“SILÊNCIO E OMISSÃO” – Por Claudio Lottenberg

Um relatório da ONU divulgado há poucos dias cita indícios de violência sexual contra mulheres durante o ataque do Hamas a Israel, em 7 de outubro.

Importantes segmentos da vida política do Brasil, que tanto se orgulham de defender as mulheres e as minorias, passaram ao largo do tema. Certamente, porque a violência contra mulheres judias afronta certezas pré-estabelecidas pela cegueira ideológica atual.

Daqui para frente, que se dê o nome certo à bandeira empunhada por estes que se omitem: defesa dos “direitos de alguns humanos”, os que convém à estratégia de encaixar fatos na narrativa pronta, em vez de construir as narrativas a partir dos fatos.

Escolher e manipular informações para servir a um propósito malicioso é uma técnica amplamente usada pela desinformação. Na maioria das vezes, a verdade exige entender os contextos completos e discutir questões com profundidade e coragem.

A honestidade e a integridade são fundamentais para um diálogo construtivo. Hoje, infelizmente, quem deveria dar o exemplo investe tempo e energia não no diálogo, mas apenas em “ter razão”, mesmo que essa razão só se sustente na frágil colagem de partes incompletas, que passam a ter a falsa aparência de um todo.

Não é só no Brasil que isto ocorre. O embaixador israelense na ONU, Gilad Erdan, alerta para o fato de que, cinco meses depois do ataque terrorista do Hamas, “nem uma única” discussão foi realizada sobre o bem-estar dos reféns ou sobre a violência sexual cometida pelo grupo extremista.

É de John Kennedy a frase: “Quase sempre preferimos o conforto da opinião ao desconforto da reflexão.” Quando a ideologia é colocada acima dos princípios e dos valores fundamentais, colhemos distorções e injustiças. Os princípios e valores devem guiar as ações e políticas, em vez de estarem submetidas a elas. Só assim a democracia e a liberdade prosperam.

Uma organização terrorista comete um genocídio: invade um país com a intenção declarada de matar todos os judeus que encontrar pela frente. A vítima passa a se defender e, automaticamente, é classificada como agressora.

Acabar com o conflito atual é simples. Basta que o Hamas liberte os reféns, reconheça o direito à existência de Israel e abdique do terrorismo.

A África do Sul, que enfrenta críticas por violações dos direitos humanos em várias áreas, propôs, com apoio do Brasil, uma ação em Haia. A conclusão foi a de que Israel tem o direito a se defender, que os reféns devem ser soltos e que cuidados devem ser tomados para que não ocorra um genocídio. Automaticamente, a pauta muda, já que os fatos afrontam a narrativa construída antes deles.

A boa liderança também é resultado da coerência entre discurso e atitude. O poder é transitório. A verdade, felizmente, não.

Nota – artigo publicado no site UOL no sábado (16)


Claudio Lottenberg

Cláudio Lottenberg é Presidente da CONIB e Presidente do Conselho Deliberativo da Sociedade Beneficente Israelita Albert Einstein.

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