UM VISLUMBRE ATRAVÉS DO VÉU – DR. TALI LOEWENTHAL

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O propósito da existência é o de construirmos uma moradia para a Shechinah, a Presença Divina, em nosso mundo físico.

A vida pode parecer muito confusa. A luta para passarmos de um estágio ao próximo, mesmo de um dia para o outro, pode parecer sem sentido. A perspectiva da Torá é a de que existe de fato um profundo e maravilhoso significado em cada passo de nossas vidas; mas aquele sentimento de significado está freqüentemente oculto. Está velado, coberto, como uma nova e excitante invenção escondida por um grande véu esvoaçante em sua primeira aparição pública. A multidão aguarda, sentindo a expectativa. Os jornalistas estão prontos com suas câmeras a postos. Então, o véu é arrancado, e se ouve um suspiro involuntário da multidão…

A abertura do mar foi algo assim, e mais. Por um lado, foi uma impressionante expressão do poder de D’us. Mais do que qualquer uma das Dez Pragas, isto mostrou que D’us é o senhor da natureza e que Ele pode erradicar o mau completamente. Após a destruição do exército egípcio no mar, a ameaça do Egito desapareceu completamente. Por vários séculos, os judeus não tiveram de se preocupar com o Egito como uma força política.

Outro aspecto da abertura do mar é o de que ela revelou o Infinitude da Divindade para todos os indivíduos. Os Sábios nos dizem que a mais simples pessoa presente na abertura do mar teve visões mais profundas que os maiores Profetas de antigamente [1].

O mar representa o mundo daquilo que está oculto, já que as águas escondem tudo que está abaixo das ondas. A abertura do mar, e a revelação da terra seca sobre a qual os judeus puderam andar, expressa a idéia de que os mundos ocultos se tornam, de uma certa forma, revelados e acessíveis. Vivenciar este evento teve um tremendo efeito em cada indivíduo e os preparou para a maior experiência de todos os tempos: a entrega da Torá no Monte Sinai que aconteceu seis semanas depois. A Torá vem de uma ocultação interior de D’us. No Sinai, a ocultação de D’us se tornou acessível a todo homem e mulher, unindo-os como judeus como um grupo e com D’us, através das gerações. A abertura do mar foi uma preparação para isto [2].

Uma vez que aquele tipo de experiência tenha acontecido, a pessoa sabe que existe sentido, beleza e santidade. O fato de este significado e esta beleza estarem ocultos neste momento por um véu, um pano, ou uma pilha de pedras, não importa. Nós sabemos que nossa tarefa é seguir adiante, passo a passo.

A luta que pode estar envolvida neste mesmo esforço tem um significado. Isto foi explicado pelo sexto Lubavitcher Rebbe, Rabbi Yosef Yitzhak Schneersohn, em um admirável tratado denominado Bati LeGani, “Eu Vim para o Meu Jardim”. O propósito da existência é o de construirmos uma moradia para a Shechinah, a Presença Divina, em nosso mundo físico. Isto começou a ser feito na época de Adão e Eva no Jardim do Éden, mas, devido ao seu pecado, a Shechinah se retirou do mundo. A tarefa do Povo Judeu é a de trazer a Shechinah de volta, através de nossas vidas cotidianas no cumprimento dos ensinamentos da Torá.

Às vezes isto pode parecer muito difícil. Mas, uma das profundas qualidades dentro de nossas personalidades é Netzach, a determinação e a decisão de alcançar a vitória. O Rabbi Yosef Yitzhak nos diz que quando lutamos por algo bom com todas as nossas forças, nós progredimos a um sentimento exaltado da revelação da Divindade [3]. Esta é a ajuda Divina que nos é concedida para que possamos seguir adiante em direção à Redenção, quando, como na Entrega da Torá e na Abertura do Mar, o véu será finalmente retirado e, para toda a humanidade, a beleza, a bondade e a santidade infinitas serão reveladas.

Referências:

1. Rashi sobre Shemot 15:2.

2. Ver Sha’ar HaEmunah do Rabbi Dov Ber, o Mitteler Rebbe cap. 55.

3. Ver Bati LeGani cap. 19.


DR. TALI LOEWENTHAL – Diretor do Chabad Research Unit, Londres

Tradutor: Moishe (a.k.a. Maurício) Klajnberg