QUAL O RISCO DO ISIS PARA ISRAEL? – POR GUGA CHACRA*
O ISIS (Estado Islâmico do Iraque e da Síria) é o mais radical grupo extremista islâmico da história moderna da humanidade a ponto de a Al Qaeda parecer moderada perto dele. Se os seguidores de Bin Laden se explodem, os do ISIS, que seguem uma vertente ultra radical do braço sunita do islamismo, castram e matam xiitas, estupram mulheres alauítas, crucificam cristãos e trucidam até mesmo sunitas moderados. Colecionam inimigos que incluem os EUA, Irã, Hezbollah, governo do Iraque e o regime de Bashar al Assad na Síria. Seus membros nasceram nos subúrbios das grandes cidades europeias, na Ásia Central, em áreas da ex-União Soviética em diferentes pontos do mundo árabe sunita, como a Líbia ou Iêmen.
Para complicar, há uma enorme chance de o ISIS chegar à fronteira de Israel, se isso já não começou a acontecer, com o risco de lançamento de mísseis. Embora não tenha capacidade de enviar membros para dentro do território israelense ou palestino, esta organização ultra radical possui capacidade de recrutar membros na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. Nesta semana, o ISIS fez uma parada na Síria carregando mísseis que serão direcionados para Israel.
Síria e Líbano
Para conter o avanço nas suas fronteiras, Israel precisará trabalhar em coordenação com seus inimigos, ainda que de forma indireta. Mais ou menos como o Irã e os EUA no Iraque. Bashar al Assad, na Síria, e o Hezbollah, no Líbano, por mais inimigos que sejam de Israel, eles são ainda mais inimigos do ISIS. O regime sírio e o grupo libanês são os únicos capazes de manter o ISIS longe das Colinas do Golã e do sul do Líbano. Você teme o Hezbollah? Lembre que o grupo xiita é aliado de partidos cristãos em Beirute e tem uma série de investimentos no país.
Agora, imagine o ISIS, que crucifica cristãos e não tem nada a perder na fronteira com Israel? Por enquanto, Hezbollah e as Forças Armadas Libanesas têm trabalhado firme para conter o ISIS como vimos em recentes prisões em hotéis na Hamra (áreas de Beirute), mas a capital libanesa foi alvo de atentados do ISIS ou da rival e não menos sanguinária Frente Nusrah, ligada à Al Qaeda, contra áreas xiitas do país no passado.
Jordânia e Egito
No caso da Jordânia, o risco também é grande. O ISIS já controla as fronteiras do Iraque com o território jordaniano. Diferentemente de Assad na Síria, o rei Abdullah não conta com a ajuda do Irã, do Hezbollah e da Rússia para lutar contra o ISIS. Seu Exército é bem armado, mas talvez necessite de ajuda de Israel e dos EUA para se defender. Isso, de uma certa forma, já começou, mas precisa ser intensificado claro, sem chamar a atenção pois poderia haver o efeito adverso e aumentar a insatisfação com o monarca.
No Egito, o cenário melhorou um pouco com a chegada de Sissi ao poder. Embora seja mais um ditador autocrático de óculos escuros no Egito, ele diz estar comprometido em combater o terrorismo. Mas o Sinai ainda é uma área de crescimento do radicalismo e com possível penetração do ISIS. Sissi perde tempo prendendo membros civis e inocentes da Irmandade em vez de se focar nos terroristas ligados ao ISIS e Frente Nusrah (ambos inimigos também da Irmandade).
Cisjordânia e Gaza
Nas áreas palestinas, Israel precisará usar todos os seus serviços de inteligência e contar com a ajuda da Autoridade Palestina, também ameaçada pelo ISIS. Por mais bizarro que possa parecer, talvez precise de apoio indireto do Hamas que não quer um rival entre extremistas o Hamas, inclusive, é um dos responsáveis para evitar o crescimento da Al Qaeda nas áreas palestinas.
O risco para Israel e para o Oriente Médio todo é o ISIS neste momento. E, nesta guerra, os israelenses talvez precisem da ajuda de seus antigos inimigos Assad, Irã e Hezbollah e de ditaduras como a do marechal Sissi e do rei Abdullah. O status quo anti é melhor do que o status quo que está por vir.
*GUGA CHACRA – É mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia, é comentarista internacional da Globo News e do Grupo Estado. No passado, foi correspondente do Estadão no Oriente Médio e em Nova York e da Folha de S. Paulo em Buenos Aires. É um dos raros jornalistas brasileiros a ter entrevistado Bashar al Assad.
NOTA – artigo publicado na Rua Judaica.