Plantando sementes pela vida – Rav Efraim Birbojm

Precisamos parar de pensar somente em nós mesmos, no nosso próprio benefício, e começar a pensar em plantar no mundo coisas que os outros também poderão colher.

“Reuven trabalhava em uma fábrica que ficava na cidade vizinha. Todos os dias ele pegava o ônibus e viajava por cerca de cinquenta minutos até o trabalho. No fim da tarde, ele fazia o mesmo trajeto de volta para a casa. A viagem era muito tranquila e Reuven aproveitava para relaxar um pouco. Mas havia no ônibus algo curioso que acontecia todos os dias e que começou a incomodá-lo. No ponto seguinte ao que ele subia, entrava sempre uma velhinha. Assim que subia no ônibus, ela procurava sempre sentar em uma das janelas. E todos os dias ela repetia a mesma atitude estranha: ela abria a bolsa, tirava um pacotinho e passava a viagem inteira atirando alguma coisa para fora do ônibus através da janela. Certo dia, Reuven fez questão de sentar-se ao lado da velhinha. Assim que ela começou o seu “ritual”, ele não resistiu e disse:

– Boa tarde. Desculpe a curiosidade, mas o que a senhora está jogando pela janela?

– Boa tarde – respondeu a velhinha, de forma muito simpática – Jogo sementes de flores. É que eu viajo neste ônibus todos os dias e, quando olho para fora, acho a estrada tão cinzenta e vazia. Gostaria de poder viajar vendo flores coloridas por todo o caminho. Imagine como seria bom…

– Mas a senhora não acha que é um desperdício? – interrompeu Reuven – A maioria das sementes deve cair no asfalto, sendo esmagadas pelos carros ou devoradas pelos passarinhos!

– O senhor tem razão – disse a velhinha, com muita paciência – Mas acredito que mesmo muitas sendo perdidas, algumas acabam caindo na terra e, com o tempo, vão brotar. Mesmo que demorem para crescer e precisem de água, serão irrigadas pelas chuvas e crescerão no momento certo.

Dizendo isso, a velhinha virou-se para a janela aberta e recomeçou seu “trabalho”. Reuven desceu do ônibus pouco tempo depois, achando que a velhinha já estava meio “caduca” e que não valia a pena discutir com ela.

O tempo passou. Certo dia, sentado à janela, Reuven olhou para fora e reparou nas belas margaridas, hortênsias e rosas na beira da estrada. A paisagem estava colorida, linda. O homem lembrou-se da velhinha, mas procurou-a no ônibus e não a encontrou. Perguntou ao cobrador, que conhecia todos os passageiros, mas foi informado que ela havia falecido de pneumonia no mês anterior. Chocado com aquela notícia, Reuven voltou ao seu lugar e continuou olhando a paisagem florida pela janela. Pensou consigo mesmo: “Quem diria, as flores brotaram mesmo! Mas de que adiantou o trabalho da velhinha, se ela faleceu sem ver o resultado?”.

Naquele instante, Reuven escutou uma risada de criança. No banco da frente, um garotinho apontava pela janela, entusiasmado, e dizia: “Olha, mãe, que lindo, quantas flores pela estrada!”. Reuven então entendeu o que a velhinha tinha feito. Mesmo não estando ali para contemplar as flores que havia plantado, a velhinha havia feito a sua parte, ela tinha deixado um presente maravilhoso para as outras pessoas.

No dia seguinte, Reuven entrou no ônibus de manhã e fez questão de sentar-se ao lado de uma janela. Ele tirou um pacotinho de sementes do bolso e começou, com um enorme sorriso no rosto, a atirá-las pela janela…”

Precisamos parar de pensar somente em nós mesmos, no nosso próprio benefício, e começar a pensar em plantar no mundo coisas que os outros também poderão colher.


RAV EFRAIM BIRBOJM

– Mestre em Engenharia pela Escola Politécnica da USP, começou seu processo de Teshuvá (retorno ao judaísmo) aos 25 anos, através da Instituição “Binyan Olam”. Atualmente comanda uma comunidade em São Paulo, cuja missão é oferecer a oportunidade de crescimento espiritual para o público já observante da Torá, bem como oferecer a oportunidade de pessoas não observantes se aproximarem um pouco mais do judaísmo. Saiba mais.