Junho Laranja: para conscientizar e refletir sobre a anemia, a leucemia e o transplante de medula óssea – Por Glorinha Cohen

Leucemias são doenças hematológicas malignas monoclonais, caracterizadas pela produção anormal de glóbulos brancos e seus progenitores na medula óssea e consequentemente prejuízo na produção das células sanguíneas normais, podendo levar à anemia e plaquetopenia.

A importância do transplante de medula óssea se prende ao fato de que pode tornar curável a leucemia em pacientes que somente com o tratamento inicial não conseguiriam se curar.

A campanha hoje conhecida como Junho Laranja foi inicialmente criada pelo movimento Eu Sou Sangue, em 2011, com a finalidade de alertar para as doenças do sangue, ou seja, para a importância do diagnóstico precoce, da prevenção e dos riscos, especialmente da anemia e da leucemia, temas que ainda trazem muitas dúvidas às pessoas. Ao mesmo tempo, o Junho Laranja destaca o quanto é importante a solidariedade ao se enfrentar tão terríveis doenças, que podem acometer adultos e crianças.

Para falar sobre tão importantes temas, convidamos o Dr. Nelson Hamerschlak, um dos maiores especialistas do país. Ele é Professor Livre docente pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo,  Professor Pleno da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein, coordenador do programa de Hematologia e Transplantes de Medula Óssea do Hospital Israelita Albert Einstein e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Transplantes de Medula Óssea.


O que é anemia?

A anemia pode ser definida como uma deficiência da oxigenação dos tecidos por diminuição da capacidade de transporte de oxigênio pelo sangue devido a uma redução na concentração da hemoglobina (proteína transportadora). Como o sangue circula por todo o organismo, as conseqüências da anemia podem manifestar-se com um conjunto amplo de sintomas e sinais incluindo palidez, cansaço, desânimo, sonolência, palpitações, dor de cabeça, perda do poder de concentração e irritabilidade.

Qual a causa mais frequente de anemia em crianças?

A anemia ferropriva é a causa mais freqüente de anemia em crianças. O ferro é imprescindível na formação da hemoglobina, portanto a sua falta leva a uma diminuição do conteúdo de hemoglobina no glóbulo vermelho.

Geralmente, a falta de ferro ocorre por uma deficiência de ingesta, porém pode ocorrer por perda crônica de sangue ou por defeitos de absorção.

O aleitamento materno protege a criança pela passagem e absorção sistemática do ferro pela amamentação. O leite de vaca não contém ferro suficiente para prevenir a anemia. A dieta alimentar de uma criança com anemia ferropriva deve sempre que possível incluir carne ou suco de carne. O fígado, a carne de vaca, o peixe e o frango são ricos em ferro. Muitos vegetais como o espinafre possuem altas concentrações de ferro, porém o ferro de origem vegetal é de difícil absorção. Sucos de laranja e limão, por possuírem altas doses de vitamina C, facilitam a absorção do ferro.

Detectada a anemia, além da dieta alimentar pode-se usar panela de ferro ou mesmo utensílios com ferro para cozinhar os alimentos de forma geral. O ferro passa da panela para os alimentos. As crianças devem ser submetidas também a exames de fezes, pois alguns vermes como o ancilóstoma pode causar anemia.

Anemia é um termo extremamente genérico e pode-se referir a uma série de doenças diferentes, com manifestações, causas e tratamentos diferentes. A causa mais comum de anemia em crianças é a deficiência de ferro que pode ser prevenida com a amamentação materna e com o uso de medidas simples junto aos hábitos alimentares. No entanto, na presença de um quadro anêmico, a investigação deve ser bem realizada para o correto diagnóstico e tratamento.

O que são leucemias? Quais suas causas e fatores de risco?

Leucemias são doenças hematológicas malignas monoclonais, caracterizadas pela produção anormal de glóbulos brancos e seus progenitores na medula óssea e consequentemente prejuízo na produção das células sanguíneas normais, podendo levar à anemia e plaquetopenia. Ocorre com diversas características morfológicas, cada qual com particularidades clínicas e laboratoriais.

Aparentemente toda leucemia, assim como todo câncer, ocorre através de uma mutação genética, geralmente somática, isto é, na célula da medula óssea exclusivamente. Muito raramente pode ser germinativa, isto é, transmitir-se de forma hereditária em alguns tipos específicos.

Quão grave é o diagnóstico da leucemia? O diagnóstico precoce pode ajudar no prognóstico cura?

A gravidade da apresentação da leucemia depende de seu tipo. As leucemias crônicas, por exemplo, são diagnosticadas principalmente em exames de sangue de check up. Já as leucemias agudas são de apresentação mais grave requerendo internação hospitalar e tratamento imediato.

Como todas as doenças oncológicas, geralmente o pronto diagnóstico e tratamento quando necessário deve ser instituído. Alguns tipos de leucemia, como as leucemias linfoides crônicas podem não necessitar tratamento por vários anos, mas exige acompanhamento periódico para iniciar terapêutica tão logo seja necessária.

Quais os sinais e sintomas que permitem a identificação precoce?

As leucemias crônicas podem não ter sintomas ou terem sintomas gerais como cansaço, febre vespertina, sudorese noturna etc…

Já as leucemias agudas apresentam um quadro bastante florido de corrente da anemia (palidez e cansaço), baixa de glóbulos brancos funcionantes (febre e infecções) e da baixa das plaquetas (hemorragias e manchas pelo corpo). Em algumas situações mais graves há também distúrbios graves da coagulação, comprometimento neurológico, hepático e renal.

É possível de prevenir? Se sim, de que forma? Quais os principais tratamentos adotados?

Na verdade, a maioria dos casos não tem um fator que possa exigir uma ação de prevenção. Mas de uma forma geral, alimentação saudável, sono adequado, exercícios físicos e evitar cigarro, se não ajuda em todos os casos , permite uma melhor recuperação ao tratamento que dependendo do tipo de leucemia exigirá quimioterapia, radioterapia, imunoterapia, terapia alvo, terapia com células geneticamente modificadas ou transplante de medula óssea.

Existe alguma crença associada à leucemia que precise ser desmistificada?

Sim, que se trata de doença incurável ou de resultados ruins. Isto não é verdade, pois as taxas de cura mesmo dos casos mais graves variam de acordo com o tipo de leucemia e idade em 70 a 90%.

Como funciona o transplante de medula óssea e qual a sua importância?

A medula óssea vulgarmente chamada de tutano do osso é o órgão que fabrica as células sanguíneas. Portanto quando estas são cancerígenas uma possibilidade é transplantá-la. Ao contrário do transplante de outros órgãos que é realizado através de uma cirurgia. No transplante de medula óssea, o paciente recebe quimioterapia e/ou radioterapia para aniquilar as células doentes e abrir espaço para receber as novas. Portanto os dois objetivos principais são:

  • Oferecer substituição do tecido hematopoético, autogênico ou alogênico
  • Destruir a doença maligna

Existem várias classificações para um transplante e suas indicações e características variam de acordo com o tipo do paciente, idade e condições clínicas do paciente.

Fontes de células

  • Medula Óssea
  • Sangue Periférico
  • Cordão Umbilical

Doador

  • Autólogo (do paciente a ele mesmo)
  • Alogênico aparentado (geralmente, entre irmãos)
  • Alogênico não aparentado (registro de doadores)
  • Haploidêntico (50% entre irmãos, pais e filhos)

As células são aplicadas em uma veia através de um cateter. Através de um mecanismo incrível chamado homing em inglês (ir para casa) se dirigem a medula óssea para se reproduzir e trazer uma nova medula perfeita

A importância do transplante de medula óssea se prende ao fato de que pode tornar curável a leucemia em pacientes que somente com o tratamento inicial não conseguiriam se curar.