PESSACH 5782 – 2022 – POR BERNARDO SORJ

Celebramos Pessach para lembrar que todos nós carregamos um pequeno Faraó que quer impor suas opiniões, que não ouve nem respeita quem pensa diferente. Um pequeno Faraó que se alimenta de insegurança e de medos, de narcisismo e de falta de compaixão.

Celebramos em Pessach o reencontro com familiares e amigos.

E é bom.

Celebramos em Pessach a história da luta do povo de Israel pela sua liberdade.

E é bom.

Celebramos Pessach para refletir sobre as novas formas de servidão e de despotismo.

E é muito bom.

Refletir sobre os faraós atuais que transformam seus sonhos megalomaníacos em pesadelos de outras nações, negando-lhes o direito a existência.

Faraós que transformam uma mão em forma de pistola em símbolo de sua proposta para a sociedade, e sacrificam seu povo em tempos de pandemia no altar da ignorância.

Sem esquecer aqueles que, como na história bíblica, se dispõem a colaborar com os Faraós, somente pensando em seus benefícios pessoais.

Celebramos Pessach porque representa a passagem de um clã unido pelo relato do patriarca Abraham, que eliminou o sacrifício humano do culto ao divino, a um povo conectado pelo sentimento de um destino construído coletivamente, e cuja missão e valores corresponde a cada geração renovar.

Celebramos Pessach porque representa a passagem do poder arbitrário, para o governo da lei escrita, válida para todos.

Celebramos Pessach para lembrar que todos nós carregamos um pequeno Faraó que quer impor suas opiniões, que não ouve nem respeita quem pensa diferente. Um pequeno Faraó que se alimenta de insegurança e de medos, de narcisismo e de falta de compaixão.

Celebramos Pessach para que nossos filhos nos perguntem:

– Por que não param de olhar o celular quando falamos com vocês?

– Por que consomem tantos produtos supérfluos?

– Por que não são mais prudentes quando nos julgam?

– Por que não aprendem conosco a manterem acesa a chama da curiosidade e da descoberta?

A ceia de Pessach é uma tradição que nos permite enxergar que nosso bem individual está entrelaçado com o bem comum, e que na convivência e no respeito mútuo aprendemos a ser melhores seres humanos.

Por tudo isto, agradecemos:

Shehechyanu, ve´quimanau ve’higuianu lazman haze.

Que vivemos, que existimos, que chegamos a este momento.


BERNARDO SORJ

Bernardo Sorj, cursou o B.A. e M.A. em História e Sociologia na Universidade de Haifa, Israel, e obteve o título de Ph.D. em Sociologia na Universidade de Manchester, Inglaterra. Foi professor de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais, do Instituto de Relações Internacionais da PUC/RJ e professor titular de Sociologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi professor visitante em diversas universidades e centros de pesquisa na Europa, Israel e nos Estados Unidos. Autor de 30 livros publicados em várias lingas e mais de 100 artigos acadêmico. Atualmente é diretor do Centro Edelstein de Pesquisas Sociais e de Plataforma Democrática.

bernardosorj@gmail.com

www.bernardosorj.com

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