O apoio dos judeus a D. Pedro IV nas lutas liberais – por Israel Blajberg
Nos 200 Anos da Independência do Brasil, recordamos D. Pedro de Alcântara de Bragança e Bourbon: O Homem, O Rei Soldado, O Libertador, cujas raízes se vinculam à origem judaica da Casa de Bragança.
Um dos vários títulos conferidos pelo povo português a D. Pedro, O Libertador, nomeia a comenda em homenagem àquele que dedicou sua vida às suas duas pátrias e ocorre em alusão aos 200 anos da titulação de “Defensor Perpétuo”, à criação do Império do Brasil e aos 190 anos do desembarque do Mindelo, que culminou na vitória da Liberdade, com a restauração do trono do Reino Constitucional de Portugal à infanta Maria, através da Convenção de Évora Monte.
A solenidade em território brasileiro está programada para o dia 13 de setembro de 2022 na Imperial Fazenda de Santa Cruz, atual Primeiro Batalhão de Engenharia de Combate.
Argui-se a todo tempo as razões de D. Pedro II do Brasil ter tido fortes ligações com a comunidade judaica, inclusive com o domínio da língua Hebraica. Pesquisadores do Brasil e de Portugal já se debruçaram sobre tal vínculo, encontrando raízes familiares na descendência da Casa de Bragança, o que aproximaria em muito a família real portuguesa e consequentemente a brasileira, à uma ancestralidade judaica. Muitos historiadores acreditam que tal hipótese, a relacionar a dinastia de Bragança com os judeus, é a história da cristã nova Inês Pires Esteves, que foi amante do Mestre da Ordem de Avis e futuro Rei D. João I de Portugal (1357-1433). Nessa relação vai nascer o filho bastardo Afonso I que será o primeiro Duque de Bragança. Seu neto, na sexta geração, D. João II, Oitavo Duque de Bragança, se torna D. João IV de Portugal (1604-1656), dando origem à dinastia dos Bragança.
João IV teve, logo desde o princípio do reinado más relações com o Santo Ofício, em virtude de um inquisidor geral estar implicado na conspiração para o assassinar (1641) além desta ter tentado julgar portugueses enviados para combater pela Holanda. Proibiu a Inquisição de confiscar bens em resultado de execução dos processos e em virtude disso foi excomungado em 1647, seguido de nova excomunhão em 1649. Após a sua morte, o seu corpo foi exumado, despojado das vestes reais e submetido ao levantamento da excomunhão na presença da rainha viúva e dos infantes. Tais fatos comprovam os primórdios da defesa dos judeus efetuada pela Casa de Bragança.
O livro de Isabel Violante (1) é um importante documento comprobatório dessa história.
Judeus em Bragança
A comunidade judaica portuguesa passou por momentos ascendentes e descendentes ao longo da história, com perseguições e conversões à força. Mais especificamente aquela da região de Bragança (207 km do Porto), foi partícipe de vários desses momentos, apoiando financeiramente as forças liberais, que ao fazer contraponto ao absolutismo, representava o término desses sofrimentos, iniciados em Espanha com o Santo (que de santo não tinha nada) Inquérito.
A Dissertação de Doutoramento de António Manuel Monteiro Cardoso (2) tem inúmeros momentos com citação das atividades dos judeus e a perseguição a estes. A citação 1537 da pág. 417 indica judeus nas lutas liberais e a citação 2232 na pág. 583 fala de militares que dependiam da complementação do soldo efetuada pela comunidade judaica.
Tais fundamentos demonstram que estamos plenos de fatos históricos para comprovar o apoio citado por Rezzutti (3): “Os que se alinharam a d. Pedro foram os maçons e os judeus – em grande parte, financistas receosos da volta de uma inquisição religiosa na península Ibérica”
Há ainda relatos em Neil Macaulay (4) sobre o suporte dos judeus à causa liberal e mais especificamente a grande participação do judeu espanhol Juan Álvarez Y Mendizábal, não apenas com financiamento, mas também com a sua presença física nas lutas e ao lado de D. Pedro.
Pelo exposto, o Conselho de Minerva houve por bem outorgar à tradicional comunidade judaica de Portugal, com notoriedade à região de Porto-Bragança o “Colar do Mérito Pedro, O Libertador” por sua adesão à causa liberal e apoio ao Rei Cavaleiro (5).
(1) PEREIRA, Isabel Violante. A origem judaica da Casa de Bragança. De Mendo da Guarda a D. Manuel I. Lisboa: Livros Horizonte, 2001.
(2) Cardoso, António Manuel Monteiro. A Revolução Liberal em Trás-os-Montes (1820-1834). O povo e as elites”.
(3) Rezzutti, Paulo. D. Pedro: a história não contada. São Paulo: LeYa, 2020, página 308.
(4) Macaulay, Neil. Dom Pedro: a luta pela liberdade no Brasil e em Portugal, 1798-1834. Rio de Janeiro: Record, 1993.
(5) Calmon, Pedro. O Rei Cavaleiro. Rio de Janeiro. Coleção Saraiva. 1933.
Israel Blajberg
– Carioca, ex-engenheiro do BNDES e Professor da UFRJ e UFF, é diplomado pela Escola Superior de Guerra em Altos Estudos de Política e Estratégia e Logística e Mobilização Nacional.
– Sócio titular do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil e da Academia de História Militar Terrestre do Brasil.
– Idealizador do Conselho de Minerva O Libertador