COMPETITIVIDADE É O NOME DO JOGO – JOSEF BARAT

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Num mundo em que a produção e o consumo são globalizados, o nome do jogo é Competitividade. E como um país torna a sua produção competitiva? O fator crucial chama-se Produtividade, que significa tirar dos fatores de produção o melhor rendimento por unidade aplicada. Ou seja, ao entrar no jogo, o objetivo é produzir mais e melhor ao menor custo. Assim, os fatores de produção Capital, Recursos Naturais e Recursos Humanos devem se combinar da forma mais eficiente a um dado nível de desenvolvimento tecnológico. Como a tecnologia permeia as funções de produção e como a sua evolução tem uma dinâmica cada vez mais veloz, se o uso dos fatores de produção não a acompanha, compromete-se o potencial de desenvolvimento.

As vantagens competitivas de um país dependem, portanto, da disponibilidade dos fatores de produção, associada à capacidade de inovação por meio de novas tecnologias. Em países ou regiões menos desenvolvidos, o capital é o fator escasso, os recursos humanos são abundantes – porém com baixo nível de qualificação – e os recursos naturais podem ou não representar um ativo relevante. A natureza pode não ser favorável, mas com alta qualificação de seus habitantes e capacidade inovadora pode-se atingir altos níveis de renda. Assim, por exemplo, a Coréia do Sul, país pobre em recursos naturais e com população pouco maior, gera o dobro do PIB da Argentina, país abençoado pela natureza e um povo razoavelmente culto. Acontece que, para a Coréia, produtividade, inovação, qualificação do fator humano e alto desempenho das infraestuturas fazem parte do seu perfil competitivo.

E o Brasil como se sai neste jogo? Na partida temos três vantagens importantes: extensão continental, amplo mercado consumidor e uma natureza ainda pródiga, apesar de séculos de ocupação predatória, desmatamentos e poluição das águas. Dá para se sair bem no agronegócio e em alguns segmentos industriais, pela incorporação de tecnologias avançadas e uma reconhecida capacidade empresarial. Mas ao longo do jogo, constata-se a dificuldade na chegada, pois as infraestruturas necessárias para dar suporte ao desenvolvimento são obsoletas, insuficientes ou degradadas. Os recursos humanos qualificados são escassos, enquanto os sem qualificação são abundantes e não atendem os requisitos de uma economia moderna. É muito baixa a capacidade de inovar e gerar conhecimento, pela escassez de centros de pesquisa e universidades de relevo.

Por outro lado, a capacidade empresarial, embora potente, depara-se permanentemente com grandes obstáculos: carga tributária irracional e extorsiva; escassez de mão de obra adequada; inflação que distorce custos; insegurança jurídica e assédio de agentes públicos corruptos. Como quem gera a riqueza de um país é o trabalho e o empreendedorismo, a nossa participação no jogo da competitividade já fica comprometida antes de vislumbrar o final. A preservação da indigência educacional – que avilta o trabalhador – e do sistema tributário – que inibe o empreendedor – reduzem consideravelmente as vantagens iniciais apontadas na entrada do jogo. Os níveis de produtividade da atividade econômica são muito baixos, salvo as honrosas exceções de praxe. É difícil reverter esse quadro a curto e médio prazo, principalmente quando o país se deixa levar apenas pelo oportunismo de novas dependências e por políticas públicas imediatistas, sem visão estratégica.

O mais grave, por fim, é o inevitável declínio da credibilidade do país, associado a esse quadro. Num momento em que precisamos de investimentos, qualquer investidor olha com desconfiança um país onde se vislumbra descontrole das contas públicas; inflação ficando fora de controle; tribunais onde a justiça tarda, falha e gera insegurança; um Congresso incapaz de se debruçar sobre as grandes questões; além de um mal estar social pairando no ar. É muita areia para este caminhão chamado Brasil, obsoleto, vacilante, sem rumo e já dando mostras de fadiga do material…


*Josef Barat – Economista, Consultor de entidades públicas e privadas, é Coordenador do Núcleo de Estudos Urbanos da Associação Comercial de São Paulo.

Nota – Matéria publicada no O Estado de São Paulo – Economia e Negócios