O que você pode fazer pelos seus pais idosos –  Por Hanna B. Geshelin

Ensinar ajudantes ou uma cuidadora de tempo integral sobre nossas festas para que elas possam ajudar seus pacientes é uma maneira de honrar nossos pais. Leva pouco de tempo e capacidade de se abrir, mas vale a pena pelos enormes dividendos pelo tipo e qualidade de cuidados que seus pais (e outros) Irão receber.

Um grande número de pessoas idosas reside em abrigos ou em casa com cuidadores 24 horas por dia. Embora eles sejam cuidados fisicamente, suas necessidades espirituais podem ser mais difíceis de serem atendidas.

Minha experiência trabalhando em uma instituição de enfermagem casher forneceu-me uma visão, e é algo que poderia funcionar para outros. Aprendi como é importante educar cuidadores sobre nossas práticas judaicas. Ao ensinar os assistentes de enfermagem sobre Judaísmo no que diz respeito aos seus empregos, eles se sentem valorizados e habilitados, o que por sua vez resulta num nível mais alto de cuidado pessoal, bem como religioso para nossos pacientes.

Meu trabalho era prover programação cultural judaica. No decorrer do meu dia, eu encontrava muitos membros da família dos residentes. Um ano, após a festa de Shavuot, vários membros da família me disseram que eles tinham ficado chateados com o baixo número de pacientes que frequentavam os serviços religiosos e na inadequada aparição casual daqueles que estavam ali. Como os assistentes ajudam a vestir os pacientes e os transportam para as atividades, notei que eles provavelmente nunca tinham ouvido falar sobre esta festa antes e certamente não tinham ideia de sua importância. Alguma educação era necessária.

Enquanto meu chefe era da opinião de que tentar ensinar os auxiliares não seria necessário ou possível, o proprietário judeu da instituição achava que era uma boa ideia, Decidi dar as aulas no meu próprio tempo. A maior parte dos auxiliares de enfermagem eram haitianos ou refugiados da violência que ocorrera na América Central e eles não falavam inglês. Mas muitas pessoas queriam fazer um bom trabalho, independentemente de qualquer barreira de idioma. Portanto, antes de Rosh Hashaná, estabeleci horários com o diretor de quando eu poderia falar com os trabalhadores por turnos. Também falei com o chefe do serviço de alimentação, que me garantiu que em Rosh Hashaná, todos que comiam alimentos sólidos receberiam fatias de maçã e potinhos de mel.

Postei notícias em inglês, haitiano-crioulo e espanhol nos armários dos funcionários. Todos eles foram convidados; em ambas as sessões, a sala ficava lotada com assistentes, enfermeiros e equipe de zeladoria. Empregados bilingues traduziam meus 15 minutos de palestra e as perguntas que se seguiam em haitiano-crioulo e espanhol.

Expliquei as tradições e a importância de Rosh Hashaná, Yom Kipur e Sucot. Falei sobre arrependimento e perdão relacionados às duas primeiras festas, e alegria no terceiro, bem como sobre as bênçãos para todas as nações do mundo que eram feitas no Templo durante Sucot.

Então discuti o costume que seria o mais difícil para eles: oferecer fatias de maçã com mel para pacientes que não podiam se alimentar por si mesmos. O mel faria uma bagunça, portanto eles poderiam ser tentados a pular essa parte. Porém, eu expliquei, até mesmo pessoas cujas memórias podem ter ido embora, em algum lugar lá dentro, reagiriam ao estalar das maçãs e ao doce sabor do mel, e isso poderia ser a sua única – e talvez, a última – experiência religiosa.

A sala ficou em silêncio. Quando olhei ao redor, percebi que muitos dos homens e mulheres usavam símbolos cristãos. Eles eram profundamente religiosos. Pensei que eles poderiam entender, e aparentemente parecia que sim. Após as festas, fui informado que um número de pacientes sem precedentes – todos vestidos com suas roupas festivas, compareceram aos serviços. Até as mulheres com mãos trêmulas usavam maquiagem, aplicada com bom gosto, claramente colocada por outra pessoa. E mais surpreendentemente, as assistentes pareciam estar em clima de feriado apesar do trabalho extra envolvido.

Antes de Chanucá promovi uma conversa parecida. A última pergunta foi de uma mulher que tinha hesitado em levantar sua mão. Com bastante encorajamento, ela finalmente fez a pergunta.

“Ouvi dizer que os judeus têm muitas bênçãos,” ela disse. Eu concordei. “Ouvi dizer que vocês têm uma bênção até para quando as pessoas vão ao toalete?” Todos deram um riso abafado.

“Sim”. Eu expliquei. “Você, entre todas as pessoas, deve saber como é milagroso quando todos os canais e dutos de uma pessoa se abrem e fecham adequadamente porque você tem de cuidar de pacientes que não têm controle, ou que têm doenças que impedem a abertura e fechamento normal desses tubos e dutos.”

A sala lotada ficou totalmente silenciosa. Aqueles na sala, cujos turnos eram preenchidos com trocas de fraldas e de roupas de cama – para não falar de levar arrastando os idosos até o banheiro – entenderam as palavras mais do que a maioria. Esta bênção significa que os judeus, como um povo, reconhecem isso mais do que a maioria. Esta bênção significa que judeus, como um povo, reconhecem a importância dessas tarefas desagradáveis. Ao fazer uma bênção para essas funções, nós também abençoamos indiretamente aqueles que os cuidam quando nós mesmos não podemos tomar conta deles.

Pelo simples ato de tomar o tempo para incluir os assistentes de enfermagem na cultura dos residentes, mostrei que o trabalho que eles realizam é importante, apreciado e valorizado.

Essas lições significavam mais que um simples obrigado, porque eu compartilhava meu próprio tempo e abria uma janela em minha própria vida espiritual. Por sua vez, a equipe de assistentes vinha para apreciar o Judaísmo e o local da religião – tão importante nas suas próprias vidas – nas vidas dos nossos residentes. Isso deu ao seu trabalho uma dimensão totalmente nova e inesperada, como foi mostrado quando uma mulher contou-me que ela detestava limpar pacientes incontinentes, mas depois que expliquei a bênção Asher Yatzar (dita após eliminação corporal), ela sentiu que estava fazendo um trabalho sagrado e estava certa de que seu cuidado refletia essa mudança de atitude.

Como eu pensava sobre homenagear minha própria mãe, lembrei dessas experiências. Assegurei que quaisquer perguntas que a cuidadora da minha mãe tinha sobre Shabat ou sobre observância das festas judaicas fossem respondidas e que ela entendera como assegurar que a vida religiosa da minha mãe continuasse dentro dos limites estreitos de sua vida. Sua cuidadora assegurava que o jantar na noite da sexta-feira fosse especial, e ela ajudava minha mãe a acender suas velas de Shabat toda semana.

Ensinar ajudantes ou uma cuidadora de tempo integral sobre nossas festas para que elas possam ajudar seus pacientes é uma maneira de honrar nossos pais. Leva pouco de tempo e capacidade de se abrir, mas vale a pena pelos enormes dividendos pelo tipo e qualidade de cuidados que seus pais (e outros) Irão receber.

Eu também gostaria de encorajá-lo a abordar a administração das instalações de cuidados casher já que há um grande número de residentes judeus e se oferecer para falar com os cuidadores, e não apenas com os residentes. As recompensas serão ótimas para você, e as recompensas para os idosos são enormes.

Hanna B. Geshelin

Hanna Bandes Geshelin é escritora e professora há muitos anos. Ela mora no norte de Israel desde 2017.

Sefira Ross é uma desenhista e ilustradora freelance cujas criações originais são publicadas nas páginas de Chabad.org. Ela reside em Seattle, Washington, e seus dias são investidos em seu talentoso trabalho e no papel de mãe.

Fonte: https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/5386959/jewish/O-Que-Voc-Pode-Fazer-Pelos-Seus-Pais-Idosos.htm

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