Israel hoje: desafios, curiosidades e história – Por Jayme Vita Roso
“Jurei não ficar em silêncio, quando e onde os seres humanos
tenham de suportar sofrimento e humilhação. Temos sempre de escolher um lado. A neutralidade ajuda o opressor, nunca a vítima. O silêncio encoraja o torturador, nunca o atormentado.” – (Elie Wiesel, no discurso de aceitação do Prêmio Nobel de Literatura, em 1986).
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Recentemente li, com muito interesse, o trabalho publicado pelo pesquisador Paulo Geiger, intitulado Israel e o povo judeu no século XXI: O desafio de uma decisão consciente (Instituto de Cultura Judaica Marc Chagall, UFRGS, v. 1, n.1, WebMosaica, 15-22 pgs).
A história de Israel é um conto fascinante de perseverança, desafios e triunfos. Desde a sua fundação como Estado em 1948, Israel enfrentou numerosos obstáculos econômicos, passou por conflitos militares intensos e moldou suas relações com outras nações. Esses eventos se entrelaçam com o movimento sionista, que desempenhou um papel fundamental na criação de um lar nacional para o povo judeu. Em visto disso, o sionismo desempenhou um papel crucial na história de Israel. O movimento sionista, iniciado no final do século XIX, visava estabelecer um Estado judeu na terra histórica de Israel. O sionismo trouxe um senso de identidade nacional para o povo judeu, unindo-os em torno do objetivo comum de ter uma pátria. Esse movimento atraiu apoio de judeus em todo o mundo, que contribuíram para a construção e o desenvolvimento de Israel. Contudo, não faltam detratores aos ideias sionistas, que é, não raro, mal interpretado, por ignorância ou má-fé, como afirma Geiger: “todo esse complexo de conceitos e atitudes se baseia na premissa de que o sionismo é uma ideologia reacionária, opressora, usurpadora, “racista” segundo a ONU em 1975, numa decisão que foi depois revogada e anulada. Essa interpretação, de novo por ignorância ou por intenção, desconhece o histórico e permanente papel de Sion (ou Tsion) na história judaica, milhares de anos antes que Herzl convocasse o Primeiro Congresso Sionista, em 1897. Tsion sempre foi o centro da identidade judaica, foi onde David construiu a capital do reino judaico há mais de três mil anos, onde seu filho Salomão ergueu o primeiro Templo, para onde os exilados da Babilônia” (p.18).
Após a sua fundação, Israel enfrentou desafios econômicos significativos. Como um país relativamente pequeno, com poucos recursos naturais, Israel precisou adotar uma abordagem inovadora para impulsionar seu desenvolvimento econômico. Desde o início, o país concentrou-se na promoção da educação e no estímulo à inovação tecnológica. Essa abordagem resultou na criação de um dos setores de alta tecnologia mais avançados do mundo, com empresas de destaque nas áreas de tecnologia da informação, biotecnologia, ciências da vida e energia renovável.
Aninhado no coração do Oriente Médio, Israel é um país de profunda importância histórica, cultural e geopolítica. Sua mistura única de história antiga, cultura contemporânea vibrante e cenário político complexo o torna um fascinante objeto de exploração. Neste artigo, mergulharemos nas curiosidades que fazem do Estado de Israel um destino cativante e enigmático.
Depois de bastante reflexão, optei por expor, em algumas poucas linhas – trabalho difícil em função da riqueza histórica do local e complexidade do tema –, curiosidades e interesses sobre o país (com a ajuda de minha amiga Julia).
1) Israel é frequentemente chamado de “Terra Santa” devido à sua imensa importância religiosa. É lar de alguns dos locais mais sagrados do judaísmo, cristianismo e islamismo, como o Muro das Lamentações, a Igreja do Santo Sepulcro e a Cúpula da Rocha.
2) As inovações científicas são impressionantes.
a. Em Biotecnologia: o “Nanowire” – Fio condutor de eletricidade feito de minúsculas partículas de prata, mil vezes mais finos que um cabelo humano. Desenvolvido por Uri Sivan, Braun Erez e Eichen Yoav do Instituto Technion;
b. Em Física: a “Previsão dos Quarks”, por Yuval Ne’eman, da Universidade de Tel Aviv (em parceria com o físico americano Murray Gell-Mann); a descoberta do “Efeito Aharonov-Bohm”, por Yakir Aharonov e David Bohm; “Formulação da Entropia dos Buracos Negros”, por Jacob Bekenstein, da Universidade Hebraica de Jerusalém; a “Notação de Movimento de Eshkol-Wachman” – Um sistema de notação para o movimento de gravação em papel que tem sido utilizado em muitos campos, incluindo dança, fisioterapia, comportamento animal e diagnóstico precoce de autismo.
c. Em Medicina: o desenvolvimento do medicamento imunomodulador “Copaxone” para o tratamento de esclerose múltipla. Foi desenvolvido no Instituto Weizmann de Ciências, por Michael Sela, Ruth Arnon e Deborah Teitelbaum; o desenvolvimento das proteínas Interferon, por Michel Revel do Instituto Weizmann de Ciências; o desenvolvimento da “PillCam” pela Given Imaging, uma cápsula endoscópica para gravar imagens do trato digestivo. A cápsula tem o tamanho e a forma de uma pílula e contém uma pequena câmera. A cápsula é eliminada em poucas horas.
d. Em óptica: o desenvolvimento da menor câmera do mundo – uma câmera de 0,99mm, projetada para caber em um endoscópio minúsculo.
e. Em Química: a descoberta do papel da proteína ubiquitina por Avram Hershko e Aaron Ciechanover, do Instituto Technion (Em parceria com o biólogo judeu americano Irwin Rose). A descoberta levou-os a receber o Prêmio Nobel de Química de 2004.
3) A língua hebraica é uma parte essencial da cultura israelense, o renascimento da língua Hebraica e o trabalho linguístico de Eliezer Ben Yehuda são um grande feito. Aliás, seu alfabeto é uma curiosidade por si só. É escrito da direita para a esquerda e não contém vogais explícitas, tornando a leitura um desafio para os não iniciados.
4) Israel é conhecido como “A Nação Start-up” devido à sua impressionante cena de tecnologia e inovação. O país tem uma das maiores concentrações de empresas de alta tecnologia do mundo, contribuindo com avanços em áreas como segurança cibernética, inteligência artificial e medicina.
5) Israel é um caldeirão de culturas e etnias. Além da maioria judaica, há comunidades árabes, drusas, circassianas e muitas outras. Essa diversidade é refletida na culinária, música e festivais do país, sendo outro grande feito político foi o resgate de judeus etíopes em risco, em uma operação do exército chamada Operação Salomão. Esse feito mostra não só um grande ato político como também a diversidade do povo Israel.
6) Israel é líder mundial em tecnologia de energia solar. Devido ao clima ensolarado, muitas casas e instalações utilizam energia solar para suprir suas necessidades energéticas. Suas empresas trabalham em projetos ao redor de todo o mundo e mais de 90% dos lares israelitas utilizam energia solar para esquentar a água, o que dá uma economia de 8% em seu consumo de energia – o que é muito! – anual.
7) Israel é repleto de cidades antigas com uma rica história. Jerusalém, com mais de 3.000 anos, é uma das cidades mais antigas do mundo, enquanto cidades como Jericó e Acre datam de tempos imemoriais. A própria formação do estado de Israel foi um grande feito político pro mundo no último século. A reconstrução de um país destruído há 2000, que teve sua primeira fundação há mais de 3 mil anos, e seu povo dispersado pelos 4 cantos da terra, ter se reunido nesta mesma terra depois do assassinato massivo de 6 milhões de judeus (holocausto), é sem dúvida um grande feito político mundial pelo bem e pela paz.
8) Apesar do conflito com a Palestina, muito mais complexo do que a mídia faz crer, tem se provado um grande desafio, tanto politicamente quanto economicamente, com um impacto profundo em sua história. Imediatamente após a declaração de independência de Israel, vários países árabes invadiram o novo Estado, resultando em uma guerra de um ano conhecida como a Guerra da Independência. Embora Israel tenha obtido uma vitória militar nesse conflito, o resultado também resultou na criação de uma grande população de refugiados palestinos. Em 1967, Israel enfrentou a Guerra dos Seis Dias, um conflito que teve um impacto transformador na região. Israel lançou um ataque preventivo contra seus vizinhos árabes, devido a temores de uma iminente agressão. O resultado foi uma vitória esmagadora para Israel, que capturou territórios estratégicos, incluindo a Cisjordânia, a Faixa de Gaza, as Colinas de Golan e Jerusalém Oriental. Esses territórios se tornaram pontos de disputa e tensão com os palestinos e outros países árabes nas décadas seguintes. Em 1973, Israel foi pego de surpresa pelo ataque simultâneo do Egito e da Síria durante o feriado judaico do Yom Kippur. A Guerra do Yom Kippur foi um conflito intenso e sangrento, com perdas significativas para ambos os lados. Embora Israel tenha conseguido se defender e repelir os ataques, essa guerra marcou um momento crucial na história militar de Israel e desencadeou esforços renovados para a busca da paz na região.
9) Os Estados Unidos têm sido um fornecedor de longa data e significativo de ajuda militar a Israel. A relação entre os dois países em termos de cooperação de defesa remonta a várias décadas. A ajuda militar dos Estados Unidos a Israel tem sido um elemento fundamental para garantir a segurança de Israel e sua capacidade de se defender em uma região marcada por conflitos contínuos e ameaças à segurança. A assistência militar dos Estados Unidos a Israel assume principalmente a forma de ajuda financeira e fornecimento de tecnologia militar avançada e equipamentos. Essa ajuda tem sido fundamental para aprimorar as capacidades de defesa de Israel, permitindo que o país mantenha uma vantagem militar qualitativa na região. O pacote de ajuda inclui diversas formas de apoio, como doações, empréstimos e vendas de armas a preços subsidiados. A necessidade de defesa de Israel está fundamentada em uma série de fatores.
Além desses conflitos, Israel também enfrentou outras formas de violência, incluindo o terrorismo. Organizações extremistas palestinas, como a OLP e o Hamas, realizaram ataques contra alvos israelenses, visando civis em atentados suicidas, bombardeios e sequestros. Esses eventos trágicos deixaram um impacto duradouro na sociedade israelense e influenciaram as políticas de segurança e combate ao terrorismo do país.
10) Israel enfrenta uma geografia e uma geopolítica complexas, cercada por nações vizinhas com históricos de hostilidade e conflito. Essa posição geográfica desafiadora exige que Israel esteja preparado para enfrentar ameaças à sua segurança nacional. Diante dessas ameaças, é essencial que o país possua meios adequados para se defender e proteger seus cidadãos, questão que é reconhecida pelos EUA. A ajuda militar a Israel é vista como um meio de promover a estabilidade regional e proteger os interesses norte-americanos na região. No entanto, é importante observar que a questão da ajuda militar dos Estados Unidos a Israel também tem sido objeto de debate e controvérsia. Alguns críticos questionam a quantia e a forma dessa ajuda, argumentando que ela pode perpetuar a militarização e os conflitos na região. Por outro lado, defensores argumentam que a ajuda é fundamental para garantir a segurança e a sobrevivência de Israel diante de ameaças reais e existenciais.
Por fim, após essa breve compilação, saliento que o Estado de Israel é um lugar de contrastes cativantes, onde a história antiga se encontra com a inovação moderna e onde as tradições religiosas se entrelaçam com uma cultura diversificada. Essas curiosidades são apenas uma pequena amostra do que este país tem a oferecer, seja aos viajantes e àqueles interessados em explorar suas riquezas culturais, ou pesquisadores e intelectuais dedicados à cultura e tradição da região.
JAYME VITA ROSO
Graduado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, é especialista em leis antitruste e consultor jurídico de fama internacional, ecologista reconhecido e premiado, “Professor Honorário” da Universidade Inca Garcilaso de La Vega de Lima, Peru e autor de vários livros jurídicos.