Daniel Lisak, Presidente do Colégio Renascença – Por Glorinha Cohen

Implementar uma nova proposta pedagógica, retomar a iniciativa de ter uma Associação de ex-alunos, fomentar nos pais o interesse em fazer parte do grupo de voluntários para que participem mais ativamente do dia a dia escolar, ser um lugar de referência para a aprendizagem de três idiomas – português, inglês e hebraico – e ainda assumir a responsabilidade de formar indivíduos que deem continuidade às tradições judaicas e à liderança comunitária são apenas alguns dos desafios enfrentados por Daniel Lisak, o paulistano de sorriso fácil e contagiante que assumiu a presidência do centenário Colégio Renascença em agosto passado.

Em sua busca incessante e contínua pela excelência em todos os departamentos do Rena e movido pela valorização da diversidade, o cultivo da empatia e o respeito, Daniel ainda tem entre seus planos o desenvolvimento global e personalizado dos alunos da Educação Infantil ao Ensino Médio, para que consigam enxergar o mundo de uma maneira diferente, dentro e fora da sala de aula.

A tarefa parece ser das mais difíceis, mas não para este carismático engenheiro mecânico formado pela Escola de Engenharia Mauá que chegou a ser executivo de negócios no Grupo Ultra e a diretor-presidente da Vopak do Brasil, uma multinacional holandesa do setor de logística portuária. Persistente e daqueles raros espécimes que não desistem facilmente, Daniel coleciona sucessos pela vida afora e tem dentre suas inúmeras habilidades aquela de saber, como nenhum outro, impulsionar o desenvolvimento de colaboradores e de equipes plurais, o que o torna ímpar num mundo complexo, multicultural e multifacetado como o nosso.

Nesta entrevista especial ele nos fala sobre a importância do Judaísmo e, dentre outros, destaca pontos importantes como os diferenciais do Renascença com relação aos outros colégios, os recursos tecnológicos que usa para motivar e engajar os estudantes às salas de aula, os princípios para a inclusão de alunos com necessidades especiais e as habilidades de vida que não são ensinadas às crianças, mas são indispensáveis.

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GC – Conte um pouco de sua vida profissional.

DL – Formação acadêmica (formação profissional): Engenheiro Mecânico pela Escola de Engenharia Mauá, pós-graduado em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), MBA em Gestão de Empresas pela Business School São Paulo (BSP) e Toronto University. Fiz o curso de Negócios Globais do IMD na Suíça e curso de Qualificação para Conselheiros de Administração do IBGC.

Mini currículo (Experiência Acadêmica e Administrativa): Executivo de negócios do grupo Ultra por 17 anos; Presidente da Vopak do Brasil (empresa Holandesa) por 3,5 anos; desde 2015 sou sócio diretor da RGF & Associados – Consultoria de Gestão e Reestruturação de Empresas e da Jaraguá Capital, braço de investimentos da RGF. Também sou Conselheiro de Administração certificado pelo IBGC, tendo sido Membro do Conselho e da Comissão de Administração e Finanças do Clube A Hebraica em São Paulo e do Conselho de Administração da Dutcham (Câmara Brasil Holanda de Comércio). Fui durante 3 anos Diretor Financeiro do Colégio Renascença, depois Vice-presidente por outros 3 anos e, atualmente, sou o Presidente do Colégio Renascença.

GC – O que o tira do sério?

DL – Falta de pontualidade e de comprometimento

GC – O que o Judaísmo significa para você?

DL – Tenho orgulho de ser judeu porque a nossa religião e cultura nos ensinam a lembrar de nossas raízes e dos caminhos que percorremos. Trazemos o passado para o presente e permitimos que ele guie nosso futuro. O Judaísmo coloca uma forte ênfase no questionamento e na aprendizagem – somos ensinados a desafiar e ressignificar crenças amplamente difundidas, até que possamos torná-las nossas. O Judaísmo nos ensina a ver e tratar cada pessoa como um ser humano, a ajudar ao próximo e a pertencer a uma comunidade que sempre estará aqui por nós e para nós.

GC – Quais os fatores de vida que lhe são mais importantes?

DL – Em primeiro lugar a família. Depois, conseguir equilibrar a vida profissional com a pessoal e, principalmente, com o trabalho voluntário, para o qual me dedico intensamente.

GC – Como você se definiria e qual a característica mais marcante de sua personalidade?

DL – Me defino como uma pessoa obstinada, persistente e que não desiste facilmente. Como característica marcante, acredito que seja a minha habilidade de cultivar relacionamentos.

GC- Quando começou no voluntariado, qual foi seu primeiro trabalho e quais cargos exerceu?

DL – Iniciei o trabalho voluntário no Renascença. Sempre quis colaborar com um trabalho voluntário que fosse ligado à educação dos jovens, que a meu ver é o futuro de nossa sociedade. Meu primeiro trabalho foi como Diretor Financeiro do Rena por 3 anos. Na sequência fui Vice-presidente do Colégio por mais 3 anos e agora passei a Presidente, sempre como voluntário. Também fui Conselheiro voluntário da Hebraica por 4 anos, tendo feito parte da comissão de Administração e Finanças por duas gestões.

GC – Participa de outras entidades além do Rena?

DL – Atualmente não, meu foco é dedicar-me integralmente ao Rena.

GC – Você é Presidente do Colégio Renascença desde agosto. O que o levou a aceitar o cargo?

DL – Foi um processo construído ao longo dos últimos 6 anos. Quando aceitei o desafio de fazer parte da Diretoria Executiva, em 2017, comecei a vivenciar um Colégio que eu mal conhecia, embora meus filhos já estudassem no mesmo há bastante tempo. Descobri que o Rena possuía um excelente nível acadêmico, e que passaria a ser uma escola moderna com a mudança para a sede atual. Fui me envolvendo cada vez mais, ajudando a implementar a governança no Colégio e, principalmente, aprendendo a ser voluntário, com Marcelo Kauffmann, que já tinha um longo histórico de voluntariado dentro e fora do Rena. E daí em diante fui sendo preparado para substituir o Marcelo. O que me motivou ainda mais para aceitar o desafio e dar continuidade à gestão do Colégio (eu era o vice-presidente na gestão anterior) é o fato de estarmos dando um passo ainda maior rumo à excelência pedagógica e a formação plural dos nossos alunos.

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GC – Quais são suas prioridades e projetos?

DL – Como prioridades elenco algumas:

  • Aumentar a quantidade de alunos do Colégio;
  • Implementar a nova proposta pedagógica;
  • Retomar a iniciativa de ter uma Associação de ex-alunos do Colégio (criamos a mesma no final de 2018 e, em função da pandemia, acabamos interrompendo essa inciativa). A ideia é atrair os ex-alunos para que estejam mais próximos e utilizem nossos espaços;
  • Fomentar nos pais dos alunos o interesse em fazer parte do grupo de voluntários, para que participem mais ativamente do dia a dia do Colégio.
  • GC – Já implementou alguma mudança na sua gestão?

DL – Dado que minha gestão é a continuidade da gestão anterior (da qual eu já fazia parte), várias mudanças já vêm sendo implementadas desde o início de 2023. Eu participei ativamente das decisões. As que são mais aparentes podem ser conferidas na resposta da próxima questão.

GC – Segundo consta, novos profissionais foram contratados para reforçar a equipe do Rena. Quais setores foram reforçados?

DL – Começamos a mudança em janeiro deste ano com a contratação do Professor Marcelo Veraldi na função de Diretor Geral do Colégio. Na sequência, reformulamos o Departamento de Comunicação e Marketing, otimizamos os espaços internos do Colégio e reformulamos o Setor de Orientação Educacional, trazendo profissionais dedicados a cada segmento, com olhar e atendimento personalizado.

GC – Quais os diferenciais do Renascença com relação aos outros colégios judaicos?

DL – Acredito que cada colégio judaico tem um foco específico. No Renascença, uma escola centenária, levamos a educação além das fronteiras, focando na transformação das vidas de nossos alunos, através de uma educação global e bilíngue.

Nosso objetivo é que os sonhos dos alunos ganhem vida e que eles consigam enxergar o mundo de uma maneira diferente, dentro e fora da sala de aula. E que façam suas escolhas ancorados nos princípios, ensinamentos e tradições judaicas, para que possamos nos manter unidos, de geração a geração.

A busca pela excelência em todos os departamentos do Colégio é continua e incessante. A valorização da diversidade, o cultivo da empatia e o respeito é o que nos move. E com tudo isso, olhamos para o futuro!

GC – É verdade que, já a partir do próximo ano, o Rena passará a ser um colégio trilíngue, ou seja, com os idiomas português, inglês e hebraico?

DL – A atual proposta pedagógica do Colégio Renascença visa o desenvolvimento global, multilíngue e personalizado dos alunos da Educação Infantil ao Ensino Médio, sustentada por seis eixos de formação:

– Formação Judaica;

– Formação Acadêmica;

– Formação Bilingue;

– Formação e desenvolvimento Socioemocional;

– Formação em Educação Digital;

– Formação em Sustentabilidade.

Seremos uma escola de referência para a aprendizagem dos três idiomas: português, inglês e hebraico.

GC – O que é necessário para se ter uma educação de qualidade e quais são os desafios?

DL – Em um mundo cada vez mais conectado, complexo, competitivo e cheio de possibilidades, o Renascença oferece uma educação de excelência, aliada à formação judaica.

O colégio investe na formação de cidadãos comprometidos em construir um mundo melhor, não só́ para eles mesmos, mas para os outros e para as futuras gerações. Pessoas capazes de fazer escolhas, inseridas numa educação humanista, pautada nos princípios da educação democrática.

Incentivamos a busca constante pelo conhecimento, curiosidade, criatividade, inovação, disciplina e perseverança, num ambiente que acolhe o novo, abraça o diferente e valoriza o passado para a construção do presente e do futuro. Assumimos a responsabilidade de formar indivíduos que deem continuidade à formação judaica e à liderança comunitária. Acima de tudo, buscamos alimentar e desafiar as mentes e os corações de nossos estudantes para que possam usufruir plenamente de seus potenciais e encontrar seus caminhos, transformando desejos em realizações.

Nossa missão é formar cidadãos do mundo, agentes de transformação. É isso que nos torna quem somos. É isso que nos torna únicos.

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GC – Quais os recursos tecnológicos que o colégio usa para motivar e engajar os estudantes às salas de aula? E quais são os riscos?

DL – Quando construímos o novo campus do Colégio, nosso foco foi ter o que chamamos de espaço educador, ou seja, os espaços do Colégio foram pensados para que os alunos não ficassem apenas dentro da sala de aula e sim, utilizassem os espaços abertos para seu desenvolvimento. Além disso, temos espaços colaborativos onde turmas de diferentes séries podem interagir.

Contamos com o Rena Makers – nosso estúdio de aprendizagem – que oferece tecnologia de ponta. Os alunos são preparados para desenvolver projetos de alta qualidade, focados na investigação, inovação e pesquisa com o uso da tecnologia. No Rena, a educação digital começa no Infantil. Nosso currículo inclui programação e aulas de robótica.

Os laboratórios de Ciências do Colégio são modernos e bem equipados, e propiciam a vivência de situações-problema relacionadas às Ciências e ligados a conteúdos que incluem conceitos de Química, Física, Biologia e demais áreas do conhecimento.

O programa de sustentabilidade do colégio envolve todos os alunos, da Educação Infantil ao Ensino Médio. O intuito é sensibilizar os alunos em relação às questões ambientais, vivenciando as práticas da sustentabilidade, entre elas, a preservação do meio ambiente e o uso de recursos naturais renováveis.

Focamos, também, na saúde e desenvolvimento dos alunos através do esporte, com diversas possibilidades para a prática dos mesmos. E destacamos os grupos de dança – Dorot – que representam, maravilhosamente, o Rena, dentro e fora de nossa comunidade.

Concluo mencionando o espaço do teatro, que conta com tecnologia de ponta e pode ser utilizado em diversas atividades dos alunos do Colégio.

GC – E quanto ao processo de inclusão de alunos com necessidades especiais, em quais princípios se baseia o Rena e quais são os métodos que estão sendo usados para melhor desempenho deles?

DL – A interação social em um espaço que respeita e acolhe a diversidade torna possível alargar a visão de mundo, ampliar a percepção sobre a pluralidade, fortalecer a identidade e estimular a produção de debates e novas ideias. É na relação com o outro que nos constituímos e encontramos a oportunidade de aprender, transformar, desenvolver habilidades e aprimorar práticas para a edificação de uma sociedade inclusiva e justa.

Valorizamos a diversidade, as relações pautadas no respeito e construímos um ambiente no qual crianças, jovens e educadores sejam agentes ativos em prol ao direito às diferenças.

GC – Houve aumento no quadro de psicólogos que assistem esses alunos?

DL – Agregamos à nossa equipe um número maior de orientadoras educacionais para que os estudantes e seus familiares sejam acompanhados nas questões acadêmicas e socioemocionais de forma personalizada. Assim, oferecemos as condições ideais para o desenvolvimento dos estudantes.

GC – Em sentido geral, quais habilidades de vida não são ensinadas às crianças, mas são muito importantes?

DL – Entendemos a escola como um laboratório social. Na escola os alunos experenciam o trabalho em equipe, o diálogo, a troca, o ceder, o se adaptar. A educação do Rena estimula a aprendizagem com significado, e objetiva a preparação dos estudantes para os desafios futuros.

Porém, muitas escolas ainda são conteudistas e se preocupam em priorizar a teoria, sem considerar as habilidades socioemocionais dos alunos, que são privados de utilizá-las em situações concretas cotidianas.

É preciso aproveitar o tempo que os alunos passam nas escolas para oportunizar a eles a autonomia e o protagonismo de suas escolhas, para que alcancem seus objetivos, fazendo uso da ética e dos valores judaico-universais.

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