Dez mandamentos para o pé do diabético – Por Dr. Paulo Kauffman

Nos diabéticos, o pé torna-se extremamente vulnerável, pois a neuropatia periférica, com perda da sensibilidade, associada à arteriopatia, que prejudica a irrigação sanguínea, favorece a ocorrência de infecção, que põe em risco não somente a viabilidade do pé como também a própria vida do paciente.

O pé é um dos segmentos corpóreos menos favorecidos do corpo. Tem as vias circulatórias e nervosas mais longas do organismo por estar situado mais distante dos órgãos centrais (coração e cérebro). Além disso, o pé, sendo a parte do corpo que mantém o contato com o solo, está frequentemente sujeito a traumas e consequentemente necessita de uma adequada inervação sensitiva para proteção.

Há exatos 100 anos foi descoberta a insulina que revolucionou o tratamento dos diabéticos, permitindo sobrevida maior para eles, o que favoreceu o aparecimento de complicações tardias da enfermidade, como alterações nervosas (neuropatia) e vasculares (arteriopatia).

Nos diabéticos, o pé torna-se extremamente vulnerável, pois a neuropatia periférica, com perda da sensibilidade, associada à arteriopatia, que prejudica a irrigação sanguínea, favorece a ocorrência de infecção, que põe em risco não somente a viabilidade do pé como também a própria vida do paciente.

No sentido de propor medidas profiláticas no sentido de evitar ou minimizar os efeitos dessas complicações, elencamos, abaixo, dez conselhos aos diabéticos.

  1. Controle rigorosamente a taxa de glicose no sangue e não fume, pois a hiperglicemia (excesso de açúcar no sangue) e o tabaco contribuem decisivamente para a ocorrência das complicações neurológicas e vasculares.
  2. Examine periodicamente, de preferência diariamente, visando principalmente a planta do pé e o meio dos dedos com a finalidade de detectar calosidades, bolhas, fissuras ou ulcerações; esse exame pode ser feito pelo próprio paciente utilizando um espelho ou por um familiar nos casos em que haja déficit visual. Na eventualidade de haver qualquer das alterações citadas, o médico deverá ser imediatamente comunicado.
  3. Não ande descalço para evitar ferimentos na planta dos pés, que podem passar despercebidos devido à diminuição da sensibilidade cutânea decorrente da neuropatia.
  4. Mantenha higiene rigorosa dos pés, lavando-os com água morna (nunca quente) e sabonete; enxaguar bem, com delicadeza entre os dedos para não provocar rachaduras. O diabético deve se acostumar a usar talco antimicótico suave no meio dos dedos, após o banho. É útil passar cremes ou loções hidratantes, particularmente nos calcanhares, para evitar fissuras e reduzir o prurido da pele ressecada. Esses cremes não devem ser usados no meio dos dedos para não provocar maceração da pele nesse local.
  5. Corte corretamente as unhas, não próximo da pele e sem retirar os cantos para que não ocorra encravamento das mesmas, em ambiente com boa iluminação. Devido à frequência de alterações visuais no diabético, é conveniente que esse corte seja feito por um familiar ou pedicuro devidamente instruído.
  6. Evite a aplicação de calor de qualquer espécie, como bolsas de água quente, almofadas elétricas, lâmpadas infravermelhas, etc.; quando expostos ao sol, os pés e pernas devem estar adequadamente protegidos para que não ocorram queimaduras.
  7. Proteja e mantenha calor nos pés, utilizando meias de lã no inverno e de algodão no verão, evitando aquelas feitas com fios sintéticos. As meias deverão ser trocadas diariamente para manutenção de boa higiene local.
  8. Use sapatos confortáveis que não comprimam os dedos e o próprio pé; esses sapatos devem ser mantidos em boas condições e precisam ser examinados interna e diariamente antes de calçá-los, no sentido de verificar se não há pregos ou outros corpos estranhos e se o forro não está rasgado, pois nessas condições pode haver lesão cutânea.
  9. Não corte os calos sozinho e nem use calicidas para removê-los, porque são substâncias irritantes que podem lesar a pele.
  10. Nunca use antissépticos fortes na pele, particularmente tintura de iodo. Se houver ferimento, a região deverá ser lavada com água e sabão e a antissepsia realizada com substâncias suaves como, por exemplo, a água boricada. Está contraindicado o uso de qualquer tipo de fita adesiva (esparadrapo ou similar) diretamente na pele dos pés.

DR. PAULO KAUFFMAN

Trabalhou como Professor-Assistente Doutor da Disciplina de Cirurgia Vascular do Departamento de Cirurgia da FMUSP – Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, onde permaneceu até 2010, quando foi aposentado compulsoriamente; ministrou aulas nos curso de graduação e pós-graduação da FMUSP e de outras faculdades, sendo, inclusive, orientador de alunos da pós-graduação.

Foi diretor da Cirurgia Vascular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões – Capítulo de São Paulo, organizando atividades da especialidade nos congressos patrocinados pela sociedade médica e Diretor do Departamento de Pronto Socorro da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo até sua extinção.

kauffman@terra.com.br