CONIB LIDERA MISSÃO DE BRASILEIROS EM ISRAEL

– Missão de brasileiros se solidariza com familiares de vítimas em Israel

– Delegação ouve sobreviventes brasileiros no local da festa atacada pelo Hamas

– “Estamos lutando uma guerra que representa todos os valores do mundo livre”, diz presidente de Israel à delegação da CONIB

– Missão a Israel fortaleceu as relações com o Brasil, afirma presidente da CONIB


Missão de brasileiros se solidariza com familiares de vítimas em Israel

Encontro com familiares das vítimas

Os integrantes da missão oficial e humanitária de brasileiros organizada pela Confederação Israelita do Brasil (CONIB) estiveram neste domingo (14 de abril) em visita à Praça dos Reféns, em Tel Aviv, levando apoio a familiares das vítimas dos ataques do Hamas em 7 de outubro de 2023. O gesto de solidariedade ocorre seis meses depois da tragédia registrada no sul do país e um dia depois da escalada de tensão no Oriente Médio, com os ataques do Irã a Israel, que coincidiram com o início da chegada da delegação ao país. O encontro deste domingo foi marcado pela emoção dos familiares, que apelam por uma mobilização internacional para a libertação das vítimas.

O Fórum de Famílias de Reféns e Desaparecidos reúne familiares de pessoas que desapareceram ou foram sequestradas e são mantidas como reféns pelo Hamas há mais de seis meses, desde o ataque terrorista de 2023. Além de ouvir os relatos contundentes e ouvir os apelos pela libertação das vítimas em poder dos extremistas, a delegação brasileira percorreu a Kikar Hatufim, a Praça dos Reféns, uma área pública localizada em frente ao Museu de Arte de Tel Aviv. O local tornou-se uma referência para as famílias dos reféns e demais vítimas e para os que desejam expressar solidariedade.

O presidente da CONIB, Claudio Lottenberg disse que o espírito de união dos integrantes da delegação contribuiu para que programação tivesse continuidade, mesmo depois que todos precisaram se refugiar num bunker para se proteger dos ataques aéreos de sábado à noite. E essa união se deve ao fato de a missão ter um propósito claro: “Nunca se muda um propósito quando ele deriva de valores, ainda mais quando são comprometidos com a verdade, com a integridade, com respeito mútuo, com sentimento de compaixão. Nós acreditamos no real e verdadeiro relacionamento de dois Estados, dois países pautados pela democracia – Brasil e Israel”. Lottenberg disse confiar que, por parte do Brasil e de Israel, independentemente de governantes, “essa relação deve prevalecer em bom termo, de maneira verdadeira e intensa, como existe desde a fundação de Israel”.

O presidente da CONIB ressaltou que um os objetivos da missão é “levar o apoio da comunidade brasileira a Israel, aos israelenses e a todos que estão vivendo de perto esse momento tão difícil”. E concluiu: “Nosso pensamento está com as famílias das vítimas do conflito e com os reféns que seguem prisioneiros do terrorismo do Hamas, por quem seguimos mobilizados pela imediata libertação”.

Visita ao Kotel

A visita aos familiares das vítimas foi o ponto alto da agenda do segundo dia da Missão da CONIB, que começou com uma visita ao Kotel Hamaaravi, o Muro Ocidental, um dos locais mais sagrados do judaísmo, localizado em Jerusalém, com a presença de representantes de organizações judaicas. Entre outros compromissos, a missão brasileira encontrou-se também, neste domingo, com parlamentares da Knesset, entre os quais Shelly Tal Meron.

Da comitiva de brasileiros, liderada por Lottenberg, fizeram parte Daniel Borger, Marcia Borger, Danilo Knijnik, Fernando Lottenberg, Henry Chmelnitski, Jayme Garfinkel, Marcelo Blay, Nelson Sirotsky, Oscar Jaroslavsky e Salomão Ioschpe, além da jornalista Anik Suzuki.


Delegação ouve sobreviventes brasileiros no local da festa atacada pelo Hamas

A delegação de brasileiros que cumpre uma agenda oficial e de caráter humanitário no país percorreu nesta segunda-feira (15 de abril) algumas regiões que foram palco de atentados cometidos pelo Hamas em 7 de outubro de 2023, no sul do país. Dois dias depois da escalada do conflito, com o ataque do Irã a Israel, os integrantes da comitiva estiveram no Kibutz Nir Oz, o mais atingido, e no espaço em que era realizada uma festa, com centenas de jovens, na data do atentado terrorista. Os sobreviventes relataram o que viram durante os atos extremistas que resultaram em 1.200 mortes, além de feridos graves e sequestros, com mais de 100 das vítimas ainda hoje mantidas como reféns.

Entre os que receberam a missão no sul de Israel, estavam os jovens brasileiros Rafaela Triestman e Daniel (Dany) Cohen, que participavam da festa rave atacada em outubro. Rafaela fez um relato do que vivenciou a partir do momento em que a música parou e os ataques começaram. “Estávamos na pista principal quando ouvimos os alertas. A partir deste momento, cada um buscou formas de sair do local. Eu e meu namorado corremos para campo aberto até conseguir uma carona, e, em seguida, pedimos para descer no primeiro bunker à margem da estrada. Logo, éramos 40 pessoas naquele espaço pequeno, atacadas por tiros e granadas”.

Há três anos em Israel, Rafaela sobreviveu escondida sob corpos, mas seu namorado, Ranani Nidejelski Glazer, de Porto Alegre, morreu no local, às vésperas de completar 24 anos. Daniel Cohen, outro sobrevivente brasileiro com quem a delegação se reuniu, disse que só conseguiu fugir porque foi um dos primeiros a sair do local de carro, testando várias rotas, para desviar dos terroristas. “Escapei dirigindo fora da estrada, pelo campo mesmo, e tive que tomar uma série de decisões rápidas, sob tiros”, explicou.

Só no local da festa de música eletrônica, visitado pela comitiva brasileira, a estimativa é de que tenham ocorrido 364 mortes, além de dezenas de sequestros. A outra vítima brasileira do ataque foi Bruna Valeanu, morta também aos 24 anos, e que morava em Israel havia oito anos. A sede da festa israelense foi transformada em um memorial ao qual comparecem, semanalmente, milhares de visitantes.

O presidente da CONIB (Confederação Israelita do Brasil), Claudio Lottenberg, emocionou-se com os relatos. “Mesmo para mim, que estou envolvido desde o dia 7 de outubro, as visitas de hoje me chocaram profundamente. Israel, de fato, está se defendendo de terroristas, de bárbaros. O que me deixou mais impactado é que eu vi sinais claros de uma ação atroz, organizada com detalhes e executada com frieza e sem piedade. Temos a obrigação de mostrar ao mundo os riscos dos fundamentalistas para todos, e não só para judeus.” Lottenberg convidou os dois jovens para visitarem o Brasil, com o objetivo de que compartilhem seus relatos com a sociedade brasileira.

A situação hoje no kibutz Nir Oz

No kibutz Nir Oz, muitas residências podem ser observadas hoje com seu interior completamente destruído. A visitação é autorizada pelas próprias famílias. O porta-voz das Forças de Defesa de Israel (FDI) para a América, Roni Kaplan, que acompanhou a comitiva ao kibutz, fez um relato da dramática situação encontrada e do atendimento prestado depois dos ataques às moradias. O militar disse que, hoje, as famílias desalojadas vivem em local provisório, mas desejam retornar para o kibutz.

Um quarto dos mais de 400 moradores na época foram mortos ou sequestrados em 7 de outubro. Os brasileiros que integram a comitiva a Israel percorreram também o local conhecido atualmente como Cemitério de Carros, formado por um conjunto impressionante de veículos destruídos durante o ataque e que foram recolhidos ao local para perícia. Especialistas atuaram durante um longo período no local para coleta de DNA para, assim, assegurar a identificação das vítimas.


“Estamos lutando uma guerra que representa todos os valores do mundo livre”, diz presidente de Israel à delegação da CONIB

Delegação com o Presidente Isaac Herzog

O presidente de Israel, Isaac Herzog, afirmou nesta terça-feira (16 de abril) que “estamos lutando uma guerra que representa todos os valores do mundo livre”, ao receber, em Jerusalém, a comitiva de brasileiros liderada pelo presidente da Confederação Israelita do Brasil (CONIB), Claudio Lottenberg. “Estamos aqui para combater o mal, e o apoio e solidariedade da comunidade judaica brasileira são extremamente importantes pra nós”, disse o presidente israelense, manifestando aos brasileiros a expectativa de que “a gente possa ver os nossos reféns de volta o quanto antes”.

Herzog, que, ao final da audiência, gravou um vídeo dirigido aos brasileiros, disse confiar também que os soldados israelenses “superem qualquer perigo” e que os “feridos sejam curados”. Ao final, expressou “nossa gratidão, força, melhores votos e nosso amor à comunidade judaica brasileira”.

Em sua manifestação, Lottenberg ressaltou a mobilização da CONIB para ampliar o entendimento da sociedade brasileira sobre a dimensão do conflito. “Esta não é uma luta entre o Hamas e Israel, muito menos entre os palestinos e Israel, mas sim entre os que defendem o Estado Democrático de Direito, a liberdade e o progresso contra o fundamentalismo e suas práticas terroristas”, disse. Afirmou, ainda, sobre o conflito: “A solução no presente momento passa pela criação de dois Estados que se respeitem mutuamente, onde a segurança de Israel seja garantida, e isso com o Hamas não é possível”.

À tarde, a delegação brasileira esteve no Ministério das Relações Exteriores de Israel, onde foi recebida pelo embaixador Mati Cohen e pelo diretor do Departamento do Brasil e Caribe, Omer Chechek Katz. Durante o encontro, de quase três horas, foram tratados temas relacionados à política externa brasileira e às relações bilaterais Israel-Brasil, além do aprofundamento das questões geopolíticas do Oriente Médio e seus múltiplos impactos globais. “Este momento impõe uma necessidade de conscientização acerca do perigo do fundamentalismo. A sociedade precisa acordar para esta ameaça”, disse Lottenberg.


Missão a Israel fortaleceu as relações com o Brasil, afirma presidente da CONIB

O presidente da Confederação Israelita do Brasil (CONIB), Claudio Lottenberg, afirmou que a missão de brasileiros a Israel, liderada pela entidade, e encerrada nesta quarta-feira (dia 17), “superou todas as expectativas”. Lottenberg disse que “relações bilaterais dependem de ânimos e entendo que conseguimos passar a mensagem de que o povo brasileiro é amistoso, e que ambas as sociedades, a do Brasil e a de Israel, se respeitam mutuamente”.

A programação de cinco dias no país, com encontros oficiais e de caráter humanitário, foi mantida mesmo com a escalada dos conflitos no primeiro dia de agenda, quando Israel foi atacado pelo Irã. O apoio e a solidariedade têm um valor extraordinário nesse momento, e recebemos muita gratidão das pessoas por estarmos lá, explicou Lottenberg. Outro resultado destacado foi a oportunidade de aprofundar a compreensão sobre o conflito. “Estamos lutando por um mundo que precisa preservar a democracia, a liberdade de expressão, o respeito e seguir combatendo a intolerância. Infelizmente, o Hamas e o Irã são ‘a foto e o filme’ do contrário de tudo isso. Nós, judeus, precisamos trazer mais gente para esta luta porque ela é muito maior do que a luta do Estado de Israel e da sobrevivência do judaísmo”, afirmou. ”Precisamos alertar para o quão preocupante é o que está acontecendo.”

A delegação também se reuniu com Yossi Beilin, político com atuação significativa no processo de paz israelense-palestino dos anos 1990. “Só existe saída com confiança mútua e, por mais difícil que seja, é preciso ter os territórios definidos”, afirmou o político à delegação. “É preciso ter Israel com seu Estado reconhecido, a Palestina com seu Estado reconhecido, e viver em paz.”

No encerramento da programação, Marcelo Blay, integrante da comitiva de brasileiros, ressaltou que, neste momento crítico da história de Israel, a solidariedade internacional se faz mais essencial do que nunca. “O apoio da comunidade judaica global não apenas reforça os laços fraternais entre nós, mas também serve como um bastião contra as marés crescentes do antissemitismo, que, para nossa consternação, continuam a ressurgir em várias partes do mundo”, afirmou.