O dia negro da história de Israel – Por David S. Moran
A segunda feira – 24 de julho de 2023 – vai ser lembrada na história do moderno Estado de Israel como um dia negro. Neste dia foi votado no Parlamento (Knesset) a lei da redução da Cláusula da Razoabilidade. Os longos debates no Knesset foram em vão. Não levaram à nenhuma conciliação. O ministro da Justiça Levin se sobrepôs ao Primeiro Ministro, o frágil Netanyahu. O ministro da Defesa tentou até o último segundo convencê-los de que as Forças Armadas estão enfraquecidas, mas foi em vão. Na hora da votação, a oposição retirou-se do recinto e o governo comemorou a vitória de 64 contra 0. Comemorou o que? A Procuradora Geral disse que este é um dia negro para a Democracia. O líder da oposição, Yair Lapid declarou que “não há governo em Israel. Netanyahu se subjugou aos chantagistas Ben Gvir, Smotrich e Levin”. O Chefe das Forças Armadas pediu para falar (na foto: as capas dos principais jornais- Yedioth Ahronoth, Haaretz, Israel Hayom, The Market e Calcalist- saíram em negro, pagos). com Netanyahu, antes da votação, mas não foi atendido. Ele parecia não estar participando da sessão. Muitos disseram que o Ministro da Justiça, Yariv Levin humilhou Netanyahu, que foi muito fraco e submisso.
Trinta semanas de protestos em todo o país, com a participação de centenas de milhares de pessoas em nada adiantaram. De repente os pilotos e aviadores que são voluntários e se apresentam semanalmente, contribuindo com 50 a 60 dias para que a Força Aérea de Israel seja das melhores do mundo, são chamados de traidores e a Ministra dos Transportes, Miri Regev clama: “quem se recusa a servir tem que ir para a prisão”. Será que ela se referiu aos ultraortodoxos que recusam se apresentar nos centros de recrutamento? (na foto: protestos em Tel Aviv, Jerusalém e Haifa, 22.7.2023).
A democracia trata de 3 poderes independentes. Em Israel o Legislativo e o Executivo são um poder, então o único poder independente que cuida da democracia é o Judiciário. Com essa cláusula, o Legislativo cortou as asas do Judiciário. Assim o Executivo pode nomear para qualquer cargo amigos, familiares, partidários, mesmo sem qualificação e ninguém poderá impedi-lo de o fazer. Na verdade, como diz o comentarista político do Canal 12, Amnon Abramovich, “o que interessa à Netanyahu é “Haniná ou Mediná”. isto é, absolvição nos seus 3 processos, ou o Estado”. Isto porque ele gostaria de despedir a forte Procuradora Geral, que também serve de procuradora nos processos do seu chefe.
De nada adiantaram os protestos populares, o pedido do presidente Biden, que através do seu “porta voz”. Thomas Friedman, do New York Times, chamou-o diplomaticamente de não falar a verdade. Assim também o qualificaram os analistas da agencia de rating Moody’s, a quem ele teria dito que só passaria a Cláusula da Razoabilidade se tivesse concordância na oposição também. O líder da oposição, Lapid disse:” Netanyahu, na realidade não é o primeiro ministro. Ele está subjugado ao Levin, Rotman (presidente da Comissão da Justiça, no Knesset) e Ben Gvir”.
As consequências desta votação já apareceram. O partido ultraortodoxo Yahadut Hatorá, no dia seguinte avisou que agora vai apresentar para votação a Lei que iguala os estudantes de Yeshivot aos soldados. Isto é, quem estuda a Torá estará isento de se alistar nas Forças Armadas de Israel, por lei. Mais um absurdo. Quando Ben Gurion consentiu em isentar estudantes sábios da Torá de se alistar, tratou-se de 400 estudantes. Agora trata-se de centenas de milhares. Enquanto meus filhos e filhas prestam serviço militar de 3 e 2 anos, os ultraortodoxos estão em salas ventiladas estudando e trabalhando e não são reservistas.
A bolsa de valores nos 2 primeiros dias caiu em cerca de 5% e o dólar subiu neste período em mais de 3%. Moody’s e as outras agências de rating poderão baixar o rating de Israel, que encarecerá os empréstimos e os investimentos no país baixarão também. Já na primeira metade deste ano, 80% dos starts up israelenses foram registradas no exterior. No ano passado foi o inverso, 80% registradas em Israel e pagam impostos e só 20% no exterior. O comentarista de segurança e exterior do Washington Post, Max Boot escreveu: artigo intitulado” Netanyahu é a maior ameaça de Israel”. Israel e os palestinos pagarão caro pela política delirante do Primeiro Ministro. Biden tentou chegar a um entendimento com Netanyahu, mas este não atende a lógica. Tenho certeza de que o maior risco de segurança de Israel vem do Netanyahu”.
Gil Shwed, fundador e presidente grande companhia de segurança na informática, a Check Point, foi perguntado se hoje a registraria em Israel e respondeu que com todo seu Sionismo, não tem certeza se o faria. Na abertura do pregão em Wall Street, receberam a honra de bater o martelo os diretores da companhia israelense WIZ. Todos estavam com camisetas e inscrição “Save our Democracy”. (Salve nossa Democracia).
Os protestos atravessaram continentes. Israelenses na Europa e nos Estados Unidos saíram às ruas para protestar. O governo diz com razão que venceu nas eleições e tem 64 deputados a seu favor. Mas, desde as eleições houve mudanças. Os censos de opinião pública mostram que a oposição teria maioria. Mais do que isto. Os censos mostram que mais de 30% dos eleitores do Likud são contrários à restrição da Lei da Razoabilidade.
Netanyahu, que foi socorrido e levado no sábado (22) ao hospital alegando desidratação, por estar no Kineret sem chapéu, foi novamente levado ao hospital dias depois para passar por operação e lhe foi colocado marca-passo. O seu ex-chefe de Gabinete e ex-deputado pelo Likud, Avigdor Lieberman, líder do Israel Beiteinu, diz que o governo do Netanyahu, supostamente de direita, tapa os olhos diante dos perigos e preferiu a integridade da coalizão, à integridade do povo”.
O líder israelense, que tanto gosta de viajar ao exterior, não está recebendo convites e nem está tendo visitas de personalidades mundiais. Esta semana devia visitar o islamista turco Erdogan e depois à Chipre para acalmar os cipriotas e gregos. Não bastando isto, está colocando um dedo nos olhos do Biden, aceitando visitar a China.
Se não houver mudança de rumo, a situação de Israel não estará boa. O atual governo conseguiu dividir o povo, taxar os bravos pilotos, soldados de unidades de elite e do serviço de Inteligência que se recusam servir como voluntários, de traidores, que seu lugar é na cadeia. Enquanto centenas de milhares não se alistam no Exército e recebem subvenção mensal.
Acredito que há leitores que não gostam destes relatos e eu mesmo estou triste em escrevê-los. Mas, a verdade tem que ser dita, gostem ou não e esta é a atual realidade israelense.
A seguir os últimos censos de opinião pública do Canal 12, Canal 13 (dia 25.7) e o jornal Maariv (21.7), respectivamente: Hamachané Hamamlachti: 28, 30, 29. Llikud: 28, 25, 28. Yesh Atid: 19, 17, 17. Shas: 10, 10, 9. Yahadut Hatorá: 7, 7, 7. HaSionut Hadatit: 8, 10, 10. Israel Beiteinu: 6, 6, 5. Ra’am: 5, 6, 5. Hadash-Ta’al: 5,5, 5. Meretz: 4,4,5. Haavoda e Balad n’ao conseguem o mínimo de votos.
DAVID S. MORAN
DAVID S. MORAN – Mora em Israel, é formado em Relações Internacionais pela Universidade Hebraica de Jerusalém e Major da reserva do exército israelense.