OS PRINCÍPIOS BÁSICOS DA TERAPIA (SOB A PERSPECTIVA DA TORÁ) – POR SIMON JACOBSON
Somente com total aceitação de D’us um terapeuta pode aprender a elevar-se acima de si mesmo e ajudar o outro com total devoção, e dar ao cliente a confiança de que sua dependência do terapeuta não comprometerá o “eu” do cliente.
1. Os problemas nunca são o que parecem ser. A irritação e aborrecimento nunca são as razões pelas quais as pessoas dizem ou até pensam.
2. Dificuldades interpessoais se originam naquelas intrapessoais.
3. A raiz de todos os conflitos é a dicotomia entre corpo e alma.
4. O ser subjetivo é incapaz de subir totalmente acima de si mesmo para descobrir a verdadeira raiz de seus problemas. A pessoa precisa de um observador objetivo e inteligente para ajudá-la a examinar-se (os critérios necessários para um observador, veja abaixo no Nº 10).
5. Todo ser humano foi criado independente; uma entidade auto contida com um papel único. Na imagem de D’us que é único e indivisível.
6. A alma de toda pessoa permanece pura e intacta. E boa. Abuso e dano – todas as formas de distorção – somente podem ocorrer nos canais que conectam a alma com experiência consciente ou subconsciente. A diferença entre as pessoas não está nelas tendo uma alma mas em sua percepção disso.
7. Cada um tem a capacidade de acessar sua alma pura. Todos devem assumir responsabilidade sobre si mesmos (em vez de culpar o outro pelos seus problemas). A ajuda que eles necessitam está somente em aceitar aquela responsabilidade e desvendar as distorções e confusão resultantes, e abrir um caminho rumo ao crescimento positivo.
8. O papel do professor e do ajudante (terapeuta) é exatamente este: ajudar o indivíduo a obter clareza, aceitar a responsabilidade e aprender o método adequado para acessar sua alma. Como um jardineiro, que arranca as ervas daninhas, permitindo que as flores surjam.
9. Dois grandes obstáculos nesse processo são: Negativa. A incapacidade de reconhecer a existência de um problema, que obviamente compõe o problema muitas vezes e tem um efeito cascata de acrescentar camada após camada de novas distorções e complicações. Metade da cura é percepção da doença. B) A confusão causada pela mistura de mecanismos de comportamento saudável e doentio. Isso torna extremamente difícil distinguir entre os dois, e por sua vez acrescenta aoa processo de negação.
10. Os requisitos básicos necessários para um bom professor e terapeuta: a) Cuidado e sensibilidade. b) Empatia. c) Sabedoria. d) Conhecimento e experiência, competência e habilidade no estudo da natureza humana. e) Confiança. f) Humildade. g) Respeito absoluto pela dignidade e independência humanas; toda pessoa tem de assumir responsabilidade pessoal pelo seu comportamento. Em termos judaicos: fé completa em D’us e na alma divina em cada pessoa criada à própria imagem de D’us. h) Total convicção de que todas as experiências humanas são parte de um processo de crescimento. i) Flexibilidade e imaginação. Apreciar e respeitar as diferenças entre as pessoas e portanto não encaixá-las em nenhum molde (sem comprometer #h). j) Reconhecimento das próprias limitações e subjetividade. k) Metodologia e técnica. i) Aceitação sem questionar todos os requisitos acima.
O processo de terapia geralmente irrompe nas seguintes etapas:
1. Estabelecer confiança e abrir um canal de comunicação.
2. Ouvir os problemas e ajudar a defini-los sob a perspectivado do aluno ou cliente.
3. Orientar o cliente a redefinir lentamente os problemas sob uma perspectiva mais sincera e objetiva. Incluindo um exame das respostas e pontos cegos do cliente.
4. Estabelecer que o cliente é responsável por si mesmo (se ele não for, então precisa de outra forma de ajuda). Definir o que aquela responsabilidade abrange.
5. Especificar e definir sem equívocos os papeis do terapeuta e do cliente, deixando absolutamente claro que o terapeuta é treinado somente para ajudar o cliente a ajudar a si mesmo. O terapeuta presta cuidado e apoio, mas não é uma muleta e não inicia o choro e a necessidade de ajuda. Não é um relacionamento pessoal e recíproco. Esses pontos devem ser enfatizados repetidamente, conforme necessário.
6. Reconhecer se esta dinâmica entre terapeuta-cliente não está funcionando. Isso pode ser por várias razões, incluindo às vezes o humilde reconhecimento por parte do terapeuta de que o melhor terapeuta somente pode ajudar aquele que está disposto a ajudar a si mesmo, o que geralmente exige que o cliente tenha atingido o fundo do poço e procure desesperadamente ajuda. Nenhum terapeuta pode substituir esse grito por ajuda.
7. Desenvolver um processo de movimento e crescimento com o objetivo de elevar-se acima de si mesmo e se relacionar com uma realidade superior. Isso deve ser feito passo a passo, no ritmo do cliente, permitindo que ele seja internalizado.
8. Definir o objetivo em termos simples. Analisar consistentemente a meta e ilustrar como todas as muitas etapas elaboradas para alcançá-la são apenas um meio para atingir esse objetivo. Estabelecer isso é crucial no processo, primeiro porque dá ao cliente (e ao terapeuta) um senso de direção e o impede de se afastar devido a diferentes distrações. Segundo, trata o cliente com respeito, sabendo que ele está sendo orientado a ajudar a si mesmo, e capacita o cliente com a sensação de controle sobre sua própria vida.
9. Persistência e tenacidade, jamais perdendo de vista a meta inicial.
10. Consistência na devoção e cuidado pelo cliente.
11. Convicção e garantia do progresso. Reconhecer o potencial e, de fato, a necessidade de contratempos; mas reconhecendo que o objetivo principal não é a rapidez e a distância que se alcança, mas o movimento constante, e não a inércia. Enfatizando que qualquer movimento, para frente ou para trás, qualquer sensação, dor ou prazer, raiva ou alegria, é melhor que letargia e insensibilidade.
12. Revisão frequente {com uma parte objetiva} do processo de tomada de decisão do terapeuta. Com ênfase especial nas atitudes e sentimentos do terapeuta.
13. Reconhecer quando desistir. Quando permitir que o cliente caminhe (ou voe) por conta própria, mesmo à custa de cair. Somente então ele pode realmente aprender a caminhar por si mesmo. Na verdade isso deveria ser reformulado: durante todo o processo terapêutico o cliente deveria estar caminhando (e caindo) sozinho com orientação gentil do terapeuta. O terapeuta deve reconhecer se o cliente está se tornando dependente do terapeuta e então ajudá-lo a se tornar auto-dependente.
Armadilhas para desconfiar do lado do cliente:
1. Um cliente excessivamente manipulador que deseja engajar o terapeuta em batalha ou aprecia jogos mentais.
Solução: Se o terapeuta é incapaz de progredir devido à atitude do cliente – confronte-o (às vezes com delicadeza). Estabelecer as razões de sua atitude e se ela pode ser superada. Caso contrário – deixe claro para o cliente por que a terapia não pode continuar nessas circunstâncias.
2. Super-dependência no terapeuta. Este é um problema particularmente difícil porque: a) o cliente precisa confiar no terapeuta e geralmente tem questões de confiança com um padrão de ninguém em quem confiar na vida, b) da necessidade frequente de “transferência”.
Solução: Fé absoluta e respeito ao espaço pessoal e à responsabilidade de um indivíduo, reconhecendo que ninguém, (mesmo com o maior esforço) jamais pode entrar no espaço “sozinho” (o mais íntimo) de outra pessoa. Foi assim que D’us criou os seres humanos. Nas palavras de Hillel: “Im ayn Ani Le Mi Le,”, Se eu não for por mim mesmo, quem será por mim.” O terapeuta treinado e temente a D’us sabe que “Im ani l’atzmi moh ani,” “Se eu sou por mim mesmo o que sou eu, ”não compromete o “Eu”, mas somente vem para nos ensinar que com a ajuda de outro a pessoa pode aprender a ampliar e acessar seu próprio “Eu”.
Somente com total aceitação de D’us um terapeuta pode aprender a elevar-se acima de si mesmo e ajudar o outro com total devoção, e dar ao cliente a confiança de que sua dependência do terapeuta não comprometerá o “eu” do cliente.
Armadilhas a serem percebidas do lado do terapeuta:
3. Um terapeuta excessivamente manipulador. Especialmente uma pessoa inteligente que pode manipular o cliente, mesmo se for no melhor interesse do cliente. Onde você desenha a linha entre manipulação saudável e insalubre?
4. O senso de controle que um terapeuta assume sobre a vida do cliente ouvindo as questões mais íntimas do cliente, sem qualquer reciprocidade.
5. A afirmação que um terapeuta obtém da confiança do cliente nele, que pode levar a uma dependência reversa ou “contra-transferência.”
A solução (a #3-5 acima): Além dos métodos óbvios de revisão constante de casos., especialmente com um supervisor objetivo, a Torá exige do terapeuta um altruísmo sem compromisso, ausência total de ego, a tal ponto que o terapeuta tem de ser o mais severo juiz de si mesmo, e deve se sujeitar ao total escrutínio de alguém que ele respeita e confia.
A abordagem do terapeuta ao lidar com um cliente deve ser com a maior reverência e humildade, reconhecendo a enorme responsabilidade que ele tem por lhe ser permitido entrar nos recantos mais sagrados e íntimos da alma do filho de D’us. Ele tem que visualizar D’us acima dele o tempo todo observando atentamente: como você está lidando com Meu filho? Nada menos é requerido do terapeuta.
Simon Jacobson
Rabino Simon Jacobson é autor do campeão de vendas Rumo a Uma Vida Significativa: A Sabedoria do Rebe (William Morrow, 1995), e fundador e diretor do Meaningful Life Center.
Fonte:
https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/4676761/jewish/Os-Princpios-Bsicos-da-Terapia.htm