Dr. Abram Topczewski, Presidente do NOTEA – Projeto Residencial Assistido para Portadores do TEA – Por Glorinha Cohen

Existem centros públicos especializados em vários estados brasileiros para atendê-los enquanto vivem com as famílias. Mas, o que fazer quando os cuidadores familiares se vão, já que não existe no Brasil nenhuma casa que possa acolher e dar aos portadores do TEA a segurança clínica e o tratamento que certamente merecem?

Somente no estado de São Paulo são aproximadamente 600 mil autistas.

Talvez você já tenha ouvido falar no TEA, que significa Transtorno do Espectro Autista e manifesta-se em indivíduos de diversas etnias ou raças e em todos os grupos socioeconômicos, sendo sua prevalência maior em meninos do que em meninas.

Mas, pode ser que ainda não saiba que esta doença está crescendo assustadoramente no mundo. Para se ter uma ideia, basta dizer que nos Estados Unidos, conforme pesquisa feita em dezembro do ano passado, uma a cada 44 crianças aos 8 anos de idade é diagnosticada com TEA, o que representa um aumento de 22% em relação à pesquisa anterior, de 2020. E no Brasil, conforme dados estimados nestas estatísticas americanas, o número de autistas pode passar dos 4 milhões e, especificamente no estado de São Paulo, 600 mil.

Existem centros públicos especializados em vários estados brasileiros para atendê-los enquanto vivem com as famílias. Mas, o que fazer quando os cuidadores familiares se vão, já que não existe no Brasil nenhuma casa que possa acolher e dar aos portadores do TEA a segurança clínica e o tratamento que certamente merecem?

Para suprir esta lacuna e sentindo na atividade diária a angústia que muitos pais passam de não ter onde deixar seu filho em uma futura ausência, foi que o neurocirurgião Dr. Abram Topczewiski (foto) resolveu criar no Brasil, mais especificamente na capital paulista, o primeiro residencial NOTEA – Núcleo de Orientação para o Transtorno do Espectro Autista, para adultos e jovens com autismo, prometendo revolucionar tudo o que até agora existe nesta área.

E ninguém melhor que ele tem autoridade para levar avante este tão importante e ambicioso projeto que é o NOTEA, já existente em países como os Estados Unidos, Holanda e Israel: o Dr. Abram possui graduação em Medicina pela Sociedade Universitária Gama Filho(1970), mestrado em Neurologia pela Universidade de São Paulo(1979), doutorado em Neurociências pela Universidade Estadual de Campinas(1998), residência médica pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo(1971) e pela Universidade de São Paulo(1972). Tem experiência em Neurofisiologia Clínica, Neurologia Cognitiva e do Comportamento, Convulsões, Transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) e Autismo. Atualmente é Médico da Hospital Matarazzo, Neuropediatra da Hospital Israelita Albert Einstein e Consultor da Hospital Infantil Darcy Vargas.

E é para falar sobre o NOTEA e esclarecer pontos importantes sobre o autismo que ele nos concede especialmente esta entrevista e, en passant, nos dá o privilégio de conhecê-lo um pouquinho mais.


GC – Nascido onde e em que dia?

AT – São Paulo, 29/02/1944

GC – Time de futebol preferido?

AT – Coringão

GC – Pratica algum esporte?

AT – Karatê, musculação

GC – Hobby?

AT – Tocar orgão/teclado na orquestra do Einstein

GC – Onde fez colégio/ginásio/faculdade?

AT – Renascença(primário) Rio Branco (secundário) Faculdade de Medicina na Universidade Gama Filho (Rio de Janeiro).

GC – Faz algum trabalho voluntário na nossa comunidade?

AT – Paraisópolis, fundo comunitário.

GC – O que o levou a escolher a Medicina?

AT – Desejo desde a infância.

GC – Em que área atua e porque a escolheu?

AT – Neurologia da infância e adolescência.

GC – Fale um pouco de sua trajetória profissional.

AT – Terminando a faculdade voltei para São Paulo e iniciei a residência em neurologia na Santa Casa. Posteriormente fui fazer a residência em neurologia infantil no HC com Prof. Lefevre. Ao término da residência ingressei como neuropediatra, por 10 anos. no Hospital do Servidor do Estado. Fui professor na psicologia da PUC durante 8 anos. Trabalhei 35 anos na AACD com Dr. Ivan Ferrareto.

GC – Se não fosse médico, qual outra profissão escolheria?

AT – A de advogado.

GC – O senhor é especialista em Neuropediatria, Neurologia Cognitiva e do Comportamento, Epilepsia, Transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) e Autismo (TEA). Existe alguma de sua preferência e por que?

AT – Todas fazem parte do dia a dia no consultório.

GC – O que vem a ser o TEA?

AT – Transtorno do espectro autista. É um distúrbio neuro biológico, geneticamente determinado, mais frequente no gênero masculino e com elevada incidência..

GC – Qual é a sua causa e quais os sintomas?

AT – Maior parte é de origem genética(80%) e causas ambientais relacionadas à gestação, parto, consumo de drogas, ´álcool, tabaco durante a gestação.

GC – Existem diferentes graus? sim, pois tem os autônomos: 20% parcialmente dependentes: 30 % totalmente dependentes 50%.

GC – Com que idade costuma se manifestar?

AT – Desde o 1º ano de vida.

GC – Quais as características da pessoa com TEA e quais intervenções são indicadas?

AT – Dificuldades na comunicação, no relacionamento social e problemas comportamentais. As intervenções propostas são as terapias psicológica, fonológica, terapia ocupacional e, por vezes terapia farmacológica.

GC – Sabe-se que a doença afeta mais meninos que meninas. Existe alguma razão?

AT – mais no gênero masculino na razão de 3:1.

GC – O TEA acomete mais alguma etnia ou grupo socioeconômico?

AT – Há relatos de prevalência em grupo sócio econômico menos favorecido que pode estar relacionados aos precários cuidados pré-natais, índice maior de gestação na adolescência e consumo de substâncias ilícitas, além do álcool.

GC – Conforme estudo sobre a prevalência do Transtorno do Espectro do Autismo (TEA)publicado em 2 de dezembro do ano passado pelo Centro de Controle de Doenças e Prevenção (CDC) dos Estados Unidos, uma a cada 44 crianças aos 8 anos de idade é diagnosticada com TEA no país. Isto representa um aumento de 22% em relação à pesquisa anterior, de 2020, cuja proporção era de 1 para 54. Quais os principais motivos do aumento da incidência da doença, não só nos Estados Unidos, mas no mundo todo?

AT – Pode se considerar a conscientização maior das pessoas o que as faz procurar mais precocemente auxílio. O consumo de drogas durante a gestação, fatores ambientais. A idade dos pais e especialmente do homem acima de 50 anos.

GC – É verdade que o Brasil possui cerca de 4 milhões de autistas e só no estado de São Paulo aproximadamente 600 mil e estes números tendem a crescer? Existe algum estudo a respeito?

AT – São dados estimados baseados em estatísticas americanas.

GC – Em que patamar se encontra o Brasil no tratamento e assistência aos autistas?

AT – Está muito a desejar no tocante ao tratamento, orientação e assistência, pois faltam núcleos de atendimento e esses pacientes.

GC – O senhor está com um projeto ambicioso de construir na capital paulista, em um terreno de 8.000 m² , o NOTEA – Núcleo de Orientação para o Transtorno do Espectro Autista que, aliás, seria o primeiro residencial do país para acolher pessoas portadoras do TEA. Como surgiu esta ideia?

AT – Atendendo os pais no consultório, surge a pergunta: quem cuidará do meu filho quando for adulto, caso eu não esteja mais vivo, caso não tenha condições físicas de acompanhar um tratamento?

GC – O NOTEA já existe em quais países?

AT – Há comunidades semelhantes à proposta do Notea nos Estados Unidos, Holanda e Israel.

GC – Qual o objetivo do NOTEA?

AT – Oferecer tratamento adequado, com todas as terapias necessárias num residencial, além atividades laborais, artísticas e sociais a pessoas semi dependentes e dependentes. Os pacientes devem ser reintegrados numa sociedade que será formada num residencial.

GC – Quantos apartamentos terá o empreendimento e qual será o total de moradores?

AT – Inicialmente para até 100 pacientes.

Todas as pessoas nos elogiam muito pelo projeto, mas ninguém se predispõe a participar efetivamente. Talvez a divulgação do projeto na mídia possa atingir o público que tenha uma relação mais próxima com pacientes com TEA e sensibilizá-los.

GC – O que o NOTEA pretende oferecer aos seus moradores?

AT – Terapia psicológica, psicopedagógica, fonológica, terapia ocupacional, fisioterapia, iniciação profissional e atividade física, além do tratamento médico.

GC – O NOTEA irá atender todas as faixas etárias?

AT – Adolescentes e adultos.

GC – Pelo projeto, também serão criadas condições de trabalho a ser desenvolvido por eles sob orientação de profissionais especializados. Fale mais sobre isto.

AT – Essa é parte da proposta, pois os que tiverem condições de trabalho poderão trabalhar em horta, criação de pequenos animais, padaria entre várias outras possibilidade.

Importante é que se sintam úteis na sociedade. Há que se estimular a auto estima e a auto imagem de cada um.

GC – Quais as dificuldades que estão sendo encontradas para a construção do NOTEA e como é possível ajudar?

AT – Estamos pleiteando um local junto ao Governo do Estado para se implantar o projeto e precisamos conseguir verbas com investidores ou filantropos.

GC – Gostaria de acrescentar mais alguma coisa?

AT – Todas as pessoas nos elogiam muito pelo projeto, mas ninguém se predispõe a participar efetivamente. Talvez a divulgação do projeto na mídia possa atingir o público que tenha uma relação mais próxima com pacientes com TEA e sensibilizá-los.

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