SHEMINÍ – RABINO RUBEN STERNSCHEIN

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Todos temos uma imagem que vendemos para fora. Na rua, na sociedade, no trabalho, na comunidade, nas redes sociais. Todos recebemos uma imagem muitas vezes bastante parcial da pessoas que dizemos conhecer. Em todos existe um gap entre a essência, a verdade interior, e a imagem que se transmite e se recebe.


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Conta um relato tradicional antigo que um homem se encontrava perdido na floresta quando viu um ser estranho se aproximando. Tentou fugir andando para trás e deu de costas contra uma árvore. Invadido pelo medo fechou os olhos e se entregou ao monstro que se aproximava. Quando sentiu que ele estava muito perto, abriu os olhos novamente e viu que se tratava de um homem como ele próprio. E ao vê-lo mais de perto ainda, percebeu que era, nada mais, nada menos, que seu próprio irmão.

Reis se viam na antiguidade apenas uma vez por ano, ou talvez uma vez na vida. Mesmo assim eram venerados e admirados quase como deuses. Talvez justamente por isso, pela falta de proximidade. Conseguiam, assim, ocultar seus erros, fraquezas e misérias, mas também sua humanidade.

Também as grandes figuras de nosso tempo ganham mais glamour quanto mais distantes conseguem manter do público sua verdadeira humanidade. Presidentes, artistas, modelos e atletas são admirados justamente na medida em que suas imagens extremamente parciais e produzidas são a única coisa que recebemos deles.

Mas não apenas eles. Todos temos uma imagem que vendemos para fora. Na rua, na sociedade, no trabalho, na comunidade, nas redes sociais. Todos recebemos uma imagem muitas vezes bastante parcial da pessoas que dizemos conhecer. Em todos existe um gap entre a essência, a verdade interior, e a imagem que se transmite e se recebe.

Na parashá da semana, os filhos de Aarão são mortos repentina, trágica e misteriosamente após realizarem um ritual público que excedia o que era praticado usualmente.

Entre os comentários dos sábios sobre o trecho, destacam-se os que falam deles terem querido impressionar o público mas sem consultar sua sensibilidade e sua vontade. O ato incluiria dois erros: agir principalmente para impressionar e não com autenticidade nem com objetividade – nem nas intenções, nem nos conteúdos; e não levar em conta os outros em si mesmos. Ou seja: a superficialidade e o imediatismo, tanto na autoimagem quanto na imagem dos outros. Tanto no que ofereceram para fora, quanto no que guardavam dentro. De si e dos outros.

Quando Moisés vem consolar Aarão, diz: Deus disse “bikrovai ekadesh”, me santificarei na proximidade.

Que possamos santificar tudo e a todos dentro e fora de nós através do contato verdadeiro com o mais próximo e interno.

Shalom.


RABINO RUBEN STERNSCHEIN – Rabino da Congregação Israelita Paulista desde janeiro de 2008, Ruben Sternschein é bacharel em Educação e mestre em Filosofia Judaica pela Universidade Hebraica de Jerusalém, onde completou os estudos de doutorado em Filosofia Judaica e está prestes a entregar sua tese final. Foi ordenado rabino no Hebrew Union College, onde também obteve seu mestrado em Ciências Judaicas. Dirigiu a “Mikra-Net”, uma rede inter-universitária de estudos judaicos da qual também foi docente. Dissertou em mais de dez universidades, dirigiu o programa de formação de liderança educativa juvenil, foi bolsista premiado de prestigiosas fundações acadêmicas e educativas e se graduou também no programa de direção e liderança superior do Mandel Institute. Fundou e dirigiu a comunidade judaica liberal de Barcelona, exerceu o rabinato em Jerusalém e foi selecionado como representante judaico para o grupo inter-religioso da UNESCO que elaborou o documento: Uma Ética Universal.


Fonte: www.cip.org.br

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