Os chistes judaicos e sua importância cultural, literária e religiosa – Por Jayme Vita Roso

I – Qual o propósito desta trilogia?

Há anos venho me aplicando, lendo e me impressionando com os chistes judaicos. Muitos livros encontrei em Buenos Aires e Nova Iorque, onde a impressão foi massiva, após os eventos muito tristes (imigração, crise econômica, Holocausto), motores dessas declarações. E assisti, em rebote, o retorno em busca de novas vidas para Israel, Austrália, Canadá e não sei mais quantos.

A amiga Glorinha Cohen, eu considero um legado da cultura e do renascimento do interesse em manter a comunidade unida. E me permitiu trazer escritos que se converteram em bem cuidadas publicações.

Incitou-me a transcrever chistes, que eu escolhesse na literatura, que muito prezo: um reviver!

3. Acolhendo o amável convite, debrucei-me sobre um Mentsch Yosi Mlotek, polonês, que publicou dois volumes, intitulados Método de autoaprendizagem de Ídiche, que a Dra. Sheva Zucker os traduziu e os reorganizou, partindo dos originais em ídiche e inglês (Ídiche, uma introdução ao idioma, literatura e cultura. 2 vols. São Paulo: Editora Memória e Resgate, 2009) que conta com a colaboração de Genni Blank.

II – Que livro utilizei?

Propositadamente, um opúsculo de Abrasha Rotenberg: Chistes judíos que me contó mi padre (Buenos Aires: Libros del Zorbal, 2007).

4.1. “MAIS RELATIVIDADE”

– Olá, Jacó, como está tua mulher?

– Comparada com quem?

4.2. “UM PAI QUE DÁ CONSELHOS”

– Meu filho, na vida tu deves ganhar dinheiro. E de qualquer maneira. Ainda que honestamente.

4.3. “UM PAI PERGUNTA”

– Meu filho, se trabalhas tantas horas por dia, quando tu vai ter tempo para ganhar dinheiro?

4.4 “O VALOR DE UMA MULHER”

– Quanto tu darias por minha mulher? – perguntou Moisés a Jacó.

– Por tua mulher? Nada!

– É tua!

4.5. “ALGUNS FILHOS DE DEUS TÊM ALMAS”

Durante a Grande Guerra, os soldados russos lutaram ferozmente, desde as suas fronteiras, contra o inimigo. De pé, com o fuzil sempre em atividade, buscam um flanco na trincheira, que está à curta distância.

O sargento se dá por satisfeito com o patriotismo e a lealdade de seus subordinados, até que descobre que Moisés, o único soldado judeu do batalhão, apontava seu fuzil até o alto e para lá dirigia seus projéteis.

– Imbecil! – gritou o sargento -, tens que atirar para frente.

– Como para frente? Não vê que em frente há homens, seres humanos?

4.6. “ERRAR É HUMANO”

Tel Aviv. São três da madrugada e toca o telefone (não era celular). Atende alguém com o típico sotaque judeu-alemão.

– Alô, diz.

Responde-lhe outra voz com o mesmo acento.

– Falo com o um um, um um, um um?

– Não, senhor, está falando com onze, onze, onze.

– Perdoa-me o equívoco. Lamento profundamente tê-lo despertado a esta hora avançada.

– Não se preocupe, meu amigo. Logo teria que me levantar para atender o telefone.

4.7. “A DEUS O QUE É DE DEUS”

Reúnem-se, ecumenicamente, um rabino, um pastor protestante e um padre católico.

Falam das dificuldades que a vida lhes impõe e comentam sua vida cotidiana.

– Que fazem com o que lhes dá os fiéis?

– Eu – disse o padre – traço um círculo no chão, pego o dinheiro das esmolas e jogo sobre o círculo. O que fica dentro é para Deus, o que cai para fora é para minhas necessidades.

– Eu – seguiu o pastor protestante – faço algo similar: traço uma linha no chão e lanço o dinheiro. O que cruza a linha é para Deus e o que não cruza fica para mim.

– E, tu, rabino?

– Eu? Eu me acerto diretamente com Deus. Junto todo o dinheiro e jogo para cima; o que Deus quiser ele guarda para si e o que não quiser, ele deixa cair no chão de volta para mim.


JAYME VITA ROSO

Graduado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, é especialista em leis antitruste e consultor jurídico de fama internacional, ecologista reconhecido e premiado, “Professor Honorário” da Universidade Inca Garcilaso de La Vega de Lima, Peru e autor de vários livros jurídicos. Saiba mais.