DESDOBRAMENTOS DO “MULHERES DO POT”–POR SHEILA MANN

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O projeto Mulheres do POT parte do POT-Peace On the Table  é um grupo de mulheres judias, mulheres árabes muçulmanas e árabes cristãs, que não pára de crescer e de fazer sucesso!

A grande questão é não deixar importar o conflito do Oriente Médio para cá, mostrar que aqui é possível conviver na paz entre os diferentes. Afinal, todos nós somos imigrantes que foram acolhidos nesse imenso e lindo país. Sempre podemos sonhar!


 O projeto “Mulheres do POT” – parte do “POT- Peace On the Table” – é um grupo de mulheres judias, mulheres árabes muçulmanas e árabes cristãs, que não pára de crescer e de fazer sucesso! Quanto mais falo a respeito, mais mulheres querem aderir e participar. Engraçado, esse projeto que começou em 2013 e no seu início mereceu críticas desdenhosas e relutância, hoje tem encantado a maioria pela proposta simples e despretensiosa.

A ideia de juntar mulheres pra confraternizar e criar laços de amizade, conhecer o “outro lado”, superando as diferenças sejam elas étnicas, religiosas ou políticas, tem tido uma repercussão grande, por não ter nenhum a priori. Não se exige nada, por enquanto não tem nenhum pré-requisito para participar, além de pertencer à essas duas comunidades, a judaica e a árabe. Digo por enquanto, porque esse trabalho pode ser abraçado por qualquer grupo q esteja em conflito por algum motivo. Reconhecer o direito do outro a uma opinião diferente da minha , respeitando-a, possibilita uma convivência pacífica com o outro. E por que o POT? Porque a confraternização acontece através da culinária, que é um viés cultural. A nossa necessidade de comer nos coloca no mesmo patamar do outro como ser humano. Fácil, não? Convide o seu desafeto para uma refeição, tente não abordar questões polêmicas, fale de assuntos de interesse comum , isso vai criar uma aproximação através do afeto, do respeito ao outro nas suas diferenças. Não tente impor o SEU ponto de vista, aceite que o outro pode e tem direito de pensar diferente de você, coloque-se no lugar dele naquela questão polêmica, e veja se você agiria diferentemente dele naquela mesma situação. Mandela dizia : “Precisamos nos elevar acima das nossas pequenas disputas, e enxergar tudo a longo prazo”.

O mês de abril foi um mês bem agitado para o”Mulheres do POT”. Primeiro tivemos o nosso almoço mensal, desta vez na casa da amiga Esther Schattan, em São Paulo, que recebeu o grupo com novas integrantes, para um almoço maravilhoso. Desta vez, acolhemos o Raul Meyer e o Sheik Houssam Al Boustani para um bate-papo sobre “As mulheres nas três religiões monoteístas”, que falaram respectivamente sobre a religião judaica e a religião muçulmana, faltando somente o padre convidado para falar das mulheres no cristianismo, e que teve que cancelar a sua vinda em cima da hora.

Ainda no mês de abril, tive a felicidade de começar mais um grupo “Mulheres do POT” no Rio de Janeiro, graças à colaboração da amiga Patrícia Tolmasquim, sempre presente em todos os encontros. Junto com uma amiga dela de longa data, a Elisabeth Chreem, que abriu sua casa para acolher esse evento, demos início ao novo grupo que contou com mulheres judias, duas mulheres muçulmanas xiitas e uma alauita. O encontro, apadrinhado pelo embaixador de Israel, Reda Mansour, ele próprio, druso, foi um grande sucesso e mais pessoas estão aderindo a esse grupo no Rio. Quem sabe, essa ideia não poderia ser levada para as várias comunidades tanto judaicas quanto árabes em todo o Brasil e se tornar um movimento?

A grande questão é não deixar importar o conflito do Oriente Médio para cá, mostrar que aqui é possível conviver na paz entre os diferentes. Afinal, todos nós somos imigrantes que foram acolhidos nesse imenso e lindo país. Sempre podemos sonhar! E por que não sonhar de exportar esse modelo de convivência para outros países? Por que não quebrar paradigmas, superando preconceitos?

No dia 26 de abril, fui convidada pela Clara Ant, assessora do ex- presidente Lula, para assistir a uma palestra no Instituto Lula, devido ao meu trabalho de aproximação entre mulheres de várias religiões. A palestra foi dada por dois convidados que vieram de Israel e Palestina. São eles: Yitzhak Frankenthal, israelense ortodoxo que perdeu um filho num atentado do grupo Hamas, e Nabil Sweety, palestino, morador de Jerusalém Oriental, que perdeu uma irmã num conflito com o exército israelense. Os dois entenderam que a dor do outro é igual à sua e que não dá pra continuar culpando o outro pela sua desgraça.

Para eles, seus entes queridos faleceram por causa da falta de solução para o conflito e eles resolveram dedicar as suas vidas a trabalhar pela paz, mudando o paradigma de como os dois povos envolvidos, o israelense e o palestino, pensam um do outro. A mudança se dá através de um experimento cognitivo: ficou claro para eles que tanto os israelenses quanto os palestinos são levados pelo emoção e não pelo razão. Já aplicaram essa metodologia com um número restrito de israelenses e de palestinos e tiveram ótimos resultados, o que os animou a ampliar agora o alcance do seu trabalho. Eles disseram que não têm a pretensão de alcançar a paz, isso eles deixam para os políticos, mas o que eles pretendem fazer é mudar o olhar do cidadão israelense comum, que está cansado dos conflitos e almeja a paz, mas na hora de votar, vota de novo no mesmo dirigente por MEDO. Eles querem mudar esse olhar, através da educação e da aproximação entre as partes envolvidas: “Humanizando as pessoas”!

Encontro em São Paulo

240_sabores_1_2Esther Schattan, Sheila Mann e Helena Gerenstadt

240_sabores_1_3Patricia Tolmasquim, Mariana Gottfried, Sheila Mann e Denise Milan

240_sabores_1_4Katy Borger e Ester Tarandach

240_sabores_1_5Sheila Mann e Camilla Schahin

240_sabores_1_6 Yael Steiner e Raul Meyer

240_sabores_1_7Esther Tarandach, Patricia Tolmasquim e Icbal Yamout

240_sabores_1_8Sheikh Houssam Al Boustani e Raul Meyer

240_sabores_1_9Sheila Mann rodeada pelos participantes do almoço chez Esther Schattan

240_sabores_1_10A requintada mesa do almoço

Encontro no Rio de Janeiro

240_sabores_1_11Karina Arroyo e Marta Almeyda

240_sabores_1_12Elisabeth Chreem, embaixador Reda Mansour e Patricia Tolmasquim

240_sabores_1_13Rachel Chreem, embaixador Reda Mansour e Elisabeth Chreem

240_sabores_1_14Sheila Mann e o embaixador Reda Mansour

240_sabores_1_15Muna Omran

240_sabores_1_16Todo o grupo que participou do encontro no RJ

240_sabores_1_17Mesa de dar água na boca


SOBRE SHEILA MANN

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Sheila Mann é judia, formada em artes plásticas, nascida no Líbano e crescida em Israel. Ela é conhecedora das culturas árabe e judaica com fluência em ambas as línguas, o que a torna ainda mais próxima das duas comunidades. A artista chegou ao Brasil, com 18 anos, casada e grávida de gêmeas. A dura fase de adaptação a nova cultura e aos filhos logo foi superada com a decisão de voltar a estudar. Inscreveu-se no curso de literatura da Aliança Francesa, para não perder a fluência no idioma adquirido em sua escola primária no Líbano, e também resolveu estudar artes plásticas.

Sheila Mann criou o POT – Peace On The Table, projeto que propõe unir os povos através da culinária e que hoje se tornou a sua grande razão de viver, e com essa proposta, se tornou uma ativista pela paz, principalmente entre árabes e judeus – ela formou um grupo de mulheres judias e mulheres árabes que se reúnem para compartilhar experiências e fortalecer laços de amizade.

No ano passado Sheila lançou um livro de memórias e culinária e atualmente dá aulas de culinária libanesa na sua própria escola, em São Paulo, além de palestras sobre o seu trabalho.

sheila@peaceonthetable.org

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