DEVEMOS SEGUIR O 11º. MANDAMENTO? – RABINO KALMAN PACKOUZ

Rabino Kalman Pa


Esta vida é tudo o que existe ou há algo além de nossa existência terrena? Faz alguma diferença o que fazemos nesta vida ou pode-se fazer tudo o que se deseja e apenas obedecer ao “11º Mandamento” (não seja pego!)?

A Torá nos ensina que somos mais do que apenas um corpo. “E o Todo Poderoso formou o homem do pó da terra e soprou em suas narinas a alma da vida (Gênesis 2:7)”. Neste versículo, o Zohar – o livro básico da Cabalá – afirma que “aquele que sopra, sopra de dentro de si”, indicando que a alma é na verdade parte da essência de D’us. D’us é eterno e, por conseguinte, a alma é eterna. O rei Salomão escreveu: “O pó retornará à terra como era, e o espírito voltará a D’us que o deu” (Eclesiastes 12:17).

Intuitivamente nós sabemos disso. Toda espécie age exclusivamente visando a sua sobrevivência – a não ser os seres humanos. Nós nos sacrificamos para salvar alguém ou por um ideal. As vacas podem estar contentes em ruminar o seu capim. Nós, entretanto, somos compelidos e movidos a ter um significado e propósito em nossas vidas.

O Rabino Moshe Maimônides, conhecido como Rambam (Espanha e Egito, 1135-1204), compilou os 13 Princípios Básicos do Judaísmo. O décimo e o décimo primeiro princípios declaram que D’us sabe de todas nossas ações e que Ele recompensa e pune conforme nossas atitudes. Uma vez que não enxergamos o mal ser sempre punido ou o bem ser sempre recompensado, é lógico que – se existe um D’us bom e justo – deve existir um Mundo de Almas, uma vida após a vida, que seja o grande equalizador. Lá, o mal que não foi punido neste mundo é castigado e os bons atos que não foram recompensados são sim premiados.

Existem alusões à vida após a vida na Torá, embora não explicitamente escritas ou declaradas (o Talmud, no Tratado Sanedrin, capítulo 10, discute o assunto ‘vida após a vida’). Quando o Patriarca Yaacov (Jacob) faleceu, a Torá relata: “… ele morreu e uniu-se ao seu Povo (Gênesis 49:33)”. A Torá então nos informa que os egípcios ficaram de luto por Yaacov por 70 dias antes que seu filho, Yossêf (José) recebesse permissão para enterrar seu pai na Caverna Machpelá, em Hebron, Israel. O que a Torá quis dizer com “ele uniu-se ao seu Povo?” A resposta é que esta é uma referência a que sua alma foi levada para uma vida após a vida.

Mais adiante, no livro de Bamidbár (Números), a Torá relata a história de Bilaam, o diabólico profeta que foi contratado pelo rei Balak para amaldiçoar o Povo de Israel. Em meio à história, Bilaam manifesta-se da seguinte maneira: “Permita-me morrer a morte dos justos e que meu fim seja como o deles (os Judeus justos) (Números 23:10)”. Será que os justos morrem melhor do que os perversos? Na verdade Bilaam estava querendo dizer o seguinte: “D’us, deixe-me viver minha vida nos meus termos e segundo os meus próprios desejos, mas quando chegar para a vida após a vida, permita que minha alma seja recompensada como os justos são recompensados”.

Creio que estas duas alusões são válidas, mas não emocionalmente convincentes. Se a vida após a vida é uma parte tão essencial da fé Judaica, por que a Torá a aborda de uma maneira indireta? A Torá poderia ter descrito o Mundo Vindouro em detalhes, mas preferiu não fazê-lo. Por que?

Por dois motivos:

1) A Torá é um livro de instruções para ESTA vida. Ela estabelece instruções sobre como vivermos uma vida sagrada, elevada e cheia de significado, e como melhorarmos a nós e ao mundo em que vivemos. O Todo-Poderoso deseja que foquemos nossos esforços em nossas obrigações NESTA vida. A vida após a vida irá se manifestar por si só.

2) Mesmo se a Torá descrevesse detalhadamente a vida após a vida, como alguém poderia verificar sua existência? Ninguém jamais retornou do Mundo Vindouro para confirmar ou negar qualquer coisa.

Muitas pessoas e seitas fazem um retrato da vida após a vida. O Talmud nos ensina: “Aquele que quer mentir diz que suas testemunhas estão em algum lugar longínquo”. Por exemplo: Uma pessoa vai a um juiz alegando que fulano está lhe devendo uma enorme quantia de dinheiro. O fulano é intimado e fala o seguinte para o juiz: “Já lhe devolvi o dinheiro, mas acontece que, por acaso, minhas testemunhas estão viajando pela Europa”. É como alguém dizer: “Tenha fé em mim e você ganhará o paraíso”. Em ambos os casos, não há maneira de validar o que foi alegado.

Apesar de o Judaísmo crer na vida após a vida, um Mundo Vindouro, a Torá não faz nenhuma promessa ‘longínqua’. A Torá nos conta sobre as recompensas e punições NESTE mundo, em resposta às nossas ações e atitudes. Na verdade não precisamos ir mais longe do que o que está escrito nesta porção semanal da Torá: “Se vocês seguirem Meus decretos e cumprirem Meus mandamentos, Eu lhes proverei chuvas no momento certo, a terra dará sua produção e as árvores darão seus frutos… e comerão pão até se saciar e morarão em segurança em sua terra. Garantirei paz em sua terra e vocês poderão dormir tranqüilos… Farei vocês florescerem e se multiplicarem… (Vaikrá 26:3-9)”

Por que a recompensa e a punição são tão importantes para nós? O Rabino Yaacov Weinberg (EUA, 1923-1999), em seu livro ‘Fundamentals and Faith’, nos responde: “Um mundo sem recompensa ou punição é um mundo de absoluta indiferença, e a indiferença é a maior demonstração possível de rejeição. Uma pessoa não pode viver com indiferença. Para que haja um relacionamento entre D’us e o homem, D’us precisa reagir às ações do homem. Nosso reconhecimento desta reação (através de recompensas ou punições) nos informa que o Todo-Poderoso se importa conosco e que nossas atitudes realmente fazem diferença para Ele. Sem recompensa e punição a vida não tem significado e também é injusta, pois o que a pessoa faz ou deixa de fazer não fará nenhuma diferença!”


Pensamento: “A adversidade não só constrói, mas também revela o caráter!”


OS 48 CAMINHOS PARA A SABEDORIA

O Rabino Noah Weinberg Z”TL, antigo diretor das Organizações Aish Hatorá, escreveu o excelente “48 Caminhos para a Sabedoria” (’48 Ways to Wisdom’, disponível em www.aish.com/spirituality/48ways ), com enfoques sábios e precisos para como nos aperfeiçoarmos e termos uma vida produtiva e extremamente feliz. Este trabalho está sendo agora traduzido para o português. Vale muito a pena lê-lo! Peça o seu pelo email meor18@hotmail.com .


RABINO KALMAN PACKOUZ – Da Aish Há Torá, é o criador do Meór Hashabat, boletim semanal com prédicas. Saiba mais.

NOTA: – Desejando contribuir para o Meor Hashabat acesse o www.aishdonate.com – Email – meor18@hotmail.com

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