A VISÃO JUDAICA DA MORTE – RABINO RUBEN NAJMANOVICH

Rabino Ruben'


Se se tratasse apenas da mera existência biológica, o ser humano não necessitaria mais do que precisam os animais para viver.

A morte é uma noite entre dois dias. O corpo, irremediavelmente, morre. Regressa à terra da qual surgiu. Porém a alma humana sobrevive ao sepulcro e permanece existindo, ainda que de uma forma totalmente diferente da terrena. Na realidade, o ser humano atravessa três etapas diferentes de existência. Cada uma superior em relação à que a precedeu. É impossível conceber a etapa a seguir, mas podemos saber a respeito da anterior.

A primeira etapa é o mundo intrauterino: o ventre materno, no qual ocorre a preparação física da vida que virá depois. Muitos elementos e sistemas orgânicos vitais neste mundo em que vivemos são inúteis nessa etapa, como a existência de uma boca, de um par de olhos ou de um nariz. Trata-se claramente de preparativos para uma nova vida.

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Passados nove meses, ao iniciarem-se as primeiras contrações, sentimos que algo está chegando ao fim. No momento do nascimento, passamos por um processo tão traumático quanto a morte. De certa forma, finalizamos uma etapa e iniciamos outra. Lentamente, começamos a perceber que não estamos mortos, senão que temos acesso a uma nova dimensão, fascinante, cheia de luz, sons e sensações, muito superior à anterior. Uma existência infinitamente mais significativa.

Algo muito similar sucede com a vida presente em relação à futura. Aqui nos preparamos espiritualmente para a vida que vem a seguir. Desenvolvemos, também, faculdades aparentemente supérfluas.

O homem, durante oito ou nove décadas de sua vida, pensa, reflete, descobre, cria, sonha. Sua natureza o inclina a procurar certos valores éticos e espirituais. A fazer o bem, a indagar a respeito do significado de seu ser, a procurar o seu Criador. Com o correr dos anos, o homem cresce em sabedoria. Tudo aponta para uma continuidade. Se se tratasse apenas da mera existência biológica, o ser humano não necessitaria mais do que precisam os animais para viver.

Ao morrer, também nascemos para um mundo totalmente diferente. Dessa vez, trata-se de uma fase definitiva. Essa última dimensão da existência humana é denominada Olam Habáh pelos nossos sábios (da literatura rabínica, chamados de chachamim), ou seja, o mundo por vir: a vida depois desta vida.


RABINO RUBEN NAJMANOVICH – Professor da Ciência da Religião, Mestre em Ciências Sociais e humanidades, menção educação, dá aulas em uma Universidade de Buenos Aires, Argentina, onde reside e faz parte da Fundação Zichron Shlomo, a qual se dedica ao esclarecimento de conceitos judaicos em diferentes segmentos da sociedade, em toda America Latina. É autor dos livros “Maimônides”, da Editora Zahar, “A Cabaláh do dia a dia” e “A consagração do repouso” e coautor da obra “A consagração do repouso”, além de ter participado de outros livros. Tem o blog pensamentosdorabino.blogspot.com

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