Israel e o terrorismo do Hamas – Por Lionel Zaclis

O conflito territorial entre israelenses (conhecidos como “judeus palestinos” antes da independência de Israel) e árabes palestinos não configura algo insolúvel, desde que se consiga neutralizar a influência do fundamentalismo islâmico, apoiado no terror, esta, sim, praticamente insolúvel. Para que possamos compreender o assunto, é importante tecermos algumas breves noções introdutórias. Na realidade, não existe um Estado, um povo, uma nação, uma língua chamada Palestina. Esta é, apenas e tão somente, uma denominação que o imperador Adriano atribuiu à Judeia, em 137 DC, após a revolta frustrada de Bar Kochba contra Roma, quando ocorreu a destruição definitiva do Estado judaico. E tal denominação foi dada, na tentativa de destruir o vínculo milenar do povo judeu com a terra que este possuía desde o êxodo do Egito, no século XV A.C. Na realidade, “Palestina” significa “região dos filisteus”, antigos inimigos dos judeus, e que haviam sido extintos pelos persas no século X A.C.).

Muitos dos que fugiram da matança e da captura para servirem como escravos em Roma conseguiram permanecer na terra de Israel, sendo certo que jamais houve um momento sequer na história da região sem que judeus e comunidades judaicas estivessem presentes, apesar das condições extremamente precárias e perigosas. Desde os primórdios da história até os dias atuais, a Judeia e Israel têm sido as únicas entidades políticas independentes e soberanas entre o Rio Jordão e o Mar Mediterrâneo.

Apenas em 638 D.C. um califa árabe muçulmano conquistou a região da Palestina das mãos dos bizantinos (que haviam sucedido ao Império romano do Ocidente) e a anexou ao império árabe-muçulmano. Os árabes, que não tinham nem sequer um nome em árabe para a região, adotaram o nome dado pelos romanos, pronunciando-o como “Falastina”, ou invés de “Palestina” (na língua árabe não há o som de “p”).

Com a queda do império otomano na época da Primeira Guerra Mundial, a Liga das Nações outorgou à Inglaterra o mandato para controlar a região, que se achava abandonada desde a conquista romana, sendo que a Galileia era uma região pantanosa e as outras regiões infestadas de malária, como Jafa e Tel-Aviv, isso para não mencionar os desertos.

A restauração dessa terra começou na segunda metade do século XIX, com os primeiros pioneiros judeus. O trabalho realizado por estes pioneiros criou novas e melhores condições e oportunidades, o que acabou por atrair outros imigrantes de várias partes do Oriente Médio, tanto árabes quanto outros. Os ingleses se referiam à população judaica de Israel como “judeus palestinos” e aos árabes como “árabes palestinos”.

Em 1917, foi emitida a Declaração Balfour, confirmada pela Liga das Nações, por força da qual a área seria aberta à criação de assentamentos judaicos. Também se determinou que os direitos de todos os seus habitantes (já residentes na região) seriam preservados e protegidos. Posteriormente, por pressão dos árabes, foi sendo restringida a imigração judaica na região,

Em 1939, os ingleses decidiram proibir toda imigração Judaica para a “Palestina”, algo que era constante desde o século XVIII na região. Esta proibição foi feita no momento em que os judeus mais necessitavam, uma vez que o nazismo estava fortemente se estabelecendo na Europa e milhões de judeus estavam sendo perseguidos. Milhares que conseguiam escapar dos campos de concentração e tentaram ir para Israel, foram mandados de volta para o inferno, novamente para as câmaras de gás na Europa.

Mas ao mesmo tempo em que os britânicos proibiram a imigração judaica, permitiram ou ignoraram a imigração ilegal de milhares de árabes da Jordânia (chamada de Palestina Oriental), Síria, Egito e de várias partes do norte da África.

Pois bem. A “narrativa” atual é que esses árabes há muitos séculos já estavam estabelecidos na região da Palestina, até que “chegaram” os judeus e os “desalojaram” em 1948. Ora, os judeus lá se encontravam desde o século XV A.C., sendo que as invasões islâmicas ocorreram a partir do século VII D.C., ou seja, aproximadamente 2.000 anos após! Como visto acima, os judeus sempre foram titulares da posse e do domínio do território, apesar das sucessivas invasões, e sempre proclamaram publicamente, “urbi et orbi” que iriam retomar o território (“no ano que vem, em Jerusalém”), de modo que os invasores, fossem quais fossem, sempre correram o risco consciente de que, mais dia, menos dia, mais século, menos século, teriam que restituir os territórios de que que eventualmente tivessem se apossado.

Na realidade, a imigração de árabes para a Palestina durante o Mandato Britânico foi que “desalojou” os judeus. O aumento massivo da população árabe na região é comprovado pela lei criada pela ONU em 1947: “Qualquer árabe que tenha habitado na Palestina por pelo menos dois anos, mas que tenha deixado a região em 1948, é considerado um “refugiado palestino”. Esta é a origem dos famosos “refugiados palestinos”.

Finalmente, em 1964, o “Movimento para Libertação da Palestina” foi criado por Yasser Arafat com o claro objetivo de promover a destruição de Israel. Foi ele quem inventou a expressão “povo palestino”, que, na verdade, não passa de uma genial jogada de marketing político. Posteriormente, em vista dos acordos havidos, o movimento de Arafat retirou de seu estatuto o objetivo de destruir Israel.

Em verdade, as organizações terroristas não têm nenhum plano para fundar uma nação palestina nem nunca terão. Seu intuito é armarem-se até os dentes para destruir Israel, matar o maior número de judeus possível, e aniquilar a civilização ocidental, como fazem, entre outros, o Hamas, a Jihad Islâmica e o Hezbolah, apoiados e financiados pelo Irã, uma ditadura teocrática. Para a mídia mundial os palestinos prometem paz em troca de território, mas para os israelenses esta promessa nunca foi nem nunca será cumprida. Se o objetivo das entidades terroristas é abertamente “destruir Israel”, como pode alguém acreditar que a entrega de terra cessará o conflito? Como dito acima, o obstáculo por ora intransponível é o islamismo fundamentalista. O termo “islã” significa “submissão”. Submissão à vontade de Allah. Submissão ao Corão.

O fundador do islamismo, Abu al-Qasim Muhammad ibn ‘Abd Allah ibn ‘Abd al-Muttalib ibn Hasim, mais conhecido entre nós como Maomé, morreu em 632 D.C. e através da “jihad”, o Islam, em questão de aproximadamente um século, se espalhou da Espanha até a India. De acordo com o Islã, qualquer território, uma vez por ele possuído, se vier a ser perdido ou invadido, continua a ser um território sagrado. Por conseguinte, é imperativo que essas terras sejam recuperadas e novamente submetidas ao Islã.

… não é, pois, apenas antissemitismo gratuito, ódio irracional ou jogo político o que move milhões de muçulmanos pelo mundo afora. É, na verdade, mandamento do Corão. Vê-se, portanto, que há muito mais coisas na complicada política do Oriente Médio do que se vê na mídia escrita, e o modo como a religião é ensinada constitui, sem dúvida alguma, fator que não se pode descartar em nenhuma análise.

Talvez o elemento menos compreendido do Islã seja a doutrina da “jihad” (guerra sagrada). O ensinamento clássico islâmico sustenta que o mundo é dividido em três esferas: a zona do Islã (“dar al-Islam”); a zona de paz (“dar as-sulh” – compreendendo as nações com as quais as nações muçulmanas têm tratados de paz); e a zona de guerra (“dar al-harb” – o resto do mundo). De 1948 até aqui, Israel é a bola da vez, pois é considerada “dar al-harb” a integralidade do território entre o Rio Jordão e o Mar Mediterrâneo.

Historicamente, como é lógico, esses territórios incluem não apenas Israel, que é a “bola da vez” desde 1948, mas grandes porções da Europa meridional, da Espanha e do Norte da África. Considerando-se que a vontade de Allah consiste em que o mundo todo se submeta à lei islâmica, os muçulmanos são conhecidos por seu zelo em espalhar sua religião, seja por meios pacíficos ou pela espada.

A relação do Islã com os judeus e o ódio pregado textualmente no Corão vem desde o tempo de Maomé que, insatisfeito com a resistência dos judeus que viviam na Arábia, e que não queriam se converter à nova religião por ele criada, passou a hostilizá-los, a combatê-los e a nomeá-los como inimigos.

As referências à perfídia e à inimizade dos judeus para com Maomé são inúmeras ao longo do texto corânico, e algumas particularmente interessantes na medida em que são usadas ainda hoje pelos pregadores muçulmanos nas mesquitas do mundo todo, particularmente nos sermões das sextas feiras, que é o dia de descanso dos muçulmanos, correspondente ao sábado dos judeus ou ao domingo dos cristãos.

Ao mencionar a transgressão dos judeus que não aceitavam os novos ensinamentos de Maomé, o Corão diz na Sura 7:166: “E, quando eles, em sua insolência, transgrediram (todas) as proibições, Nós lhes dissemos: “Sede símios desprezados e rejeitados!” Essa Sura, aliás, vem repetir a 2:65 que logo no início do livro sagrado já diz que Allah amaldiçoou o povo judeu “Sede símios desprezados e rejeitados” por terem transgredido o sábado.

Como se não bastasse, na Sura 5:60 o Corão, que é a palavra proferida por Allah diretamente a Maomé, não esqueçamos, e é tida como a revelação final aos homens, equipara judeus a macacos e porcos. Diz: “Deverei apontar-vos algo muito pior do que isso, como retribuição que recebe de Allah? Os que incorreram no insulto e na fúria de Allah, e aqueles que Ele transformou em símios e porcos, aqueles que rezam ao Demônio, estes são (muitas vezes) mais mal classificados e mais extraviados do que os adoradores de ídolos”.

Nas pregações feitas nas mesquitas às sextas feiras, os mulás não se cansam de repetir o que o Corão determina, bem como exige, que os fiéis sigam o exemplo do Profeta que ensinava que os muçulmanos combateriam os judeus até o dia da ressurreição ou julgamento final. Até lá só sobraria um judeu que estaria escondido atrás de uma pedra, e a pedra (!) diria aos muçulmanos “há um judeu escondido atrás de mim. Venha e mate-o”. Isto está num dos mais famosos Hadiths, o de Bukhari, e é constantemente citado pelos que insistem em inflamar corações e mentes no Oriente Médio e em outros países.

O Corão é imutável, não pode ser reescrito, e a interpretação dos radicais é feita literalmente. Ressalve-se aqui, por uma questão de justiça, que há, sim, muçulmanos moderados, aqueles que já adotaram o estilo de vida ocidental, com suas liberdades e costumes, ou seja, que se tornaram laicos.

Em conclusão, não é, pois, apenas antissemitismo gratuito, ódio irracional ou jogo político o que move milhões de muçulmanos pelo mundo afora. É, na verdade, mandamento do Corão. Vê-se, portanto, que há muito mais coisas na complicada política do Oriente Médio do que se vê na mídia escrita, e o modo como a religião é ensinada constitui, sem dúvida alguma, fator que não se pode descartar em nenhuma análise.


Lionel Zaclis

Formado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, 1969.

Especialista em Direito Processual Civil, PUC/SP (1973)

Mestre em Direito Processual pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, 1978.
Menção honrosa: nota 10 e distinção na defesa da dissertação.

Doutor em Direito Processual pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.

Visiting Scholar da Harvard Law School (2002-2003).

Co-autor da obra “Comentários à Legislação Antitruste”.

Autor de diversos trabalhos e artigos publicados em periódicos e revistas jurídicas especializadas.

Áreas de atuação: Contencioso, Contratos, Direito Econômico e Empresarial.