Deixem-me envelhecer – Por Mario Quintana

Deixem-me envelhecer sem compromissos e cobranças. Sem a obrigação de parecer jovem e ser bonito para alguém. Quero ao meu lado quem me entenda e me ame como eu sou. Um amor para dividirmos tropeços desta nossa última jornada. Quero envelhecer com dignidade, com sabedoria e esperança. Amar minha vida, agradecer pelos dias que ainda me restam.

Eu não quero perder meu tempo precioso com aventuras. Paixões perniciosas que nada acrescentam e nada valem. Deixem-me envelhecer com sanidade e discernimento. Com a certeza que cumpri meus deveres e
minha missão. Quero aproveitar essa paz merecida para descansar e refletir.

Ter amigos para compartilharmos experiências, conhecimentos. Quero envelhecer sem temer as rugas e meus cabelos brancos. Sem frustrações, terminar a etapa final desta minha existência. Não quero me deixar
levar por aparências e vaidades bobas. Nem me envolver com relações que vão me fazer infeliz.

Deixem-me envelhecer, aceitar a velhice com suas mazelas. Ter a certeza que minha luta não foi em vão: teve um sentido. Quero envelhecer sem temer a morte e ter medo da despedida. Acreditar que a velhice é o retorno de uma viagem, não é o fim. Não quero ser um exemplo, quero dar um sentido ao meu viver. Ter serenidade, um sono tranquilo e andar de cabeça erguida. Fazer somente o que eu gosto, com a sensação de liberdade. Quero saber envelhecer, ser um velho consciente e feliz!

Mario Quintana

Mário de Miranda Quintana nasceu no dia 30 de julho de 1906 na cidade de Alegrete/RS e faleceu em 5 de maio de 1994. Estudou no Colégio Militar de Porto Alegre, publicando ali suas primeiras produções literárias. Trabalhou para a Editora Globo e depois na farmácia paterna.

Tradutor, contista, cronista e jornalista brasileiro, foi considerado um dos maiores poetas do século XX. Mestre da palavra, do humor e da síntese poética, em 1980 recebeu o Prêmio Machado de Assis da ABL e em 1981 foi agraciado com o Prêmio Jabuti.