente muito difícil de alcançar. (De forma semelhante, muitas pessoas têm o mesmo problema quando se trata de comer: como incorporar um hábito que lhes permita não comer demais?)
D’us decretou que os descendentes de Avraham (Abraão) iriam para uma terra estranha e se tornariam escravos lá por 400 anos (Gênesis 15:13). No versículo seguinte, o Todo-Poderoso promete a Avraham que, quando saíssem de sua escravidão, eles o fariam com grande riqueza. Como Ele cumpriu essa promessa?
O Criador pediu a Moshe para que o Povo de Israel pedisse a seus vizinhos egípcios joias e roupas finas para que, quando saíssem do Egito, tivessem riqueza (Êxodo 11:2). Eles fizeram isso e conseguiram acumular presentes de despedida significativos (ibid 12:35-36). No entanto, de acordo com nossos Sábios, tudo o que conseguiram dos egípcios quando estavam partindo ‘empalideceu’ em comparação com o tesouro que recolheram dos soldados egípcios que vieram para matá-los, mas ao invés disso foram afogados por D’us no Mar Vermelho.
Antes de continuarmos, gostaria de fazer um ‘parêntesis’. Ao ler os dois parágrafos acima (ou a história original da Torá sobre esse assunto), poder-se-ia sair com a sensação de que os ex-escravos levaram erroneamente a fortuna da população egípcia. De fato, o Talmud (Sanhedrin 91a) relata que essa mesma acusação foi levantada perante a corte de Alexandre, o Grande, uma vez que ele conquistou toda a Eurásia.
O Povo de Israel foi intimado a responder à alegação dos egípcios de que roubaram seu ouro e prata ao deixar o Egito e nunca os devolveram. E tinham provas: a própria bíblia da nação judaica corroborava a sua acusação!
Guevia Ben Pessissa, um sábio que aparece apenas uma vez em todo o Talmud, deu a seguinte resposta: “Vocês têm uma reivindicação legítima, pois a Torá registra que deixamos o Egito com muito de seu ouro e prata”.
“Porém a mesma Torá relata que fomos escravos por 430 anos (Êxodo 12:40) – então, temos uma reivindicação! Pague-nos o salário de 600.000 escravos que trabalharam dia e noite durante 430 anos; esses salários certamente excedem qualquer coisa que poderíamos ter recebido quando deixamos o Egito!”. Alexandre, o Grande, voltou-se para os egípcios e exigiu que respondessem à argumentação. “Dê-nos 3 dias para responder”, imploraram os egípcios. Ele lhes concedeu o tempo e eles desapareceram e nunca mais voltaram.
Voltando à nossa discussão, a Torá registra na parashá desta semana que havia tanta riqueza às margens do Mar Vermelho que Moshe (Moisés) literalmente teve que afastá-los da praia. Isso porque todo o ouro precioso, prata e joias finas que os soldados egípcios usavam (eles até adornavam seus cavalos com joias!) afundaram no mar Vermelho quando eles e seus cavalos se afogaram. No entanto, o Todo-Poderoso fez um milagre e o mar trouxe toda essa riqueza e a depositou na praia, onde o Povo de Israel pôde coletá-la.
Moshe queria que o povo judeu deixasse a praia. Todavia, mesmo depois de terem coletado uma grande quantia, ainda havia mais e eles não queriam ir embora.
Esta história levanta a seguinte questão: já que todo o episódio foi um milagre, por que D’us simplesmente não trouxe a quantidade exata que Ele queria que o povo recebesse? Uma vez que tivessem recolhido tudo, eles certamente teriam saído por conta própria, sem que Moshe tivesse que admoestá-los a sair. Por que o mar deveria depositar nas margens mais do que deveriam receber? Além disso, por que Moshe se importaria se eles ficassem e pegassem mais?
Há uma mensagem muito profunda aqui. D’us prometeu ao nosso Patriarca Avraham que o Povo de Israel sairia da escravidão rico. Mas em que ponto a pessoa pode se considerar rica? Em que ponto estará satisfeita com o que tem?
A resposta é: quando for capaz de deixar ouro, prata e joias preciosas no chão à sua frente, virar as costas e ir embora. Isso é o que Moshe estava tentando ensinar-lhes: “Vocês estão ricos agora e não precisam de mais nada!” Quando perceberam que tinham tanto que não precisavam de mais, finalmente entenderam que eram de fato ricos e deixaram a praia. Assim o Criador cumpriu sua promessa a Avraham.
Quando a pessoa consegue olhar honestamente para tudo o que tem e dizer: “Tenho o suficiente”, então poderá finalmente se afastar das pressões, do tempo e do espaço mental necessários para permanecer na ‘roda viva’ de ganhar dinheiro. Mais importante: poderá começar a se concentrar em outros empreendimentos enriquecedores (família, viagens, adquirir conhecimento, etc.) e realmente começar a desfrutar de todas as bênçãos que tem!
Pensamento: Aquele que sabe quando ‘suficiente’ é suficiente, sempre terá o suficiente!