COMPARTILHANDO O GÊNIO, JACQUES ATTALI – POR JAYME VITA ROSO
Pouco conhecido no Brasil, mas celebrado no mundo judaico-europeu, sobre ele já escrevi um ensaio que fez parte do livro Carrefour[1] e o intitulei com o que tinha em mente: “Jacques Attali, síntese do talento judaico”.
Desta vez quero compartilhar com os fiéis leitores da insuperável Glorinha Cohen, um pouco da biografia, da contribuição intelectual e das ideias de um personagem pouco conhecido no Brasil, mas no mundo judaico-europeu é celebrado: Jacques Attali.
Sobre ele já escrevi um ensaio que fez parte do livro Carrefour[2] e o intitulei com o que tinha em mente sobre ele: “Jacques Attali, síntese do talento judaico”.
Tomei contato com ele ainda jovem, iniciando sua carreira de licenciatura em Paris. E não posso deixar de transcrever o texto introdutório do livro:
“Desde 1975, venho seguindo a trajetória de Jacques Attali. Conheci-o quando escreveu L’anti-économique junto com Marc Guillaume, publicado em 1974 (1ª edição), alcançou no ano seguinte sua 3ª edição. Na oportunidade, era Auditor no Conselho do Estado e Mestre Conferencista na Escola Politécnica, instituição onde o co-autor desempenhava a mesma função. Qual atração que me levou a comprá-lo? Foram várias. Procuro sintetizá-las: este participa de uma série de trabalhos com o nome “Economia em Liberdade”, publicados pelas Presses Universitaires de France, da qual o terceiro foi o livro de Attali e Guillaume. A proposta dessa coleção era considerar a economia num regime de liberdade, construída com a finalidade de opor-se aos dogmatismos e confrontar o estado da economia na época com os problemas concretos e cotidianos, voltada ao desenvolvimento, adotando uma forma simples, crítica, aberta e original.
Esses ideários eram fascinantes, pois, pela simplicidade, que não excluía o rigor científico, procurava-se evitar deliberadamente as complicações secundárias e as formalidades que encobrem a análise econômica. É, antes de tudo, uma ciência política que se mescla frequentemente com uma justificativa implícita do estado social existente; aberta, para voltar-se a outras ciências sociais (psicologia, psicanálise, sociologia, ciência política), cujos principais resultados seriam tomados em conta na análise econômica e original, porque, na apresentação gráfica, a existência de desenhos nela inseridos demonstra que o humor é também um instrumento a ser analisado nesse ambiente e que a ciência econômica não é obrigatoriamente austera.
O substrato básico da coleção “Economia em Liberdade”, consensualmente aceito por todos os que aderiram àquela filosofia e se comprometeram, escrevendo livros, tinha por finalidade provocar no leitor reflexão e ajudar cada um a melhor compreender a sociedade em que vive e servir também como uma pedagogia da liberdade.
Na sequência, L’anti-économique pela influência que me causou na revisão de conceitos econômicos, sobretudo também, porque a apresentação dentro da série “Economia em Liberdade” estava voltada à abertura a outras ciências sociais, trazendo à discussão o valor do conhecimento multidisciplinar para a economia. ”
Na oportunidade, pesquisei seus dados biográficos relevantes e os coloquei na biografia até o ano de 2010. Desde então, ele já publicou muitos outros livros. Quero volver-me nesta oportunidade a uma obra sua, recém-publicada na França (em outubro de 2015) e que alcança o palmares entre as mais vendidas. Essa obra, intitulada “Peut-on prévoir l’avenir?”, na verdade continua na mesma linha da de 2006, “Une brève histoire de l’avenir”. E hoje seria incompleta essa minha breve incursão se, com Attali, não esclarecesse os títulos, tarefa necessária porque, em francês, alguns linguistas diferenciam as palavras futur e avenir.
Em recente entrevista bem explicativa na revista L’Express[3], da qual ele é colaborador permanente (na última página de cada edição, intitulada Perspectivas), Attali dá sua opinião sobre essa distinção:
“L’Express: Qual a diferença entre futur e avenir?
Attali: Para mim, não há diferença nenhuma, mas há uma outra diferença entre “predizer”, na qual se tenta perceber o que vai se passar sem poder fazer nada e “prever”, que significa que ser quer compreender no “avenir” (futuro, significando posteridade e “daqui para frente”) e agir nele (nas previsões) ”.
Nesta entrevista Attali não se mostra muito otimista e joga bastante com fatos hoje ocorrentes e que retornam na História, bem como o mundo se apresenta em função da tecnologia e seus efeitos sore os homens e a sociedade em geral.
Relevante à sua resposta a esta pergunta, na mesma entrevista:
“L’Express: O judaísmo também condena a previsão, por que?
Attali: Ele diz que somos livres, que o futuro não está escrito, isto se opondo às religiões que aceitam a predição que estiveram em voga no Egito e na Mesopotâmia, assim como as crenças dos gregos, nas quais os homens são brinquedos dos deuses. Mas se ele, o judaísmo, condena a predição, não repele a previsão, mesmo quando ela tem seus extremos. ”
De longa entrevista merece que este artigo seja encerrado com a resposta à pergunta:
“L’Express: Você tem sonhos premonitórios?
Attali: Sim, isso me ocorre. Eu assim chamo as construções que são feitas nos sonhos e que não acontecem na razão, com o despertar. Isto é uma total liberdade do pensamento. As metamorfoses dos pensamentos interpretados pela psicanálise são, para mim, critérios da realidade e não de caráter premonitório. Mas um sonho realista, forjado por um cérebro liberado das censuras do despertar, é precioso, eu o conservo e o utilizo. Também sou atento aos sonhos retrospectivamente premonitórios quando sonhamos ter fracassado no bacharelado (escola secundária), mesmo que isso tenho acontecido há muito tempo. Revela nossos medos passados, é o “livro negro” que nos purifica. ”
Em suma, todos os que, através desta modesta contribuição, tiverem interesse em se aprofundar sobre esse personagem especificamente que teve já homenagens tanto no Louvre como nos Museus Reais da Bélgica, pode consultar, com proveito, o site (em francês): www.attali.com.
JAYME VITA ROSO – Graduado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, é especialista em leis antitruste e consultor jurídico de fama internacional, ecologista reconhecido e premiado, “Professor Honorário” da Universidade Inca Garcilaso de La Vega de Lima, Peru e autor de vários livros jurídicos. Saiba mais.