MEDICAMENTOS PARA OS IDOSOS – DR. LUIZ FREITAG

Luiz Freitag


Atualmente, no Brasil, há cerca de 11.000 medicamentos envolvendo 18.000 princípios ativos de produtos químicos. O que poucos sabem é que tanto idosos como crianças podem sofrer uma interação medicamentosa prejudicial quando esses medicamentos não são bem avaliados pelos médicos no momento da prescrição. É a consulta apressada, quando o médico atende vários convênios e não se dispõe a analisar se realmente são necessários tantos produtos para uma só pessoa. Estudos no Brasil mostram que 13% de pacientes que tomam só dois medicamentos já apresentam interação prejudicial, mais frequente em idosos acima de 65 anos.

Em nova pesquisa realizada em maio de 2009 na Faculdade de Farmácia de Ribeirão Preto(SP), foi comprovado que de cada 100 idosos que tomam os remédios com regularidade, 44 não deveriam estar tomando por serem inadequados. Há vários motivos para isso ocorrer, onde o mais grave é a falta de conhecimento do médico sobre as substâncias que são utilizadas na composição. Outro problema tambem grave, é que são os mais pobres os mais prejudicados, pois as farmácias do SUS tem limitação de variedade de remédios e o médico do SUS só pode prescrever o que existe na farmácia, muitas vezes ignorando se determinado idoso poderia tomá-lo ou não.

Para complicar ainda mais essa situação, ocorre ainda a influência dos chamados “médicos pesquisadores” de instituições consideradas de padrão internacional. Infelizmente, a grande maioria desses pesquisadores recebe auxílio financeiro dos laboratórios, em geral, estrangeiros. Com isso, quando os médicos frequentam um Congresso, sempre são assediados pelo “marketing” desses laboratórios, para participar de um almoço onde será oferecido um brinde, para ouvir a palavra autorizada de um médico conceituado, que falará sobre as vantagens de um novo produto, geralmente envolvendo colesterol alto ou hipertensão arterial. Em Medicina deu-se a esta situação o nome de” conflito de interesse”. Nos Estados Unidos e Europa, quando há destinação de verba especial por parte de indústria farmacêutica, é necessário justificar o porquê. Lá as Universidades já tem verba própria para pesquisas. Quando ocorrer essa situação no trabalho médico, deve ser citado quem doou e por quanto tempo. Tambem deverá ser mencionado na apresentação do trabalho em Congresso.

E quando esses pesquisadores se propõem mudar diretrizes e bases do que já está tão bem estabelecido? Só um exemplo. Nas pesquisas sobre disfunção erétil (impotência masculina) os cinco médicos desse estudo estavam envolvidos com os laboratórios!

Nos Estados Unidos, já há um movimento entre os médicos para cercear esse tipo de estudo. Em geral são contratados médicos de alto conceito na classe médica só para “dar o nome”, enquanto quem realmente faz o levantamento e exames são os estagiários e outros menos qualificados para tal. O comprometimento pode ser até pior quando são minimizados os riscos ou produzir distorção de dados da pesquisa, favorecendo o produto.

Orientamos sempre a quem tomar vários medicamentos ler as bulas, se o seu médico não explicou corretamente os efeitos colaterais de cada medicamento. Nunca se automedicar ou misturar remédios de um médico com outros receitados por médico diferente e que desconheça os medicamentos prescritos pelo primeiro médico. Obedeça aos horários de tomada dessas drogas. Muitas devem ser tomadas em jejum, outras depois das refeições e ainda outras que não devem ser tomados à noite ou com bebidas alcoólicas.


Luiz Freitag – geriavita1@uol.com.brwww.medicogeriatrasp.com.br

Autor do livro “Como transformar a terceira idade na melhor idade” Ed. Alaude (SP)