DR. LUIZ FERNANDO MICHAELIS, CO-FUNDADOR E CEO DA HEFESTO MEDTECH – POR GLORINHA COHEN

A idade não é obstáculo para se medir o sucesso já alcançado por este paulistano que dia 26 de agosto completa 37 anos. Torcedor do São Paulo Futebol Clube, filho caçula de Eve Pekelman e Roberto Michaelis, Luiz Fernando tem como hobby a prática de jiu-jitsu, tênis e musculação, sem, é claro, jamais abrir mão dos momentos que passa com a família, seu ponto de apoio e de inspiração – possui uma filha e espera a chegada de outra para breve.

Ex-aluno do Colégio Pueri Domus e formado pela Faculdade de Medicina do ABC (FMABC), chegou a pensar em fazer Direito e Jornalismo para, finalmente optar pela área da saúde, entrando na faculdade querendo ser cardiologista. Foi só depois que o gosto por esportes falou mais alto e a lembrança de um tratamento que fez no joelho quando tinha 16 anos mostrou o caminho que deveria seguir: ser ortopedista e traumatologista.

Mas, nem tudo foi “um mar de rosas” na carreira e, descontente com os materiais e tecnologias usados na Ortopedia, resolveu se dedicar ao desenvolvimento destas áreas “tendo em mente que a medicina atual pede mais personalização e precisão, tratamentos mais focados no indivíduo e menos na doença em si, além da população desejar intervenções menos invasivas”. Baseado nestas premissas, surgiu a Hefesto Medtech, empresa que veio para revolucionar o mercado da Ortopedia e Traumatologia com seus produtos personalizados.

Hoje ele não consegue se ver em outra profissão, mas acha que, se pudesse escolher uma carreira fora da medicina e da administração, seria atleta profissional (de baseball ou de tênis).

Para conhecê-lo melhor e saber detalhes da Hefesto Medtech, leia esta entrevista exclusiva que nos foi dada.


O primeiro produto da Hefesto foi a PETLock Orthosis®, nossa órtese personalizada por impressão 3D. Ela vem com o objetivo de substituir o gesso ortopédico que é uma tecnologia de meados de 1850 e usamos até hoje. Melhorar o tratamento conservador (não operatório) e reduzir a quantidade de tratamentos cirúrgicos é o principal motivo da existência dela.

GC – Em que área você atua e porque a escolheu?

LFM – Sou Ortopedista e Traumatologista. A escolha não foi óbvia e nem antiga. Já gostava da área e participei de alguns trabalhos acadêmicos na área durante a graduação, mas até o último ano pensava em ser cirurgião. A decisão veio ao começar a ponderar o que queria fazer para minha vida inteira e pesou o meu gosto por esportes e eu ter me lembrado de um tratamento que fiz no joelho quando tinha 16 anos, que me mostrou um pouco da especialidade e do meu gosto por ela. Após, comecei a ver algumas cirurgias na área nos hospitais da faculdade e acabei optando por ela.

GC – Ortopedista e traumatologista com mais de 10 anos de experiência, hoje você é CEO da Hefesto Medtech. O que o levou a criar a empresa?

LFM – A Hefesto vem de um descontentamento extremo com o ambiente da Ortopedia. Lembro que estava fazendo um Fellowship de Oncologia Ortopédica no HC-FMUSP e questionava meus chefes sobre alguns materiais e tecnologias que estávamos usando e a resposta passava por “tem lá fora, mas não aqui” ou “isso não existe”. Nunca tinha considerado trabalhar com desenvolvimento tecnológico apesar de gostar muito de tecnologia desde cedo, mas sempre estava me questionando. Percebi que como médicos fazíamos mais reprodução de técnicas e pouco desenvolvimento e quando um dos meus chefes me contou sobre um colega na China que havia feito um estudo para desenvolver um dispositivo para cirurgia minimamente invasiva, pensei: “por que eu não faço isso?”. E então comecei a minha jornada dentro da tecnologia médica. Encontrei um colega que tinha o mesmo interesse e após algumas conversas e estudo da dinâmica do mercado, decidimos que fundar e começar uma empresa era a melhor forma de tirar nosso projeto do papel.

GC – Qual o propósito da Hefesto e que tipos de produtos ela produz?

LFM – A Hefesto vem para revolucionar o mercado da Ortopedia e Traumatologia. Temos em mente que a medicina atual pede mais personalização e precisão, tratamentos mais focados no indivíduo e menos da doença em si, além da população desejar intervenções menos invasivas. A Hefesto, portanto, trabalha para criar produtos personalizados (atualmente, usamos a impressão 3D para isso) para tratamento de fraturas não operatórias e auxílio ao tratamento cirúrgico de fraturas. Fazemos imobilizações personalizadas por impressão 3D em polímeros recicláveis (a PETLock Orthosis®) a partir de um escaneamento 3D por telefone celular (única empresa do Brasil a desenvolver esse tipo de tecnologia e uma das únicas do mundo) e fazemos também peças anatômicas impressas em 3D (biomodelos) e guias cirúrgicos personalizados em 3D (peças que auxiliam o cirurgião a ter mais precisão, reduzindo o tempo total cirúrgico e o sangramento na cirurgia).

GC – Qual foi o primeiro produto feito pela Hefesto?

LFM – O primeiro produto da Hefesto foi a PETLock Orthosis®, nossa órtese personalizada por impressão 3D. Ela vem com o objetivo de substituir o gesso ortopédico que é uma tecnologia de meados de 1850 e usamos até hoje. Melhorar o tratamento conservador (não operatório) e reduzir a quantidade de tratamentos cirúrgicos é o principal motivo da existência dela. Vemos que a medicina focou muito nas tecnologias de intervenção cirúrgica e o tratamento não-cirúrgico perdeu investimentos com o avanço das técnicas operatórias e queremos dar mais enfoque nisso, dado que mesmo hoje a maior parte dos tratamentos são feitos de maneira não operatória e grande parte das cirurgias ainda usa imobilização após.

GC – Quais as dificuldades nessa área?

LFM – A maior dificuldade dessa área ainda é a resistência do mercado na adoção de novas tecnologias e as barreiras de entrada por necessidade de investimento e demandas regulatórias intensas. Os médicos ainda sentem o desconforto de acharem que serão substituídos pelas tecnologias. A realidade é que o intuito dos novos produtos é ajudá-los a tratar melhor os pacientes. Obviamente, haverá mudanças no mercado que exigirão novas habilidades e modificarão o modo como atuamos, mas o médico não será substituído tão cedo.

Creio que o que a medicina mais precisa, atualmente, é mais gente capacitada em gestão

e com a seriedade de gerar as mudanças necessárias para tornarmos novamente a saúde

uma área mais equilibrada, com menos gastos e intervenções mais assertivas

que tragam real benefício a quem precisa.

GC – Atualmente você exerce mais a função de médico, ou de empresário?

LFM – Atuo mais como empresário. Ainda tenho 36h semanais que atuo como médico, mas estou disponível todos os dias com dedicação intensiva à empresa.

GC – Dentro da medicina, o que mais o encanta e frustra?

LFM – O que mais me encanta, com certeza, é a nossa possibilidade de tocar e melhorar a qualidade de vida e a saúde das pessoas de maneira real, não platonicamente. O que mais me frustra é o modo com que o mercado de saúde tem sido tratado nos dias de hoje. A medicina se tornou área de interesse geral e vemos interferências na área por não médicos causarem problemas terríveis e dissonâncias no mercado que afetam médicos e pacientes, assim como a extrema mercantilização da profissão que causa aberrações na forma de tratar pacientes.

GC – Se pudesse, o que melhoraria na sua área?

LFM – Creio que o que a medicina mais precisa, atualmente, é mais gente capacitada em gestão e com a seriedade de gerar as mudanças necessárias para tornarmos novamente a saúde uma área mais equilibrada, com menos gastos e intervenções mais assertivas que tragam real benefício a quem precisa. Gestão e capacitação são os pontos chave.

GC – Como acha que o Brasil está em termos de saúde?

LFM – O Brasil tem uma estruturação muito boa conceitualmente do sistema de saúde. Porém, a corrupção e má administração impedem que a saúde seja realmente boa para todos. Temos ótimos hospitais privados e públicos, mas a maior parte dos serviços básicos é muito insuficiente, a atenção primária demanda mais investimentos e o fluxo do paciente no sistema precisaria de mais agilidade para que possamos fazer os tratamentos no tempo correto e evitarmos mais as sequelas incapacitantes. Temos muito a melhorar e tudo parte de mais educação e melhorias em gestão em saúde.

Eu realmente acredito que continuando o trabalho de maneira séria e criativa podemos

fazer muito pela saúde ortopédica das pessoas.

GC – E quanto aos avanços tecnológicos e científicos?

LFM – Essa já é uma área que nos traz mais alegrias. Temos notado um aumento do interesse em empreendedorismo e inovação de maneira geral e a tendência é crescer ainda mais. Estamos longe de sermos uma potência na área, mas temos o que precisamos para chegar lá. O ecossistema de tecnologia tem crescido e melhorado seus parâmetros (quantidade de empresas, investimentos etc.), temos áreas com imensa adoção e desenvolvimento tecnológico, como é o caso do agronegócio, mas ainda precisamos trazer essa cultura para outras áreas de interesse. O Brasil sempre foi competente em ciência e a tendência é que isso se transforme cada vez mais em resultados reais que trazem tecnologias inovadoras à população. Acredito que isso possa favorecer, inclusive, a balança comercial brasileira, nos tornando em breve exportadores de tecnologia. Importante ressaltar que, pelo que vemos, as empresas brasileiras estão no mesmo patamar tecnológico que empresas de países mais desenvolvidos.

GC – Quais as realizações que gostaria de ressaltar, tanto no profissional como na vida particular?

LFM – Na vida particular, acho que o mais importante é ter constituído minha família e poder ter neles meu ponto de apoio e de inspiração. No âmbito profissional dou muita importância para a jornada. Nunca imaginei que faria o que faço e ainda faço isso gostando e podendo ajudar ainda mais gente que como médico assistente. Até agora me formei médico e ortopedista, fiz curso de Biodesign em uma iniciativa conjunta do Einstein com Stanford aqui no Brasil, participei da turma inaugural do Programa de Empreendedorismo e Inovação em saúde do Einstein, fiz um MBA em gestão empresarial com ênfase em liderança e inovação na FGV, criei a Liga de Inovação e Tecnologia Médica em conjunto com os acadêmicos da FMABC (a LAAST), sou pesquisador convidado da Disciplina de Ortopedia e Traumatologia para estudar as tecnologias médicas, enfim, tenho carinho por todas essas conquistas. Quanto a Hefesto em si, acho que tudo que fizemos são realizações relevantes por ajudar pessoas e melhorar sua qualidade de vida, criar produtos do zero e levá-los aos médicos e pacientes e, especialmente, formar um time de pessoas que tem noção da importância que o trabalho delas tem para a saúde dos outros.

GC – Quais seus planos para o futuro?

LFM – Para o futuro próximo, cuidar da minha família no nascimento da minha segunda filha e aproveitar um pouco. Como o trabalho e a mente não param, a ideia é elevar a Hefesto do patamar de local para mundial, passando por todas suas etapas de desenvolvimento e poder revolucionar por vias de fato o tratamento de fraturas. Eu realmente acredito que continuando o trabalho de maneira séria e criativa podemos fazer muito pela saúde ortopédica das pessoas. Colocar as ideias em prática e criar os meios de fazer ótimos produtos chegarem ao mercado gerando benefício à população e à economia, empregar pessoas e ajudá-las a se capacitar profissional e pessoalmente é o plano para o meu futuro.

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