A multifacetada terceira idade – Por Glorinha Cohen
“Portanto, enquanto há fôlego, energia, enquanto o coração bate firme, viva intensamente. Abrace os encontros, ria alto, desfrute os prazeres simples e complexos da vida. Cultive suas amizades como quem cuida de um jardim. Porque, no final, o que resta não são as conquistas, nem os títulos, nem os aplausos. O que resta são os laços, os momentos partilhados, a luz que espalhamos. Seja luz, seja presença, e você será eterno”.
Melhor idade, terceira idade ou idade do ouro. Qualquer nome que você dê à esta importante e inexorável fase da vida indubitavelmente encontrará também os inconvenientes que ela acarreta, que somente quem já chegou lá pode dizer. Ninguém mais.
É possível até amenizar as decepções que ela traz e dizer para aquela estranha que você vê no espelho que agora terá tempo suficiente para cuidar mais de si própria, paparicar os netos, viajar e fazer aquilo que nunca foi possível antes. Tudo isto é verdade, assim como é verdade que ninguém escapa dos momentos de frustração ao constatar que os amigos não são tantos como antigamente, os convites para festas quase nem chegam e, mesmo sem ter a intenção, as pessoas fazem com que se sinta que já não é mais tão necessária; nem mesmo para continuar fazendo aquele trabalho voluntário que lhe trazia tanta alegria. Ninguém mais parece se lembrar das coisas importantes que você fez e se fixam apenas nas mudanças implacáveis que os sinais do tempo deixam no seu rosto, incapazes de imaginar que você poderia muito bem acompanhar os avanços tecnológicos que o mundo impõe.
Uma urgência insana em renovar tudo e todos parece tomar conta das pessoas.
Evidente que, gostando ou não, a roda da vida impõe mudanças no papel que representamos no dia a dia. Mas, é esta visão nada simpática proporcionada pela sociedade que deixa um cadinho de tristeza difícil de superar.
Então, não venha me dizer que tudo é “um mar de rosas” na terceira idade, porque não é. Como bem desabafou uma querida amiga: “Não adianta enfeitar a realidade: aqueles que foram protagonistas não se conformam com um papel secundário de coadjuvantes. Não estamos confortáveis neste nosso ciclo. É como se tivessem tirado o nosso glamour, um verniz com o qual estávamos acostumadas e com o qual convivíamos tão bem”.
Se esses são sentimentos que tomam conta da maioria das pessoas, há aquelas que, como a paulistana Anita Rapoport (foto), dá um exemplo de otimismo e alegria perante a vida e mesmo na terceira idade não deixa de praticar seu esporte preferido – a natação -, é voluntária na Hebraica de São Paulo e vive intensamente cada momento.
“Lembra o lado bom da sua juventude? Éramos ágeis, alegres, dançávamos muito, trabalhávamos com muita intensidade. Tudo isto representou, possivelmente, um dos melhores momentos da minha vida. Só restou saudades. Hoje, tudo ocorre mais lentamente. Porém, acumulei sabedoria, discernimento nesta minha etapa da vida. Agora, não desprezo o passado e curto o presente mantendo, sempre que possível, tudo que me satisfaz. A vida é curta, então CURTA “, diz ela.
Conselho sábio que vai de encontro ao que disse o escritor José Luiz Ricchetti em sua crônica Caminhos do Tempo: “Portanto, enquanto há fôlego, energia, enquanto o coração bate firme, viva intensamente. Abrace os encontros, ria alto, desfrute os prazeres simples e complexos da vida. Cultive suas amizades como quem cuida de um jardim. Porque, no final, o que resta não são as conquistas, nem os títulos, nem os aplausos. O que resta são os laços, os momentos partilhados, a luz que espalhamos. Seja luz, seja presença, e você será eterno”.