GUERRA E BARBÁRIE – Por Marco Aurélio Crespo Albuquerque
Por incrível que pareça, contrariando o senso comum que diz que sempre é bom dialogar, agora não é hora para o diálogo com quem não conversa. Agora é a hora para declarar uma guerra sem tréguas ao terrorismo e à barbárie. Que Israel saiba fazê-la com a maior precisão possível, com o maior número de vidas preservadas. Como convém aos povos civilizados, entre os quais esse pequeno grande país é um dos maiores exemplos.
Minha vida pessoal e profissional é baseada em comunicação e diálogo, que valorizo muito como uma força que pode unir pessoas e povos. Dito isso, fico surpreso sempre que leio ou vejo convocações para o diálogo entre quem sabe pensar e falar, com aqueles que só sabem agir e matar. Como psicanalista penso que há um detalhe fundamental para que haja diálogo entre duas pessoas, seja em terapia ou na vida cotidiana: um nível mínimo de compreensão verbal e um estado mental razoavelmente conectado com a realidade, para que se estabeleça o que nós chamamos de “aliança terapêutica”, reconhecidamente a maior força curativa na psicoterapia e na psicanálise. O que antes era a cura pela palavra, agora se sabe que não é só isso, é principalmente a cura pela relação.
Mas certas relações são impossíveis. Associo essas ideias diretamente com os pedidos que agora surgem, de diálogo entre um país democrático e soberano, conectado com a realidade, e um grupo terrorista composto em sua maioria por homens agressivos e violentos, dispostos a matar crianças, jovens e velhos com tiros à queima-roupa dentro de suas casas. Eles pensam e funcionam em bases fanáticas, enlouquecidas. É a conversa e a relação impossível entre alguém com juízo de realidade preservado e um grupo de gente louca, um grupo psicótico, cego, surdo e mudo às complexidades da realidade. E ao diálogo. Para ser mais exato, é impossível o diálogo racional com psicopatas paranoicos e assassinos, que abandonaram a palavra e a trocaram pelos atos de barbárie, com balas e mísseis. A psicose, especialmente a paranoica, inverte a realidade a ponto de aquele que ataca de forma inesperada e violenta dizer que faz isso porque está se defendendo. Sim, se defendendo de sua própria loucura, de preferência enlouquecendo os outros.
A partir dessas colocações faço mais duas conexões com o ataque terrorista a Israel. A primeira é que não há diálogo possível com terroristas, como os inocentes bem-intencionados, mas iludidos, defendem, e como alguns governantes vêm a público agora defender o diálogo enquanto apoiam e se aliam a estados que abrigam o terror, como o Irã. Os terroristas têm um outro estado mental, fanático, e o fanatismo não dialoga com ninguém, só com seus próprios instintos e necessidades.
A segunda conexão que faço é a estranheza e o desconforto que eu experimento com a posição de pessoas que saíram a público defender os atos terroristas, dizendo que são atos justos de defesa de um povo oprimido. É mentira, são os mesmos que sempre veem o mundo dividido entre opressores e oprimidos, e a realidade é muito, muito mais complexa do que isso. Mais ainda: alguém só pode se aliar aos terroristas se tiver o seu terrorista interno em festa pelos assassinatos de inocentes, como parece ser o caso de uma senhora de sobrenome Genro, num post veiculado ontem nas redes sociais.
Mas não só ela, no Twitter diversas pessoas saíram a justificar e apoiar ideologicamente os assassinatos, sem perceberem que o que estão fazendo é tornarem-se cúmplices, ideológicos ou não, da violência e da irracionalidade. Qualquer um que não esteja ao lado de Israel nesse momento, e estejam defendendo os atos do Hamas como “justos” e “defensivos”, tem um ódio mal resolvido no coração, a ponto de cegar-se para o óbvio. Nada justifica, por exemplo, o brutal assassinato de jovens, como o de uma jovem com cidadania alemã chamada Shani Louk, 30 anos, um filho ainda criança. Ela foi estuprada, assassinada, teve seus membros quebrados e foi carregada já morta, nua num porta-malas de caminhonete, onde os tais “defensores dos oprimidos” cospem em seu corpo morto enquanto gritam que deus é grande.
Por incrível que pareça, contrariando o senso comum que diz que sempre é bom dialogar, agora não é hora para o diálogo com quem não conversa. Agora é a hora para declarar uma guerra sem tréguas ao terrorismo e à barbárie. Que Israel saiba fazê-la com a maior precisão possível, com o maior número de vidas preservadas. Como convém aos povos civilizados, entre os quais esse pequeno grande país é um dos maiores exemplos.
Marco Aurélio Crespo Albuquerque
Marco Aurelio Crespo Albuquerque é médico de família, psiquiatra e psicanalista, radicado em Porto Alegre – RS. Psiquiatra do Serviço de Saúde Comunitária do Grupo Hospitalar Conceição (GHC), Professor Convidado das Residências de Medicina de Família e Comunidade e de Psiquiatria do Hospital Nossa Senhora da Conceição; Membro Efetivo e Psicanalista Didata da Sociedade Brasileira de Psicanálise de Porto Alegre, Membro Associado da FEBRAPSI e da FEPAL, Membro Associado da International Psychoanalytical Association (IPA).
É escritor, autor de crônicas, poesias e contos, tendo publicado o livro de contos “Amor, ódio e outros sentimentos complicados”.